tag:blogger.com,1999:blog-60306829699181496822024-03-06T01:38:17.712-03:00mnursMovimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.comBlogger321125tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-1766237248761191412024-01-26T13:08:00.000-03:002024-01-26T13:08:59.089-03:00AQUALTUNESua vida começa no continente africano, no Congo, no século XVI.
Após ser derrotada em uma batalha, Aqualtune foi vendida como escrava e trazida para o Brasil, mas fugiu e ajudou a fortalecer o que se tornou o Quilombo dos Palmares, cujo último líder foi seu neto, Zumbi
Aqualtune foi uma princesa africana, filha do rei do Congo. No final do século XVI, sua nação foi invadida por um grupo de mercenários e, apesar de Aqualtune comandar um grupo de cerca de 10 mil homens e mulheres contra os invasores, seu povo foi derrotado.
Com a derrota, seu pai foi decapitado, a princesa foi capturada por forças portuguesas e levada para um mercado de escravos junto com seus compatriotas e, de lá, foi enviada para o Brasil.
Chegou ao Recife em 1597, mesmo ano em que um grupo de 40 negros fugidos chegou à Serra da Barriga, formando o primeiro núcleo do que seria o Quilombo dos Palmares.
Uma vez no Brasil, mais específicamente no Recife, Aqualtune foi vendida como escrava reprodutora e seguiu, já grávida, para uma fazenda na região de Porto Calvo, no Estado de Alagoas. Foi nessa região que ouviu os primeiros relatos sobre um reduto de africanos livres, o que seria o Quilombo de Palmares e decidiu comandar uma fuga com destino a esse quilombo.
Com ascendência nobre e um histórico de comandar batalhas em sua terra natal, Aqualtune recebeu uma aldeia para comandar e ajudou a erguer o que seria “um império em meio à selva”, como definiu a jornalista Sandra Regina do Nascimento Santos, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e autora do livro ‘Brincando e ouvindo histórias’, parte de uma coleção do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (NEINB), da USP.
Entre os filhos de Aqualtune estão os guerreiros Gamba Zumba e Gana Zona, e Sabina, mãe de Zumbi, o último líder do Quilombo dos Palmares.
A líder quilombola e avó de Zumbi dos Palmares desapareceu dos registros históricos em 21 de setembro de 1677, quando sua cidadela foi atacada, e não se sabe quando exatamente ela morreu. Na época do ataque, ela já era idosa.
A causa de sua morte é incerta, mas seus feitos ajudaram a consolidar o Quilombo dos Palmares como refúgio dos escravos na colônia. Apesar de ser pouco lembrada pelos livros de História, Aqualtune foi uma figura muito importante para a história da população negra durante o período colonial. Ela simbolizou liderança e luta dentro do sistema escravocrata e passou isso adiante através de seus herdeiros e de seu comando no quilombo.
Fontes: Brincando e Ouvindo Histórias, coleção Percepções da Diferença: Negros e Brancos na Escola, Wikipédia.com.
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-22863841120276707302024-01-09T17:26:00.000-03:002024-01-09T17:26:10.139-03:00O charque gaúcho: escravidão e guerra - ESQUECER? JAMAISA produção do charque iniciou, em 1780, na cidade de Pelotas (RS). Introduzido pelo cearense José Pinto Martins, às margens do canal de São Gonçalo, teve sua produção sustentada pelo braço escravo. Este produto monopolizou a economia sulina, por muito tempo, gerando uma elite de estancieiros ricos que, no século 19, insurgiu-se contra o Império. Entre outras causas deste conflito bélico, conhecido como Revolução Farroupilha (1835-1845), destacam-se os altos impostos taxados sob o charque e o couro, o centralismo político do império e a sua preferência pela compra do charque platino em detrimento do produzido na “Província Gaúcha”. O charque gaúcho, durante muito tempo, havia sido o responsável pela alimentação da escravaria de outras regiões do Brasil, desde o ciclo da mineração (ouro).
por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite via Guest Post para o Portal Geledés
A produção do charque, no Uruguai, antiga Província da Cisplatina, utilizava-se de mão de obra assalariada (livre), tinha menos custos empreendedores, sendo vendido a menor preço. Desta forma, ganhou espaço no mercado brasileiro e desbancou o que era produzido pela nossa elite estancieira.
Diante de qualquer negociação, com o império, que beneficiasse a Província de São Pedro (RS), a solução foi deflagrar uma luta contra o poder central que se constituiu na mais longeva guerra, travada por uma província contra o império. Durante o desenrolar da guerra houve a proclamação da República Rio-grandense, em 11 de setembro de 1836, pelo gen. Antônio de Sousa Netto (1803-1866) após a vitória da Batalha de Seival. No dia 20 de setembro de 1835, começou o confronto: os farroupilhas invadiram, pela Ponte da Azenha, Porto Alegre, iniciando a Revolução Farroupilha que se prolongou até 1845, quando ocorreu o Acordo de Paz de Ponche Verde, encerrando o conflito bélico.
A participação do negro, durante a luta, foi destacada. O “Corpo dos Lanceiros Negros” passou para a história por sua bravura e resistência. O aceno da conquista da liberdade, após o final da guerra, transformou-os em gigantes bélicos. Infelizmente, o massacre destes bravos lanceiros, em Porongos, no dia 14 de novembro de 1844, na atual região de Pinheiro Machado, ainda, é um episódio mal elucidado pela historiografia. Afinal, os negros foram traídos ou não? Houve realmente um acordo secreto, entre o Império (Duque de Caxias) e os farroupilhas (David Canabarro), para dizimá-los, temendo uma insurreição? Para alguns historiadores, como o respeitável historiador Mário Maestri, não há dúvida quanto à traição, pois foi encontrada uma carta, cuja assinatura foi considerada verdadeira.
A traição de Porongos é tratada, por Mário Maestri, no seu livro “O Escravo Gaúcho – Resistência e Trabalho” (1993), editado pela UFRGS. De acordo com o historiador, o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul reconheceu a assinatura do Duque de Caxias (1803-1880) como autêntica. Nesta carta se encontra o seguinte trecho:
“No conflito poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda pode ser útil no futuro”.
Os defensores de David Canabarro (1796-1867) acreditam na tese de que esta carta teria sido forjada, pelos legalistas, para incriminar o líder farroupilha. A realidade é que os “Lanceiros Negros” foram o alvo principal, sendo que a maioria, destes negros, foram dizimados neste famoso “ataque surpresa”, comandado por Francisco Pedro Buarque de Abreu (1811-1891), o Moringue, enquanto todos dormiam no acampamento farroupilha.
Após a proibição do Tráfico Negreiro (1850) – Lei Euzébio de Queirós – intensificou-se um comércio interno no País, e adquirir um escravo tornou-se ainda mais caro. O escravo que era vendido, pelo seu dono, para trabalhar nas charqueadas gaúchas, sol a sol, enfrentava um verdadeiro “purgatório”, pois sofria um desgaste físico redobrado devido à irradiação do sol sobre o sal, terminando por abreviar sua existência.
O Rio Grande do Sul, Ceará e Amazonas foram províncias que libertaram seus escravos ,em 1884, antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea (1888). Infelizmente a tão sonhada liberdade não trouxe inclusão social, restando à massa de escravos libertos a pobreza, a exploração de mão de obra barata e o estigma da escravidão. O latifúndio e a mão de obra escrava foram o binômio da economia que sustentou o Brasil no período colonial e imperial.
A Independência do Brasil ocorreu, no dia 07 em setembro 1822, ou, segundo os maçons, em agosto daquele ano, porém a estrutura socioeconômica permaneceu igual: uma monarquia sustentada pelo latifúndio monocultor e escravocrata. Foram 400 anos de escravidão e exploração. Fomos a última Nação a abolir o trabalho escravo, e a última monarquia num contexto republicano que dominava o Continente Americano. De acordo com a frase constantemente reproduzida em artigos, porém sem o registro da autoria: “o Brasil era uma flor exótica nas Américas…” A partir da Lei Áurea (1888), assinada pela princesa Isabel, até a atualidade, o caminho da inclusão social tem sido árduo no que concerne o combate ao racismo, intolerância às tradições africanas; além do fator educação que colabora para a invisibilidade quando se trata da contribuição cultural do negro. Este último caso, refiro-me, infelizmente, ao desconhecimento de muitos educadores sobre o legado do negro na formação do povo brasileiro, ainda que seja obrigatória nas escolas, por lei, uma disciplina que contemple a contribuição cultural dos afrodescendentes em nosso País.
Já ocorreram avanços, mas, ainda, há um longo caminho a ser percorrido. Está presente em nosso cotidiano e sofremos os reflexos deste passado escravocrata, sob os artífices do racismo assumido ou velado. Quando velado, ele se encobre por uma pretensa “Democracia Racial”, sob o véu da hipocrisia, constituindo-se num dos piores fatores que desagregam e enfraquecem a luta pela conquista do passaporte da verdadeira cidadania. Estamos diante de um inimigo sem rosto, que atua em silêncio, como um camaleão, indo de encontro à construção de uma sociedade mais justa e fraterna e, óbvio, sem demagogia…
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite / Pesquisador e Coordenador do Setor de Imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.*.
Bibliografia
BARBOSA, Fidélis Dalcin Barbosa. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edições EST, 1995.
FAGUNDES, Antônio Augusto. Cronologia do Dêcenio Heróico: 1835 a 1845. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2008.
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Ediplat, 2006.
FREITAS, Décio. A comédia Brasileira. Porto Alegre: Sulina, 1994.
K0ÜHN, Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007.
NASCIMBENE, Luigi (1801-1873). Tentativa de Independência do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: CiaE, 2009.
PESAVENTO, Sandra J. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984.
SANTOS, Julio R. Quevedo e SANTOS, José C. Tamanquevis. Rio Grande do Sul – Aspectos da História. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997.
SAVARIS, Manoelito Carlos. Rio Grande do Sul / História e Identidade . Porto Alegre: Fundação Cultural Gaúcha – MTG, 2008.
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Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-58439544255122682602024-01-09T17:20:00.005-03:002024-01-09T17:20:50.621-03:00A ORIGEM DO CHARQUE - HISTÓRIA Nos Andes da América do Sul, na era pré-colombiana, já existia um preparo de carne desidratada. Os cortes utilizados eram de lhama ou outro gado, e chamava charqui.
No Brasil, iniciou-se no Nordeste, no fim do século 17, se intensificou com a implantação das estâncias de gado. Inicialmente, servia para a alimentação dos escravos.
A maioria dos produtores de carne bovina eram os estados de Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Com a desvalorização do rebanho durante o transporte para abate nos mercados consumidores, os produtores começaram a abater os animais e conservar a carne em sal. Gado e sal foram os negócios que renderam lucros para suas capitanias produtoras.
Porém, com a seca iniciada em 1777, que se prolongou com estiagens por dois anos, a produção de charque no nordeste se tornou inviável devido à morte dos rebanhos das fazendas, o que provocou uma crise econômica na região. Logo, o estado do Rio Grande do Sul, que naquela altura já tinha um enorme rebanho, começou a liderar a produção de carne.
No ano de 1780, em Pelotas, foi construída a primeira charqueada de que se tem registro, por José Pinto Martins, refugiado da seca cearense. Pouco depois, muitos outros estabelecimentos foram construídos, e o charque passou a ser exportado para o Nordeste.
No século 19, o charque era utilizado como alimento dos escravos da cafeicultura em todo o Brasil e nas regiões que adotavam o sistema escravista, como o Caribe. Era também utilizado pelas camadas pobres da população livre, por ser barato e dispensar refrigeração. O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil, com concorrência do Uruguai e da Argentina. Até o final do ciclo do Charque, o Rio Grande do Sul era o maior produtor de charque do Brasil.
Prof. F Silva
Fontes:
Beroldt, Leonardo; et al. (2009). Seminário Integrador I. Porto Alegre: PLAGEDER. ISBN 9788538600978. Consultado em 22 de abril de 2013
Caldeira, Jorge (1999). A nação mercantilista. ensaio sobre o Brasil. São Paulo: Editora 34. 415 páginas. ISBN 9788573261387. Consultado em 22 de abril de 2013
Willard Crompton, Samuel (2005). 100 guerras que mudaram a história. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. 250 páginas. ISBN 9788500016325
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-76219364592463769852024-01-09T13:55:00.000-03:002024-01-09T13:55:48.634-03:00LEI Nº 14.795, DE 5 DE JANEIRO DE 2024 Inscreve os Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Presidência da República
Casa Civil
Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 14.795, DE 5 DE JANEIRO DE 2024
Inscreve os Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Ficam inscritos os Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 5 de janeiro de 2024; 203o da Independência e 136o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Silvio Luiz de Almeida
Camilo Sobreira de Santana
Anielle Francisco da Silva
Este texto não substitui o publicado no DOU de 8.1.2024.Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-27243303587961288192023-10-19T22:04:00.003-03:002023-10-19T22:09:12.314-03:00NOVA COORDENAÇÃO ESTADUAL DO MNU/RIO GRANDE DO SUL
Gestão 2023/2025
A Assembleia Estadual do Movimento Negro Unificado do Rio Grande do Sul, para eleição da Coordenação Estadual, gestão 2023 – 2025, ocorreu dia 30 de setembro de 2023, das 9:00 às 17:00 horas, no formato presencial, tendo como local o auditório do SINDIPOLO, na Avenida Júlio de Castilhos, 596, 8º andar, Centro Histórico de Porto Alegre.
A nova Coordenação ficou com esta composição:
Iyá Sandrali de Campos Bueno – Coordenadora Estadual
Vera Lúcia Goulart da Rosa – Coordenadora da Secretaria
Ângela Maria Souza de Lima – Coordenadora da Tesouraria
Catiana Leite Nunes – Coordenadora de Comunicação
Márcio Luiz Rosa de Oliveira – Coordenador de Formação
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-72291551400217390132023-08-07T10:19:00.000-03:002023-08-07T10:19:19.136-03:0010 invenções que não existiriam se não fossem por mulheres negrasPublicação que viralizou nas redes nos faz lembrar que, sem elas, não teríamos acesso à tecnologia do GPS, filmes 3D ou GIFs
• LARISSA LOPES
25 JUN 2020 - 11H23 ATUALIZADO EM 27 SET 2021 - 19H39
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Após viralizar no Instagram e no Twitter, somando mais de 300 mil curtidas nas redes, uma publicação mostrou o quão importante foi o papel de mulheres negras para a invenção de objetos e tecnologias que usamos diariamente.
De filmes 3D a sistemas de segurança, não faltam exemplos de notáveis contribuições deixadas por cientistas, inventoras e empresárias negras. Conheça algumas invenções:
1. GPS
Se hoje você pode se localizar com facilidade no trânsito, é porque a programadora norte-americana Gladys West (foto acima), nascida em 1930, deixou um grande legado para a tecnologia. Nascida em 1930 e vinda de uma família de trabalhadores agrícolas, West era uma aluna brilhante e, graças ao seu desempenho escolar, conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade da Virgínia, formando-se mais tarde em matemática.
Gladys West
Foi a segunda mulher negra a trabalhar na base naval de Dahlgren, onde atuou por 42 anos com localização espacial de satélites. Recebeu prêmios e foi nomeada diretora do projeto do primeiro satélite a fazer um mapeamentos dos oceanos via radar.
2. Filmes 3D
A física Valerie Thomas patenteou tecnologia que originou filmes 3D )
A física Valerie Thomas foi a responsável por criar e patentear, em 1980, o transmissor de ilusão, dispositivo que simula a aparência tridimenssional de um objeto. A invenção foi e ainda é utilizada pela Nasa, agência espacial onde Thomas trabalhou entre 1964 e 1995 como analista de dados e gerente de projetos.
3. Condicionador
Minissérie da Netflix homenageia Madam C.J. Walker, primeira milionária self made negra dos Estados Unidos (Foto: Wikimedia Commons)
O cosmético que não pode faltar na lista de compras foi criado por Madam C.J. Walker, primeira mulher negra que enriqueceu por contra própria nos Estados Unidos. Por causa das dificuldades que enfrentava com o próprio cabelo, Walker teve a ideia de criar produtos especializados para o cabelo afro e acabou criando um império na indústria da beleza.
Em março de 2020, a Netflix lançou uma série sobre sua vida e legado, protagonizada por Octavia Spencer, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em Histórias Cruzadas, de 2011.
4. Absorventes
Vinda de uma família de inventores, Mary Beatrice Davidson Kenner patenteou o absorvente menstrual em 1956, mas nunca chegou a receber qualquer recompensa ou lucro sobre sua criação, já que sua patente logo expirou e se tornou domínio público.
Outra invenção sua foi o suporte de rolo de papel higiênico, criado originalmente para facilitar o uso por pessoas com deficiência visual ou artrite.
5. Sistemas de segurança doméstico
Moradora do Queens, em Nova York, Marie Van Brittan Brown não se sentia segura ao voltar para casa após longas jornadas de trabalho como enfermeira. Por isso, ela e seu marido, o eletricista Albert Brown, criaram o primeiro sistema de segurança doméstico, que, com quatro olhos-mágicos e uma câmera, permitia visualizar quem estivesse batendo à porta em um monitor. O sistema também contava com um botão de emergência para acionar autoridades caso algum incidente acontecesse.
6. Identificador de ligações e chamada em espera
Shirley Ann Jackson recebendo do ex-presidente Barack Obama a Medalha Nacional de Ciências em 2014
Os dois recursos foram inventados graças às pesquisas da física Shirley Ann Jackson, a primeira mulher afro-americana a concluir um doutorado em física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). As tecnologias foram desenvolvidas ao longo de seus estudos sobre telecomunicações na antiga AT&T Bell Laboratories.
7. Calefação central
Muito utilizada em países com inverno rigoroso, a calefação central é fundamental para manter residências aquecidas, e foi patenteada por Alice H. Parker em 1919.
Entre as vantagens do sistema estavam a praticidade de não ter que estocar madeira para fazer uma lareira, a propagação do calor por todo o ambiente através de ductos, a rapidez do aquecimento e maior segurança para a casa, reduzindo riscos de incêndio.
8. Tábua de passar roupa
Esta é a invenção de uma das primeiras mulheres negras a receber uma patente nos Estados Unidos, em 1892. Sarah Boone era costureira e, cansada do quão trabalhoso era passar a manga de uma camisa na época, criou uma versão aprimorada da tábua, que reduzia as chances de criar vincos involuntários na roupa durante o processo.
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As mulheres negras esquecidas da NASA invadem o cinema
9. Voz sobre IP
Marian Croak
Sem a invenção de Marian Croak, fazer reuniões ou conversar com amigos durante a pandemia seria muito mais difícil. Isso porque a voz sobre IP é a base para a transmissão de áudios por serviços de internet, o que nos permite fazer chamadas por aplicativos, por exemplo.
Croak é doutora em psicologia e análise quantitativa pela Universidade do Sul da Califórnia e vice-presidente de Engenharia do Google, onde tem trabalhado para expandir o acesso ao serviço em mercados emergentes.
10. Animação em GIF
Outra forma de se expressar na internet, além das chamadas de voz, são os GIFs, abreviação de Graphics Interchange Format. O formato gráfico foi desenvolvido por Lisa Gelobter, fundadora do tEquitable, uma plataforma independente que trata sobre viés, discriminação e assédio no mercado de trabalho.
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-91732075754346592542023-08-07T10:08:00.000-03:002023-08-07T10:08:44.414-03:00Saúde das mulheres negras: enfrentamento ao racismo também se dá no acesso à assistência
O programa de rádio Saúde com Ciência debate sobre as consequências do racismo nos serviços de saúde e o impacto para a saúde física e psicológica das mulheres negras
19 DE NOVEMBRO DE 2021 - ENFRENTAMENTO AO RACISMO, RACISMO INSTITUCIONAL, RÁDIO, SAÚDE COM CIÊNCIA, SAÚDE DA MULHER, SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA
Segundo um relatório da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), a população negra tem menos acesso à saúde se comparada à branca. Além disso, as pessoas de cor preta (11,9%) e parda (11,4%) são destaque entre as que se sentiram discriminadas nos serviços do SUS. Por isso a importância da PNSIPN, criada em 2009 para combater o racismo institucional, ao reconhecer e buscar melhorar as iniquidades que afetam a saúde da população negra. Isso inclui atenção especial às doenças prevalentes, como hipertensão arterial e o maior risco de mulheres negras para pré-eclâmpsia e eclâmpsia durante a gravidez.
Mas segundo Emanuelle Goes, a doutora em Saúde Pública e pesquisadora Fiocruz/Bahia em desigualdades raciais, racismo e saúde, ainda não houve avanços suficientes com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Ela argumenta que falta considerar e inserir o quesito da cor nas mudanças do sistema de saúde para adequação à PNSIPN, como o aumento da oferta de pré-natal ou de tratamento de doenças, possibilitado analisar as diferenças das ocorrências com mulheres negras e brancas, por exemplo. “Como a gente vai observar a mudança das desigualdades raciais se não temos a informação de raça e cor nas pactuações?”.
Enquanto isso, mulheres negras continuam sendo a maioria nas mortalidades maternas e enfrentando a violência obstétrica ou outros tipos de violências que afetam a saúde. “No cenário do parto, sabe-se que mulheres negras recebem menos anestesia quando indicado, os manejos nos corpos são mais agressivos e os partos tardios acontecem mais com as mulheres negras”, cita Emanuelle Goes. “Há uma ideia de que mulheres negras não precisam de intervenção. Podem parir normal, porque são boas em parir, são resistentes”, completa informando que isso não ocorre só nos serviços públicos, já que está relacionado com a prática profissional e com o que as pessoas aprendem no imaginário social.
As questões sociais e o enfrentamento ao racismo também impactam a saúde mental das mulheres negras, que apresentam maior incidência de ansiedade e depressão do que as mulheres brancas. “As questões sociais estão intimamente relacionadas ao nível de saúde mental da sociedade como um todo. Trabalhamos para fortalecer pessoas negras, mas a injustiça social ainda é um fator essencial, como a falta de dinheiro, a insegurança e violência. Então sem melhorar a causa, é muito desafiador sanar o problema”, afirma Laila Resende, ativista, psicóloga e pós-graduada em relações étnico-raciais.
“Os processos de exclusão causados pelo racismo colocam a mulher negra num lugar de solidão, na maioria das vezes. Mas o essencial é que através do autorreconhecimento, valorização de relações saudáveis, não só relacionamentos afetivos sexuais como de amizades e familiares também, possam reverter esse lugar de solidão”
Laila Resende
Saiba mais no Saúde com CiênciaMovimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-51340664489431674252023-08-07T09:49:00.002-03:002023-08-07T09:49:19.267-03:00Saúde das mulheres negras: Enfrentamento ao racismo também se dá no acesso à assistência
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- ENFRENTAMENTO AO RACISMO, RACISMO INSTITUCIONAL, RÁDIO, SAÚDE COM CIÊNCIA, SAÚDE DA MULHER, SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA
Segundo um relatório da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), a população negra tem menos acesso à saúde se comparada à branca. Além disso, as pessoas de cor preta (11,9%) e parda (11,4%) são destaque entre as que se sentiram discriminadas nos serviços do SUS. Por isso a importância da PNSIPN, criada em 2009 para combater o racismo institucional, ao reconhecer e buscar melhorar as iniquidades que afetam a saúde da população negra. Isso inclui atenção especial às doenças prevalentes, como hipertensão arterial e o maior risco de mulheres negras para pré-eclâmpsia e eclâmpsia durante a gravidez.
Mas segundo Emanuelle Goes, a doutora em Saúde Pública e pesquisadora Fiocruz/Bahia em desigualdades raciais, racismo e saúde, ainda não houve avanços suficientes com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Ela argumenta que falta considerar e inserir o quesito da cor nas mudanças do sistema de saúde para adequação à PNSIPN, como o aumento da oferta de pré-natal ou de tratamento de doenças, possibilitado analisar as diferenças das ocorrências com mulheres negras e brancas, por exemplo. “Como a gente vai observar a mudança das desigualdades raciais se não temos a informação de raça e cor nas pactuações?”.
Enquanto isso, mulheres negras continuam sendo a maioria nas mortalidades maternas e enfrentando a violência obstétrica ou outros tipos de violências que afetam a saúde. “No cenário do parto, sabe-se que mulheres negras recebem menos anestesia quando indicado, os manejos nos corpos são mais agressivos e os partos tardios acontecem mais com as mulheres negras”, cita Emanuelle Goes. “Há uma ideia de que mulheres negras não precisam de intervenção. Podem parir normal, porque são boas em parir, são resistentes”, completa informando que isso não ocorre só nos serviços públicos, já que está relacionado com a prática profissional e com o que as pessoas aprendem no imaginário social.
As questões sociais e o enfrentamento ao racismo também impactam a saúde mental das mulheres negras, que apresentam maior incidência de ansiedade e depressão do que as mulheres brancas. “As questões sociais estão intimamente relacionadas ao nível de saúde mental da sociedade como um todo. Trabalhamos para fortalecer pessoas negras, mas a injustiça social ainda é um fator essencial, como a falta de dinheiro, a insegurança e violência. Então sem melhorar a causa, é muito desafiador sanar o problema”, afirma Laila Resende, ativista, psicóloga e pós-graduada em relações étnico-raciais.
“Os processos de exclusão causados pelo racismo colocam a mulher negra num lugar de solidão, na maioria das vezes. Mas o essencial é que através do autorreconhecimento, valorização de relações saudáveis, não só relacionamentos afetivos sexuais como de amizades e familiares também, possam reverter esse lugar de solidão”
Laila Resende
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-79274034257468998152023-08-07T09:34:00.001-03:002023-08-07T09:34:18.747-03:00OS AFRICANOS CHEGARAM ANTES ÀS AMÉRICAS?almapretajornalismo
As evidências de que os africanos podem ter chegado às Américas antes dos europeus, mostra uma rica história de navegação e exploração.
Via: @ernestoxavier
É possível dizer que povos africanos chegaram às Américas antes dos europeus? Sim, é bem possível. E por que essa teoria não ganha espaço na Academia?
Em 1920, o historiador e linguista, Leo Weiner, da Universidade de Harvard, em seu livro “África e a descoberta da América”, explicou como Colombo observou em seu diário que os nativos americanos haviam confirmado que “o povo de pele negra tinha vindo do sul e sudeste em grandes barcos, barganhando com lanças de pontas douradas”.
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Teresa de Benguela
Nascimento 1700
Benguela
Morte 1770
Cuiabá
Cônjuge José Piolho
Ocupação líder quilombola
[edite no Wikidata]
Teresa de Benguela (Reino de Benguela, c. 1700 - Capitania de Mato Grosso, 1770) foi uma líder quilombola que viveu em lugar incerto, mas sabe-se que o Quilombo do Piolho, no qual liderou, estava às margens do rio Guaporé, localizado na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, atual estado de Mato Grosso [1].
Mulher escravizada fugida do capitão Timóteo Pereira Gomes, Teresa foi esposa de José Piolho,[2] que chefiava o citado Quilombo do Piolho na década de 1740.[1] Com a morte de Piolho, Teresa se tornou a rainha do quilombo no início dos anos 1750, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada. Os sobreviventes passaram por humilhação pública, e foram marcados em ferro com a letra F, de fujão, e devolvidos aos seus antigos donos.[1]
Administração
Para governar o quilombo, a rainha desenvolveu um sistema de parlamento, onde semanalmente se reuniam os deputados para decidirem sobre a administração do quilombo, sendo o de maior autoridade e tido por conselheiro, José Piolho, homem escravizado da herança de Antônio Pacheco de Morais.[1]
A rainha Teresa comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumento de trabalho, visto que dominavam o uso da forja. O Quilombo do Guariterê, além do parlamento e de um conselheiro para a rainha, desenvolvia agricultura de algodão e possuía teares onde se fabricavam tecidos que eram comercializados fora dos quilombos, como também os alimentos excedentes.[3]
Morte
Em 27 de junho de 1770 uma expedição saiu em direção ao quilombo, com a missão de destruí-lo. Chegaram ao local em 22 de julho, e abriram fogo contra os quilombolas, porém a maioria deles conseguiu fugir. Houve resistência, liderada por Teresa, que revidou com arma de fogo, além de flechas, mas não foi o suficiente.[2] Teresa foi colocada numa cela, tendo sido tratada com palavras rudes na frente de seus antigos comandados. Nessa situação, ela ficou muda, e morreu dias depois. Após sua morte, arrancaram-lhe a cabeça e colocaram-na no alto de um poste, dentro do quilombo, para que todos pudessem vê-la.[1][2]
Dia Nacional de Teresa de Benguela
O dia de 25 de julho é instituído no Brasil pela Lei n° 12.987/2014 como o Dia Nacional de Teresa de Benguela e da Mulher Negra.[4]
Carnaval
A Unidos do Viradouro homenageou Teresa com o enredo "Teresa de Benguela, uma rainha negra no Pantanal", ficando em 3º lugar no Carnaval do Rio de Janeiro em 1994.
A escola de samba de São Paulo Barroca Zona Sul, em seu samba-enredo "Benguela… A Barroca Clama a Ti, Teresa", homenageou Teresa da Benguela no Carnaval de São Paulo em 2020.[5][6]
Referências
Thays de Campos Lacerda. «TEREZA DE BENGUELA: IDENTIDADE E REPRESENTATIVIDADE NEGRA». Unemat. Consultado em 27 de julho de 2020
«Teresa de Benguela: a heroica Rainha do quilombo Quariterê». Aventuras na História. Consultado em 27 de julho de 2020
«Tereza de Benguela, uma heroína negra». Geledés. 2 de agosto de 2014. Consultado em 1 de julho de 2020
«L12987». www.planalto.gov.br. Consultado em 1 de julho de 2020
«Barroca Zona Sul volta à elite após 15 anos cantando Tereza de Benguela, líder de quilombo». G1. Consultado em 15 de julho de 2020
«Benguela… A Barroca Clama a Ti, Tereza - Aináh». Letras.mus.br. Consultado em 16 de dezembro de 2019
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Boaventura de Sousa Santos, entrevistado por Diego León Pérez e Gabriel Delacoste, em La Diaria | Tradução: Antonio Martins | Imagem: Liliana Porter
“A autocrítica tem de ser minha também. Quantas vezes jantei com Rafael Correa, presidente do Equador e ao final cantei canções do Che Guevara, como se a revolução estivesse próxima”? É 16 de abril, em Montevidéu. No meio de entrevista que concede a dois jovens pesquisadores uruguaios, sobre a crise política no Brasil, o sociólogo português Boaventura Santos encontra espaço para reminiscências pessoais. Desde o início do século, ele foi talvez o intelectual mais próximo do conjunto dos processos de mudança que mudaram os rumos da América do Sul e agora estão sob ameaça conservadora. Ligou-se tanto aos governos quanto aos movimentos transformadores. Participou da construção teórica e prática dos Fóruns Sociais Mundiais, no Brasil. Envolveu-se com as Constituintes da Bolívia e Equador. Ligou-se a processos de reflexão no Uruguai, Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Venezuela. Como não ouvi-lo agora?
Boaventura abre a entrevista relembrando uma crítica que ele próprio fez, inúmeras vezes, enquanto o processo sul-americano avançava. Com algumas exceções – talvez a Bolívia seja a mais notável –, as mudanças estruturais foram deixadas de lado. Optou-se pelo caminho mais fácil: aproveitar o “boom” das commodities e usar parte dos ganhos para alguma redistribuição de riquezas – tímida, porém muito relevante, porque inédita. Permitiu-se que as oligarquias mantivessem riqueza e acumulassem poder. Agora, elas dão o troco.
A partir de dado momento, porém, ele torna-se mais incisivo. Faltaram reformas estruturais, é verdade – e o Brasil é certamente o caso mais grave. Mas para uma correção de rumos não basta um “giro à esquerda”: prova disso é o escasso apoio que têm, no continente, os partidos que se julgam mais revolucionários. É preciso, também, rever as formas de política e, para tanto, compreender o papel limitado da própria teoria clássica – iluminista e eurocêntrica.
Boaventura parece fascinado com as lutas que brotam de baixo e transformam o quotidiano. Os indígenas que já não se sentem inferiores na Bolívia, Equador ou Venezuela – mas injustiçados. As meninas e meninos do Brasil, que ocupam escolas públicas ou fazem do rap e do funk formas de re-existência contra a sociedade branca que quer conformá-los a um emprego, uma família, um carro e um caixote na periferia remota. São eles que comovem o sociólogo: “Talvez agora tenhamos a chave para as epistemologias do Sul: ir mais devagar, com menos confiança de que as ideias novas criem realidades novas. Não, as realidades novas decantam de algumas ideias novas, mas não é você que cria as realidades novas, são as pessoas da rua, na luta, são eles que estão realmente inovando – e não você, com a teoria”, diz.
Sua fala transpira uma esperança preocupada. “É hora de começar de novo”, frisa Boaventura. Sabemos o que não fazer – e é algo. Para a retomada, não temos o roteiro, mas o faro. É hora de resgatar e reinventar a democracia. Ela só existirá se – como frisa Guilherme Boulos, do MTST – tiver a cara do asfalto, não a dos carpetes. Não se trata mais de dar conselhos, de participar de conferências que o poder pode tranquilamente descartar. A criação e a implementação das políticas redistributivas têm de ser assumidas pelos movimentos – e retirada, portanto, dos que pretendem domesticá-las. Quantas formas de democracia direta inventaremos? Ninguém sabe a resposta. Dependerá de nossa capacidade de inventar presentes e futuros cuja validade vá além de nossa teoria…
Venceremos? Nunca se sabe de antemão. “Quando a direita vem, vem revanchista”, lembra o sociólogo. Na Argentina, liquidaram-se em poucos meses conquistas de doze anos. No Brasil, onde está em curso um golpe, é possível que os que chegaram ao poder sem voto, e em meio à crise, lancem caça às bruxas, para brandir um bode expiatório enquanto eliminam direitos e restauram privilégios.
São os riscos do atrevimento de mudar o mundo, de inconformar-se, de pensar que nada está decidido de antemão. Alguns indagarão: valerá a pena? Melhor seria perguntar: há outra alternativa? Para refletir a respeito, fique com a primeira parte da entrevista de Boaventura. A segunda, que trata especificamente do papel das universidades, sairá em mais alguns dias. (A.M.)
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-41286064805664206052023-07-23T18:03:00.000-03:002023-07-23T18:03:42.970-03:00Boaventura de Sousa SantosComo você vê a situação no Brasil, após o início do julgamento político de Dilma Rousseff?
No momento em que falamos, não sabemos o que vai ocorrer, mas de qualquer maneira penso que haverá um período bastante turbulento, politicamente. O impeachment é claramente um ato que configura golpe parlamentar, sobretudo porque não se demonstrou a suposta responsabilidade em crimes que o justificassem. Mas também por razões políticas, à medida em que talvez a presidente Dilma seja a política menos corrupta da América Latina. Isso é grave para a democracia no Brasil e para o continente.
Se o impeachment se consumar, haverá algumas consequências. Obviamente, a polarização social no Brasil é muito alta, neste momento, e penso que nem os movimentos sociais, nem os cidadãos, nem as classes populares aceitarão este ato, sobretudo porque dele resultaria um governo liderado por um partido, o PMDB, conhecido por ser um dos mais corruptos da história do Brasil. E, por outro lado, porque provavelmente o fenômeno mais importante por trás de tudo isso é a Operação Lava jato, ou seja, a grande investigação contra a corrupção, que talvez seja paralisada, já que, segundo todos os indícios que temos, há muita gente envolvida na corrupção, que pertence precisamente a este partido que estará no poder.
Tudo isso cria um problema de legitimidade democrática difícil de manejar e cujas consequências são difíceis de prever. Mas o impacto do que irá ocorrer será muito importante para toda a região. Se o impeachment passar, será uma afirmação de que as democracias que existem no continente são facilmente manipuláveis; e de que se alguém ganha as eleições e obtém, portanto, o direito de governar, mas importantes forças antidemocráticas decidem que não deve governar, há maneiras de obter tal resultado, por uma conjunção de meios. Entre eles, um Poder Judiciário conservador, a serviço destas forças antidemocráticas. Além de forças externas, que neste caso penso serem as do imperialismo estadunidense. Realmente não estão interessadas em que continue, no Brasil, um processo que, se não é anticapitalista (Dilma não é anticapitalista; obviamente, há muitas críticas a seu governo, por não cumprir o programa que se propôs a realizar quando eleita) é pósneoliberal, no sentido de que tem empresas públicas importantes nacionalizadas, como a Petrobras, e recursos naturais importantes fora do mercado internacional.
O próprio PT, antes do processo de impeachment, já executava uma política baseada em exportações extrativistas. Como enxergar o cenário, quando muitas das forças que estão conspirando foram fortalecidas pelo próprio governo?
É verdade que, ao longo destes anos, os governos populares latinoamericanos, muitos deles saídos de movimentos sociais, cometeram diversos erros.
Quais foram, no caso do Brasil. Em minha opinião – e isso também pode se aplicar para outros governos, como o de Cristina Kirchner, na Argentina – aproveitaram uma conjuntura excepcional, o chamado boom das commodities. Devido ao impulso do desenvolvimento da China, os preços das matérias-primas subiram, e permitiram lucros importante para estes países. Os governos populares decidiram, então, aprofundar o modelo de desenvolvimento extrativista, com objetivo de separar parte da renda resultante desta alta para fazer certa redistribuição social. Ou seja, não mudaram o modelo econômico. Permitiram que os ricos e as oligarquias continuassem enriquecendo. Os bancos, por exemplo, nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil como nos tempos de Lula. Mas como os preços eram altos, sobrava um excedente significativo para fazer uma redistribuição sem precedentes. Por meio de mecanismos como bolsas famílias e outras políticas sociais, foi possível que 45 milhões de pessoas saíssem da pobreza, o que é um fato político muito importante. Mas não era socialismo, porque dependia totalmente dos preços internacionais, em cuja formação o Brasil não incide de nenhuma maneira.
Por isso, por aceitar este modelo de desenvolvimento, aceitaram também o modelo político que estava por trás, e que vinha de muito atrás. Este modelo político é colonial. Há uma continuidade enorme com o modelo colonial, que havia sido interrompido em alguns países pela industrialização e a substituição de importações. Durante estes governos populares, não houve mudanças no sistema político, nem no sistema dos meios de comunicação, nem no sistema tributário – e isso acabou por fazer com que os partidos no governo terminassem aprisionados no mesmo processo que servia às oligarquias e às direitas tradicionais. Elas sempre se serviram da corrupção, da mídia e de ilegalidades para consolidar seu poder. E houve aqui uma tentação: talvez, se se deixasse que os ricos fossem cada vez mais ricos, eles permitiriam que o país caminhasse lentamente, em termos sociais. O problema é que o boom das commodities durou até a baixa dos preços, com a desaceleração da China. Desde então, deixou de haver dinheiro para poder garantir as políticas públicas.
No momento em que o dinheiro escasseou, que poderia fazer o governo? Só havia uma solução real, e era uma política tributária distinta: que os ricos pagassem mais impostos. Mas, como o sistema político não mudou, isso está totalmente proibido, e, portanto, o governo começou a fazer duas coisas: por um lado, apoiar ainda mais o agronegócio, a fronteira agrícola, a fronteira mineral, o que contribuiu para a expulsão de populações, a contaminação da água, a crise ambiental, em estranhas cumplicidades com exércitos privados, com organizações paramilitares que matam indígenas e líderes camponeses em todo o continente, enquanto os governos fazem vistas grossas. O ciclo se esgotou.
Era uma maneira de governar como sempre se governou na América Latina, mais a favor das classes dominantes que das classes populares – mas num contexto favorável, deixando uma parte significativa da riqueza para a redistribuição social. Por isso, a crise que vive o Brasil também se repete no Equador, na Argentina – onde uma direita muito revanchista está destruindo, em poucos meses, todos os avanços sociais que haviam sido conquistados nos últimos 12 anos. E por isso, é preciso começar de novo.
Os governos progressistas não facilitaram demais para a direita? Agora, as forças conservadoras voltarão ao poder e encontrarão uma polícia militarizada e poderosa, em termos materiais e legais, com leis mais repressivas. São mudanças que teriam custado muito mais à direita.
Compreendo a pergunta. Os governos progressistas têm muitos aspectos de continuidade com os anteriores, por isso as rupturas podem parecer mais drásticas do que são na realidade. Realmente, os líderes indígenas continuaram a ser assassinados no Brasil durantes os governos populares. Agora – e aqui, há uma divisão no pensamento crítico latino-americano – no qual estou por adoção, porque não sou latino-americano. Não vou ao ponto de considerar que estes governos sejam reacionários. Alguns colegas consideram que Evo Morales é um reacionário. Eu não sou capaz e te digo “não sou capaz” porque é um limite de minha inteligência, de minha capacidade analítica. Mas é verdade que o progressismo foi feito a partir de formas antigas de política e agora os resultados estão aí. Facilitou-se, de fato, a entrada da direita. Foi um grande erro cometido por algumas esquerdas do continente.
Um dos grandes intelectuais deste continente, Álvaro Garcia Linera, disse muitas vezes, depois dos resultados das últimas eleições na Bolívia, que se a direita voltasse ao poder teria de reconhecer que o centro da política se deslocou à esquerda. Isso porque as forças de esquerda conseguiram muitos avanços, que seria possível reduzir – sempre a partir de um centro localizado mais à esquerda que antes — mas não destruir. Como se sabe, não foi isso que se passou. Veja [o presidente da Argentina, Maurício] Macri. Em três semanas, acabou com quase tudo o que havia sido feito em doze anos. A direita, quando vem, vem revanchista. Vem com a decisão de eliminar tudo o que foi alcançado durante estes anos, com a ideia de que, por um lado, é insustentável e, por outro lado, as classes populares não merecem. São privilégios. As classes populares tiveram privilégios demais, é preciso cortá-los. E a crise é a desculpa.
Este foi o erro que os governos populares cometeram: não transformaram o modelo econômico, nem o modelo de desenvolvimento, nem o sistema político. Talvez tenham sido vítimas de seu entusiasmo. Preciso dizer que, no início, estava 100% com estes processos. Participei da redação das constituintes da Bolívia e Equador. Quantas vezes jantei na casa do presidente equatoriano, Rafael Correa, e acabei cantando canções revolucionárias, do Che Guevara, como se a revolução estivesse próxima? Não podia imaginar que, anos depois, a alternativa é que, se não há investimentos norte-americanos de despojo, há a China, que cobra da mesma maneira e destrói os territórios da mesma maneira. Então, muitos intelectuais temos que fazer uma autocrítica também, e ser menos arrogantes. Talvez agora tenhamos a chave para as epistemologias do Sul: ir mais devagar, com menos confiança de que as ideias novas criem realidades novas. Não, as realidades novas decantam de algumas ideias novas, mas não é você que cria as realidades novas, são as pessoas da rua, na luta, são eles que estão realmente inovando – e não você, com a teoria.
Você imagina, então, um cenário em que as coisas voltem à normalidade; os Estados Unidos olham de novo para a América Latina, os preços das commodities voltam a baixar e o ciclo termina? Que ciclo pode vir agora? Em que tipo de coisas seria preciso começar a pensar, em relação ao que está terminando?
Penso que não estamos regressando ao normal; quando muito, teremos uma nova normalidade bastante turbulenta. Será uma democracia de fachada, mas cada vez mais esvaziada; já não uma democracia de baixa intensidade, mas de baixíssima intensidade. Não podemos pensar isso como normalidade, mas como o resultado de um fracasso histórico que é preciso analisar, de modo a encontrar as forças que tornem possível um novo ciclo, mais duradouro, menos frágil, em que as conquistas sejam menos reversíveis. Não sabemos em que condições isso poderá ocorrer, mas com alguma turbulência, implicará uma reforma política, que talvez seja exigida nas ruas, reivindicada pelos movimentos sociais, pelas organizações sociais. Talvez necessitemos de outro ciclo constituinte. Uma nova Assembleia Constituinte, digamos, que promova uma reforma política forte, para que esta democracia possa defender-se das forças capitalistas que a sequestraram.
Isso exigirá, por exemplo, que se aceite de uma vez por todas que, nas condições atuais do mundo, não há alternativa socialista na agenda política, não existe a possibilidade de uma tomada de poder revolucionária, como em outros tempos. A democracia é o único instrumento de luta que nos resta. Esta democracia precisa ser reinventada, não pode ser apenas democracia representativa. O nó central do processo político é que será necessário articular democracia participativa com democracia representativa. Que quero dizer? Que os partidos políticos deixarão de ter o monopólio da representação política. As associações, os movimentos sociais, reunidos em assembleias, organizando os bairros, no campo, na cidade, terão de encontrar formas de participar não só no plano da consulta, mas também da implementação, em algumas ou em muitas das políticas públicas – conselhos populares de Educação, de Saúde, de Infraestrutura. Ou seja, uma forma de que os cidadãos, além de eleger representantes, possam tomar algumas decisões por si mesmos.
É preciso inventar novas formas políticas, que permitam esta articulação entre democracia representativa e democracia participativa. Para que seja eficaz, será necessário que esteja presente nos próprios partidos. É preciso refundar os partidos existentes ou inventar outros partidos de esquerda, construídos com uma lógica básica distinta, e esta lógica precisa incluir a democracia participativa desde o início. Temos na Espanha o Podemos, que representa esta nova vontade política de criar o que chamamos partidos-movimentos. Articulações várias e distintas entre círculos de cidadãos, assembleias de cidadãos que deliberam sobre as políticas do partido, que escolhem os candidatos e tomam decisões, assumidas pelas lideranças partidárias. É uma maneira totalmente distinta de fazer política, e além disso é a única capaz de impedir que o dinheiro domine as decisões político-partidárias e torne a corrupção endêmica.
Há um campo muito grande para a criatividade democrática. Por isso, luto, em meu trabalho, no que chamo de epistemologias do Sul, no sentido de criar também uma reforma no conhecimento. Porque não penso que seja possível justiça social global sem justiça cognitiva global. Ou seja, uma democracia entre diferentes formas de conhecimento. Na raiz de todo o sistema político está o conhecimento acadêmico que controla as universidades e que é eurocêntrico, com a ciência política, a sociologia e a antropologia. São os instrumentos que produziram as políticas e as formas de representação política que temos. Isso precisa ser transformado, aceitando que há outras maneiras de conhecer, que a representação do mundo é muito mais ampla que a representação ocidental do mundo. Há outras formas de transformação social que talvez não possam ser chamadas de socialismo nem de comunismo. Vão ser chamadas de respeito, dignidade, proteção dos territórios, direitos do corpo das mulheres. A isso, chamo uma ecologia de saberes, que implica também uma reforma na universidade.
Se você me perguntar como definir este novo ciclo em termos progressistas (porque também pode surgir uma nova barbárie, ainda pior), responderei que precisa ter uma dimensão epistemológica muito forte, e que esta revolução epistemológica passará pelas universidades. As universidades terão de aceitar que circulem, dentro delas, outras formas de conhecimento. Outras concepções de vida são possíveis, mas em nossos departamentos de Engenharia, de Ciência, de Biologia, de Física, riem-se de nós, quando falamos da Pacha Mama, da Mãe Natureza ou de direitos da Mãe Terra.
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O Julho das Pretas é uma ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimento de mulheres negras do Brasil, voltada para o fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade.
A ação foi criada em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra. Atualmente a maioria dos Municípios já implantou esta Lei.
O Julho das Pretas todos os anos traz temas importantes e necessários relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, colocando a pauta e agenda política das mulheres negras.
O tema do Julho das Pretas em 2023 é Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver, fazendo referência à construção da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontecerá em 2025.
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25/12/2022
O escritor e militante Jamu Minka com o sociólogo Florestan Fernandes, no lançamento dos Cadernos Negros, na Livraria Teixeira, São Paulo, 1978.
Por PAULO FERNANDES SILVEIRA*
Comentário sobre uma entrevista do sociólogo
Em julho e agosto de 1995, poucos dias antes do erro médico que tiraria a vida de Florestan Fernandes, o jornalista Paulo Moreira Leite fez duas instigantes entrevistas com o sociólogo. Alguns excertos foram publicados nesse mesmo ano: na revista Veja, em 9 de agosto, e no Jornal da Tarde, em 19 de agosto. Anos depois, Leite revisitou esses trabalhos no ensaio “O mestre que veio de baixo”.[i]
Entre os temas analisados por Florestan Fernandes nessas entrevistas está a perseguição política e policial que os Panteras Negras sofreram nos anos 1960 e 1970. O excerto que trata dos Panteras Negras não foi incorporado nas publicações de Leite, razão pela qual decidimos publicá-lo a partir do arquivo com as transcrições originais das entrevistas.[ii]
O Partido Panteras Negras para Autodefesa foi criado em outubro de 1966,[iii] após um longo período de protestos pacíficos nos Estados Unidos contra a segregação racial e em defesa dos direitos civis.[iv] Em diversas ocasiões, os grupos supremacistas brancos reagiram com violência. Em resposta às manifestações organizadas por jovens secundaristas e universitários, como as sit-ins e as freedom rides, pessoas associadas à Ku Klux Kan promoveram atentados e assassinados.
Como destacam Kwame Ture (Stokely Carmichael) e Charles Hamilton, autores do livro Black power: a política de libertação nos Estados Unidos, a polícia também coibiu os protestos pacíficos com extrema violência.[v] Num discurso com o título “O voto ou a bala”, realizado em abril de 1964, Malcolm X [vi] questionou a eficácia das estratégias pacíficas de protesto contra a segregação racial. Alguns meses depois, ele foi assassinado.
Inspirados nos discursos de Malcolm X, mas também nos livros de Fantz Fanon, negras e negros dos Panteras Negras, em sua maioria, jovens estudantes universitários, vislumbram outras alternativas de resistência. Tratava-se de defender o poder negro! Num tom de desabafo, afirma Kwame Ture: “de uma vez por todas, as pessoas negras vão usar as palavras que quiserem e não as palavras que os brancos querem ouvir”.[vii] Em seu programa, os Panteras Negras exigem o fim imediato da brutalidade policial e dos assassinatos à população negra.[viii] Pautados pela Segunda Emenda à Constituição, os Panteras Negras justificam o uso da violência como forma de autodefesa, ou melhor, eles advogam pela contraviolência.
No primeiro capítulo de Os Condenados da terra, Frantz Fanon faz uma reflexão cuidadosa sobre a violência dos opressores e a contraviolência dos oprimidos nas lutas históricas pela descolonização.[ix] Na mesma perspectiva, Huey Newton, militante e teórico dos Panteras Negras, aponta para a relação entre a brutalidade policial e o fervor revolucionário da comunidade negra: “quando as coisas apertam, as pessoas oprimidas sentem a necessidade da resistência e da revolução”.[x] Justamente por serem os mais afetados pela opressão, tanto para Fanon quanto para os Panteras Negras, os miseráveis, aqueles que Karl Marx afirma fazer parte do lumpenproletariat, podem se tornar sujeitos fundamentais num processo revolucionário. [xi] Em maio de 1971, quando ainda se encontrava presa numa cadeia da Califórnia, a pantera negra Angela Davis enfatiza: “Já existe nas comunidades negras e pardas, o lumpenproletariat incluído, uma longa tradição de resistência coletiva à opressão nacional”.[xii]
Desde cedo os trabalhos acadêmicos de Florestan Fernandes aproximaram-se dos grupos organizados do movimento negro. Em 1950, Florestan fez parte da comitiva paulista que participou, no Rio de Janeiro, do 1º Colóquio do Negro Brasileiro, coordenado pelo Teatro Experimental do Negro (TEN).[xiii] No início dos anos 1950, Roger Bastide e Florestan foram encarregados de dirigir a pesquisa UNESCO sobre as relações raciais na cidade de São Paulo. Essa pesquisa contou com a contribuição de diversos militantes do movimento negro.[xiv]
A primeira edição do Caderno de Cultura da Associação Cultural do Negro (ACN), publicado em 1958, registra um agradecimento a Florestan por uma conferência sua realizada na associação.[xv] Além de orientar as pesquisas de doutorado de alguns dos seus principais alunos sobre a questão racial no Brasil,[xvi] Florestan Fernandes divulgou e analisou no meio acadêmico e na grande imprensa as demandas e as produções de intelectuais ligados ao movimento negro.[xvii]
No final dos anos 1970, ao voltar do exílio nos Estados Unidos e no Canadá, Florestan participou de encontros com jovens universitários ligados ao efervescente movimento negro socialista que começava e despontar naquele momento no Brasil.[xviii] Entre outros escândalos de racismo e de violência policial, a tortura e assassinato do comerciante negro Robson Silveira da Luz, retratada num artigo do jornalista e militante Hamilton Cardoso,[xix] motivaria uma enorme manifestação de protesto, no dia 7 de julho de 1978, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. Com a presença de lideranças negras de diversas gerações, essa manifestação foi um passo importante para a criação do Movimento Negro Unificado (MNU).
É provável que as posições defendidas pelos militantes dos Panteras Negras tenham moldado a leitura e a incorporação que Florestan Fernandes faz dos livros de Fanon. Coordenador da Coleção Grandes Cientistas Sociais, publicada pela editora Ática, Florestan chegou a pedir, no final dos anos 1970, para Renato Ortiz elaborar um volume especial sobre Fanon. [xx] Em 1980, por reinvindicação dos alunos, Florestan Fernandes ministrou uma aula com o título: “Nos marcos da violência”. No final da sua explanação, Florestan argumenta que o papel do sociólogo militante é ajudar o operário a compreender que: “luta de classes é violência recíproca e que as classes trabalhadoras só podem liberar-se, em qualquer sentido e em qualquer direção, através do emprego maduro de sua capacidade política de usar construtivamente a violência revolucionária”.[xxi]
No ano seguinte, Florestan publica O que é revolução. Nesse livro, Florestan sugere às pessoas revolucionárias que leiam e releiam o Manifesto comunista, de Marx, mas não como se fosse um catecismo, uma vez que, “o mundo histórico para o qual ele foi calibrado não existe mais.” [xxii] Ao ser questionado sobre as condições de uma revolução socialista no Brasil atual, Florestan cita Fanon: “Esse é o grande dilema do cientista social: hoje você não tem como identificar uma classe que pareça vinculada à negação da ordem. Eu acredito que na periferia o problema é mais simples. São os trabalhadores e principalmente os excluídos, os que Frantz Fanon chamou de ‘condenados da terra’. Eles contêm a radicalização maior, aquela que exige que a ordem existente seja virada de cabeça para baixo”.[xxiii]
Excerto da entrevista de Florestan Fernandes a Paulo Moreira Leite, dia 2 de agosto de 1995.[xxiv]
“Florestan Fernandes – Num país como os Estados Unidos, a severidade com que operam as forças da ordem é esmagadora. Eu estava no Canadá quando os Panteras Negras foram perseguidos, pude acompanhar o que de fato estava acontecendo através dos jornais do Canadá e dos Estados Unidos, através de fontes pessoais e nas minhas idas aos Estados Unidos.
Os Panteras usavam aquela arma como símbolo de autodeterminação, quer dizer, aquela era a marca de que eles se defenderiam e poderiam também atacar na defesa de certos princípios. Mas aqueles eram símbolos, na verdade, a atividade prática deles era muito mais assistencial, por exemplo, no Harlem. [xxv]
Paulo Moreira Leite – Eles faziam trabalho assistencial no Harlem?
Florestan Fernandes – Em várias regiões. Eles tinham consciência de que constituíam um grupo pequeno e que não poderiam propor uma solução revolucionária efetiva e imediata.
A elaboração do pensamento deles era complexa, porque fazia uma síntese entre conhecimentos da África e conhecimentos ocidentais. Em longo prazo, eles eram revolucionários, porque diziam que a alternativa do negro era atingir a igualdade que não estava na mudança gradual, mas em transformações profundas da ordem existente. Uma coisa é o que se pensa com relação a um futuro que é remoto e que pode definir princípios gerais de uma filosofia política, e outra coisa é pôr isso em prática com a ideia de estabelecer uma ponte entre o presente e o futuro de uma forma funcional, de modo que atingisse a população branca.
O que veio em seguida? Veio a insubordinação dos Panteras, que não aceitavam de uma forma passiva a dominação racial, eles acabaram sendo definidos como inimigos da ordem que deveriam ser destruídos. Então, o raciocínio básico era: o bom Pantera é o Pantera morto.
Paulo Moreira Leite – Eles mataram muitos.
Florestan Fernandes – A polícia era chamada e sobre isso tem muito material na imprensa norte-americana e canadense, nas revistas e agora também em análises.
Paulo Moreira Leite – Uma vez esteve um Pantera Negra na casa do senhor?
Florestan Fernandes – Eu omito.
Com essa ideia macabra de que o bom Pantera é um Pantera morto, quando os Panteras se reuniam em um local, em prédios de apartamentos, por exemplo, a polícia já era avisada e surgia ali para prender e levar para a cadeia, submeter a processo jurídico. Surgia atirando para exterminar”.[xxvi]
*Paulo Fernandes Silveira é professor da Faculdade de Educação da USP e pesquisador no Grupo de Direitos Humanos do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Notas
[i] LEITE, Paulo Moreira. O mestre que veio de baixo. In. LEITE, P. A mulher que era o general da casa: histórias da resistência civil à ditadura. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2012, p. 76-91.
[ii] A transcrição das entrevistas está acessível para consulta na Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos. A cópia digitalizada desse arquivo me foi presenteada pelo meu amigo Diogo Valença de Azevedo Costa, professor e pesquisador da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
[iii] Seu nome original era Black Panther Party for Self-Defense. Sobre a história do movimento Black Power, conferir o livro: OGBAR, Jeffrey. Black power: radical politics and african american identity. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2019.
[iv] Conferir sobre o tema dos protestos não-violentos: SILVEIRA, Paulo. Lutas e canções contra a segregação racial nos Estados Unidos, Jornal GGN, 19/02/2022. Disponível em: https://jornalggn.com.br/eua-canada/lutas-e-cancoes-contra-a-segregacao-racial-nos-estados-unidos-por-paulo-fernandes-silveira/
[v] TURE, Kwame (Stokely Carmichael); HAMILTON, Charles. Black Power: a política de libertação nos Estados Unidos. São Paulo: Jandaíra, 2021.
[vi] X, Malcolm. O voto ou a bala. In: X, Malcolm. Fala. São Paulo: UBU editora, 2021, p. 44-85.
[vii] TURE, Kwame (Stokely Carmichael). Que queremos, Cuadernos de Marcha, (edição especial sobre “El poder Negro”), n. 12, 119-125, abril de 1968. Disponível em: https://anaforas.fic.edu.uy/jspui/handle/123456789/38806
[viii] NEWTON, Huey. To die for the people. The writings of Huey P. Newton. New York: Vintage Books, 1972, p. 4.
[ix] FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. Sobre a contraviolência em Fanon, conferir o texto: BUTLER, Judith. Violencia, no violência. Sartre en torno a Fanon. In. FANON, Frantz. Piel negra, máscaras blancas. Madrid: Ediciones Akal, 2009, p. 193-216.
[x] NEWTON, Huey. To die for the people. The writings of Huey P. Newton. New York: Vintage Books, 1972, p. 18. Sobre a influência de Fanon nas posições de Huey Newton, conferir o livro: SEALE, Bobby. Agarrar el tiempo. La historia del Black Panther Party y Huey P. Newton. Madrid: Postmetropolis Editorial; Euro-Mediterranean University Institute, 2018, p. 39-49.
[xi] Segundo Marx, nas insurreições de 1848, pessoas do lumpemproletariado lutaram por dinheiro contra operários franceses: “Com essa finalidade o governo provisório instituiu os 24 batalhões da Guarda Móvel, cada um composto de mil homens recrutados entre os jovens de quinze a vinte anos oriundos, em grande parte, do lumpemproletariado, que, em todas as grandes cidades, compunha uma massa que se distinguia claramente do proletariado industrial e na qual eram recrutados ladrões e criminosos de todo tipo, que viviam das sobras da sociedade, gente sem trabalho fixo, vadios (…), capazes dos maiores heroísmos e da mais exaltada abnegação, bem como do mais ordinário banditismo e da mais nojenta venalidade.” MARX, Karl. As lutas de classes na França. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012, p. 55.
[xii] DAVIS, Angela. (Ed.). If they come in the morning: voices of resistance. London; New York: Verso, 2016, p. 36. Tradução do capítulo citado disponível em: https://revistageni.org/11/prisioneirxs-politicxs-prisoes-e-libertacao-negra/?fbclid=IwAR2m6qHT1MtIdArJ-joeSis3OLcRfN3GGBoEhh6ah5i4vm2RUySP4SCTQ0E Os Panteras Negras pretendiam ser representantes da massa proletária (lumpemproletariat): TURE, Kwame (Stokely Carmichael). Stokely fala. Do poder preto ao pan-africanismo. Diáspora Africana: Editora Filhos da África, 2017, p. 219. Sobre o poder revolucionário do lumpremproletariat para os Panteras Negras, conferir o texto: CLEAVER, Eldridge. On the ideology of the Black Panther. Part 1. São Francisco: Ministry of Information Black Panther Party, 1967. Disponível em: http://www.freedomarchives.org/Documents/Finder/Black%20Liberation%20Disk/Black%20Power%21/SugahData/Books/Cleaver.S.pdf Tradução disponível em: https://traduagindo.com/2019/05/26/sobre-a-ideologia-do-partido-dos-panteras-negras/
Os Panteras Negras chegaram a ter uma banda de soul com o nome The Lumpen, conferir o livro: VINCENT, Rickey. Party music: the inside story of the Black Panthers’ band and how black power transformed soul music. Chicago: Chicago Review Press, 2013. Entre 1970 e 1972, em apoio aos Panteras Negras, universitários alemães editaram o periódico Voice of the Lumpen. Disponível em: https://content.wisconsinhistory.org/digital/collection/p15932coll8/id/35459
[xiii] Conferir reportagem: “1º Colóquio do Negro Brasileiro”, Jornal Quilombo, ano II, n.10, 3, jun-jul 1950. Disponível em: https://ipeafro.org.br/acervo-digital/leituras/ten-publicacoes/jornal-quilombo-no-10/ Nessa edição, o nome de Florestan Fernandes está registrado como: Florestino Fernandes.
[xiv] Conferir o livro: BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo. São Paulo: Anhembi, 1955.
[xv] Conferir o texto assinado pela Diretoria executiva da Associação Cultural do Negro: “O ano 70 da Abolição”, Cadernos de Cultura da ACN, n. 1, 4, 1958. Disponível em: https://lemad.fflch.usp.br/node/43
[xvi] Entre os doutorados orientados por Florestan sobre o tema destacam-se: CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003; IANNI, Octávio. As metaformoses do escravo: apogeo e crise da escravatura no Brasil Meridional. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962.
[xvii] Alguns desses textos de Florestan encontram-se nas coletâneas: FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Divisão Europeia do Livro, 1972; FERNANDES, Florestan. Significado do protesto negro. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989.
[xviii] Sobre esses encontros de Florestan com o movimento negro, conferir a entrevista de Milton Barbosa (Miltão): DALLE, Isaías. Miltão, do Movimento Negro Unificado: “Com certeza, vamos avançar”, Periferias. Fundação Perseu Abramo, 29/12/2020. Disponível em: https://fpabramo.org.br/2020/12/29/miltao-do-movimento-negro-unificado-com-certeza-vamos-avancar/
[xix] CARDOSO, Hamilton. Cerimônias para o assassinato de um negro, Jornal Versus, n. 22, 38-39, jun-jul 1978. Disponível em: http://www.marcosfaerman.jor.br/Versus22.html?vis=facsimile Sobre os trabalhos e a militância de Hamilton Cardoso, conferir o artigo: OLIVEIRA, Fábio; RIOS, Flávia. Consciência Negra e Socialismo: a trajetória de Hamilton Cardoso (1953-1999), Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 4, n. 2, 507-530, 2014. Disponível em: https://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/249
[xx] Conferir sobre esse tema: ORTIZ, Renato. Frantz Fanon: um itinerário político e intelectual, Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 4, n. 2, 425-442, 2014. Disponível em: https://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/241
[xxi] FERNANDES, Florestan. Nos marcos da violência. In. FERNANDES, F. A ditadura em questão, São Paulo: T. A. Queiroz, 1982, p. 162. Sobre a contraviolência em Fanon e Florestan, conferir o texto: SILVEIRA, Paulo. A contraviolência em Fanon e Florestan, Psicanalistas pela democracia, janeiro de 2019. Disponível em: https://psicanalisedemocracia.com.br/2019/01/a-contraviolencia-em-fanon-e-florestan-por-paulo-henrique-fernandes-siqueira/
[xxii] FERNANDES, Florestan. O que é revolução. São Paulo: Expressão Popular, 2018, p. 50.
[xxiii] FERNANDES, Florestan. Florestan Fernandes por Paulo de Tarso Venceslau. In: AZEVEDO, R.; MAUÉS, F. (Orgs.). Rememória: entrevistas sobre o Brasil do século XX. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1997, p. 23. Disponível em: https://fpabramo.org.br/publicacoes/estante/rememoria-entrevistas-sobre-o-brasil-do-seculo-xx/
[xxiv] LEITE, Paulo Moreira. Entrevista: Florestan Fernandes [19950802]. São Carlos: Fundo Florestan Fernandes (FFF). Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos, 1995, p. 13-15.
[xxv] Entre os programas sociais desenvolvidos pelos Panteras Negras estão as refeições gratuitas para jovens estudantes carentes e os atendimentos médicos comunitários. Sobre esse tema, conferir o livro: HILLIARD, David (Ed.). The Black Panther Party: service to the people programs. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2008. Disponível em: https://caringlabor.wordpress.com/ Influenciados pelos Panteras Negras, Steve Biko e o movimento da Consciência Negra também desenvolveram programas sociais na África do Sul: HADFIELD, Leslie. Restoring human dignity and building self-reliance: youth, woman, and churches and Black consciousness community development, South Africa, 1969-1977. Tese de Doutorado, Michigan State University, 2010. Disponível em: https://d.lib.msu.edu/etd/10269. Conferir também: SILVEIRA, Paulo. Paulo Freire e Steve Biko, A Terra é Redonda, 19/12/2021. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/paulo-freire-e-steve-biko/
[xxvi] Na edição de 13 de dezembro de 1969 da revista The Black Panther, as principais lideranças dos Panteras Negras prestam homenagens aos militantes Fred Hampton e Mark Clark, assassinados em seus apartamentos por agentes da polícia. Disponível em: https://www.marxists.org/history/usa/pubs/black-panther/04%20no%202%201-20%20dec%2013%201969.pdf Nesse mesmo ano, Hannah Arendt publicou um ensaio a partir dos seus artigos redigidos para a grande imprensa em que analisa a violência estudantil nas universidades americanas: “A violência séria tomou conta da cena apenas com a aparição do movimento Black Power nos campi. Estudantes negros, a maioria dos quais admitida sem qualificação acadêmica, conceberam-se e organizaram-se como grupo de interesse, os representantes da comunidade negra.” ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994, p. 22. Na sequência do ensaio, Arendt critica a leitura que Fanon e os estudantes fizeram dos textos de Marx e Engels, pelo fato de tomarem o lumpenproletariat como uma classe social revolucionária e, mesmo assim, se afirmarem marxistas.
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Fonte - Site: A Terra é Redonda
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-46510832663793201152022-09-30T18:56:00.000-03:002022-09-30T18:56:19.929-03:00Carolina Maria de JesusCarolina Maria de Jesus
Escritora brasileira
Por Dilva Frazão
Biblioteconomista e professora
Biografia de Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma autora brasileira, considerada uma das primeiras e mais destacadas escritoras negras do País.
Ela é autora do livro best seller autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.
A origem de Carolina
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, Carolina cresceu em uma família com mais sete irmãos.
A jovem recebeu o incentivo e a ajuda de Maria Leite Monteiro de Barros – uma das freguesas de sua mãe – para frequentar a escola. Com sete anos, ingressou no colégio Alan Kardec, onde cursou a primeira e a segunda série do ensino fundamental.
Apesar de pouco tempo na escola, Carolina logo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita.
Em 1924, em busca de oportunidades, sua família mudou-se para Lageado, onde trabalharam como lavradores em uma fazenda. Em 1927, retornaram para Sacramento.
A mudança para São Paulo
Em 1930 a família vai morar em Franca, São Paulo, onde Carolina trabalha como lavradora e, em seguida, como empregada doméstica.
Com 23 anos, perde a sua mãe e vai para a capital onde emprega-se como faxineira na Santa Casa de Franca e, mais tarde, como empregada doméstica.
Em 1948 muda-se para a favela do Canindé. Nos anos seguintes, Carolina foi mãe de três filhos, todos de relacionamentos diferentes.
Carolina e a literatura
Morando em uma favela, durante a noite trabalha como catadora de papel. Lê tudo que recolhe e guarda as revistas que encontra. Estava sempre escrevendo o seu dia a dia.
Em 1941, sonhando em ser escritora, vai até a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas. No dia 24 de fevereiro, o seu poema e a sua foto são publicados no jornal.
Carolina continuou levando regularmente os seus poemas para a redação do jornal. Por esse motivo acabou sendo apelidada de “A Poetisa Negra” e era cada vez mais admirada pelos leitores.
Em 1958, o repórter do jornal Folha da Noite, Audálio Dantas, foi designado para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e, por acaso, uma das casas visitadas foi a de Carolina Maria de Jesus.
Carolina lhe mostrou o seu diário, surpreendendo o repórter. Audálio ficou maravilhado com a história daquela mulher.
A publicação de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”
No dia 19 de maio de 1958, Audálio publicou parte do texto, que recebeu vários elogios. Em 1959, a revista O Cruzeiro também publica alguns trechos do diário.
Somente em 1960 foi finalmente publicado o livro autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, com edição de Audálio Dantas.
Com uma tiragem de dez mil exemplares, só durante a noite de autógrafos foram vendidos 600 livros.
O sucesso de Carolina
Com o sucesso das vendas, Carolina deixa a favela e pouco depois compra uma casa no Alto de Santana.
Recebe homenagem da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo.
Em 1961, a autora viaja para a Argentina onde é agraciada com a “Orden Caballero Del Tornillo”.
Nos anos seguintes, Carolina publica:
• “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada” (1961)
• “Pedaços da Fome” (1963)
• “Provérbios” (1965)
O declínio de Carolina
Apesar de ter um livro transformado em best seller, Carolina não se beneficiou com o sucesso e não demorou muito para voltar à condição de catadora de papel.
Em 1969, mudou-se com os filhos para um sítio no bairro de Parelheiros, em São Paulo, época em que foi praticamente esquecida pelo mercado editorial.
Carolina Maria de Jesus faleceu em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.
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Por Fernanda Fernandes
Arte de Antonio Hauaji/ MultiRio sobre selo comemorativo da Academia Maranhense
Maria Firmina dos Reis foi uma escritora negra considerada a primeira romancista brasileira. Nasceu no Maranhão, em 11 de março de 1822.
Sua obra Úrsula é precursora da temática abolicionista na literatura do país. O romance é considerado, ainda, o primeiro no gênero a ser publicado por uma mulher negra em todos os países de Língua Portuguesa.
Maria Firmina denunciou a condição crítica e o cenário de desigualdade vivido pelos escravizados e pelas mulheres no século XIX.
Foi professora, poeta, compositora e colaboradora de jornais do Maranhão, numa época em que a educação feminina era restrita aos cuidados com a casa e com a família.
Como educadora, fundou uma escola mista (para meninos e meninas) no Maranhão, a primeira do estado e uma das primeiras do país, no início da década de 1880.
Morreu aos 95 anos, pobre e cega, no município de Guimarães (MA). Em sua homenagem, no dia 11 de março é comemorado o Dia da Mulher Maranhense.
Até hoje, informações equivocadas sobre sua biografia e sobre sua imagem circulam em diferentes mídias.
Quem foi Maria Firmina dos Reis
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís, capital do Maranhão. Sua mãe, Leonor Felippa dos Reis, foi uma escravizada alforriada. Seu pai, João Pedro Esteves, um homem de posses, sócio do Comendador Caetano José Teixeira — a quem sua mãe serviu.
A informação sobre a paternidade não consta no documento de batismo de Firmina, apenas na certidão de óbito, redigida no dia 11 de novembro de 1917.
Aos 5 anos, Maria Firmina ficou órfã e se mudou para a cidade de Guimarães, no interior do Maranhão, para viver na casa da tia materna. Lá, formou-se professora — não há informações sobre como foi essa formação — e, aos 25 anos, foi aprovada em um concurso público para lecionar Primeiras Letras.
Maria Firmina exerceu o magistério por muitos anos e recebeu o título de Mestra Régia. Na imprensa local, publicou poesia, ficção, crônicas e até enigmas e charadas.
Quando se aposentou, no início da década de 1880, fundou em Maçaricó a primeira escola mista do Maranhão, gratuita para os alunos cujos pais não tinham condição de pagar.
As atividades da escola acabaram sendo suspensas depois de dois anos e meio por causar grande polêmica na época. Afinal, era comum que meninos e meninas frequentassem turmas distintas.
Maria Firmina nasceu no dia 11 de março de 1822, e não em 11 de outubro de 1825. A informação foi revelada apenas em 2017, pela pesquisadora Dilercy Aragão Adler, em Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, com base em documentos encontrados no Arquivo Público do Maranhão e até então inéditos.
O livro de Adler também esclareceu a condição social da mãe de Maria Firmina. Muitos sites e publicações referem-se à matriarca como sendo portuguesa ou apenas como “mulher branca”.
Outro equívoco sobre Maria Firmina diz respeito a sua imagem. Seu retrato é comumente associado à figura da escritora gaúcha Maria Bormann, contemporânea a ela.
Úrsula: a principal obra de Maria Firmina
O romance Úrsula foi publicado em 1859. A história conta com protagonistas brancos, mas, pela primeira vez na literatura brasileira, personagens negros têm voz.
Na obra, africanos e afro-brasileiros refletem sobre as relações opressivas que enfrentavam em uma sociedade escravista e patriarcal. Por isso, este considerado, também, o primeiro romance da chamada literatura afro-brasileira.
O Navio Negreiro (1870), de Castro Alves, e A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães, obras amplamente conhecidas no Brasil, foram publicados anos depois do romance de Firmina.
“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos às praias brasileiras. [...] É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!”, recorda a africana Preta Susana, uma das personagens de Úrsula.
A condição da mulher na sociedade da época pode ser observada já no prólogo do romance, assinado com o pseudônimo “Uma Maranhense”.
"Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem; com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo."
Poesias de Maria Firmina e outras publicações
Reprodução do periódico A Imprensa, de 8 de agosto de 1860 (Fonte: BN Digital/ Domínio Público)
Além de Úrsula, a escritora escreveu outras duas narrativas de ficção e um volume de poemas. Também constam como sendo de sua autoria composições musicais reveladas pelo pesquisador José Nascimento Morais Filho. Confira.
- Gupeva (1861)
Gupeva é um conto que trata da história do indígena de nome homônimo ao do título e de sua filha de criação, Épica. No enredo, a personagem se apaixona pelo marinheiro francês Gastão, mas descobre que ele é seu irmão - filho de sua falecida mãe com um conde francês.
O encontro entre Gupeva e Gastão torna-se um confronto entre Brasil e França, com um final trágico. A narrativa ocorre por meio de flashbacks, como outras de Maria Firmina, e foi publicada em capítulos na imprensa maranhense, com várias edições ao longo da década de 1860.
- Cantos à beira-mar (1871)
O livro reúne 56 poesias e é dedicado à memória da mãe de Maria Firmina. A temática é variada. O mar e a praia estão presentes nas poesias, referência à cidade litorânea de Guimarães, onde a autora passou grande parte da vida.
A exaltação da terra e o nacionalismo, a desesperança e os amores não correspondidos, além da crítica velada contra a opressão patriarcal são outros temas presentes nas poesias.
- A Escrava (1887)
No conto, publicado na Revista Maranhense, a autora assume uma postura crítica ao escravismo e dá voz à mulher abolicionista e à mulher escravizada. Descreve o sofrimento por castigos físicos, pela falta de liberdade e, principalmente, pela separação entre mães e filhos.
Escultura criada pelo artista plástico Flory Gama a partir de retrato falado colhido pelo biógrafo da autora. Atualmente, a obra está no Museu Histórico e Artístico do Maranhão (Foto: Ramses Santos/ Wikimedia Commons)
A narrativa tem início em um salão com pessoas distintas da sociedade que, entre outros assuntos, discutem a questão da servidão.
“Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um grande mal. [...] O escravo é olhado por todos como vítima – e o é. O senhor, que papel representa na opinião social? O senhor é o verdugo – e esta qualificação é hedionda”, diz um trecho da obra.
Verdugo: Indivíduo que executa a pena de morte ou outros castigos corporais; algoz, carrasco, executor. Pessoa cruel, que inflige maus-tratos a alguém. Hediondo: Que é considerado desprezível ou ignóbil, do ponto de vista moral; abjeto, depravado, sórdido.
Fonte: Dicionário Michaelis On-line.
- Composições musicais
Firmina foi autora de sete composições com letra e música, entre elas Auto de Bumba-meu-Boi e Hino à Liberdade dos Escravos.
A informação foi revelada pelo pesquisador José Nascimento Morais Filho, com base em relatos orais de contemporâneos da escritora maranhense.
No hino sobre a abolição da escravatura, dizia: “Quebrou-se enfim a cadeia/ Da nefanda Escravidão!/ Aqueles que antes oprimias/ Hoje terás como irmão!.”
Homenagens no Maranhão e reconhecimento gradativo no Brasil
Maria Firmina dos Reis faleceu em 1917. Em sua homenagem, no dia 11 de março é comemorado o Dia da Mulher Maranhense.
Maria Firmina vem ganhando reconhecimento por parte da sociedade brasileira nos últimos anos, embora tenha ficado esquecida por aproximadamente um século. Em 2017, por ocasião do centenário da morte da autora, seus livros foram relançados.
Fontes:
Literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Maria Firmina dos Reis.
Fundação Biblioteca Nacional. Maria Firmina dos Reis, primeira autora brasileira.
CRUZ, Mariléia dos S.; MATOS, Érica; SILVA, Ediane. “Exma. Sra. d. Maria Firmina dos Reis, distinta literária maranhense”: a notoriedade de uma professora afrodescendente no século XIX. Feusp / Univ. Autònoma de Barcelona, 2018.
REIS, Maria Firmina dos, 1825-1917. Úrsula e outras obras [recurso eletrônico] / Maria Firmina dos Reis. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018.
SANTOS, Carla Sampaio dos. A escritora Maria Firmina dos Reis : história e memória de uma professora no Maranhão do século XIX. Unicamp – Campinas, SP: 2016.
SIMÕES, Bárbara. A escrita de Maria Firmina dos Reis: Soluções para um problema existencia. Programa Nacional de Apoio à Pesquisa, 2012. Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura.
ZIN, Rafael Balseiro. A Dissonante representação imagética de Maria Firmina dos Reis: da simples denúncia às formas encontradas para se desfazer os equívocos. Estudos Linguísticos e Literários/ Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.
Blog A Arte literária, do escritor e pesquisador Sérgio Barcellos Ximenes.
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Cultura Afro-Brasileira | Literatura Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-37581999121242918702021-07-05T15:05:00.001-03:002021-07-05T15:05:49.589-03:00Movimento Negro Unificado
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Movimento Negro Unificado (MNU) é um grupo de ativismo político, cultural e social de relevante trajetória no âmbito do movimento negro no Brasil.
A fundação do movimento foi deliberada em uma reunião de entidades negras realizada em São Paulo em 18 de junho de 1978, com o fim de "defender a comunidade afro-brasileira contra a secular exploração racial e desrespeito humano a que a comunidade é submetida", "para que os direitos dos homens negros sejam respeitados", e para organizar o ativismo em ampla escala, "levando o negro a participar em todos os setores da sociedade brasileira". Participaram da reunião a Câmara de Comércio Afro-Brasileira, o Centro de Cultura e Arte Negra, a Associação Recreativa Brasil Jovem, a Afrolatino América, a Associação Casa de Arte e Cultura Afro-Brasileira, a Associação Cristã Beneficente do Brasil, o Jornegro, o Jornal Abertura, o Jornal Capoeira, a Company Soul e a Zimbabwe Soul.[1] Sua primeira atividade foi a organização de um ato público contra o racismo, realizado em 7 de julho do mesmo ano, reunindo cerca de 2 mil pessoas, protestando contra a discriminação sofrida por quatro jovens no Clube de Regatas Tietê e contra a morte de Robson Silveira da Luz, torturado no 44º Distrito de Guainases.[2]
Em sua origem se denominava Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, abreviado para Movimento Negro Unificado em 1979.[3] A criação do MNU geralmente é reconhecida como um marco no movimento negro brasileiro, assinalando a retomada do ativismo que fora desmantelado pela ditadura militar, e até hoje é uma das entidades mais importantes em seu gênero no país, sendo uma referência para muitos outros grupos.[2][4][5]
Seu aparecimento foi influenciado pelas lutas a favor dos direitos dos negros dos Estados Unidos, por movimentos de libertação dos países africanos como Guiné Bissau, Moçambique e Angola, e por correntes de pensamento marxista. Neste contexto, o MNU inicialmente assumiu um discurso politizado radical, compreendendo a luta contra o racismo como parte da luta contra o capitalismo. Diz Petrônio Domingues que "a política que conjugava raça e classe atraiu aqueles ativistas que cumpriram um papel decisivo na fundação do Movimento Negro Unificado: Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei José Maria, Milton Barbosa, Rafael Pinto, Jamu Minka e Neuza Pereira".[2] Para Maria Angelica Motta-Maués, o MNU também lutava contra a ditadura, e reeditava amplificadamente "a pretensão dos ativistas da primeira grande organização negra pós-abolição: a Frente Negra Brasileira, criada em 1931".[3]
Mais tarde o MNU abriu núcleos em vários estados e expandiu seu escopo de atuação e suas filosofias orientadoras, incluindo em sua pauta de projetos e atividades a denúncia do mito da democracia racial brasileira, a conscientização política da população negra e popularização do movimento, o engajamento dos sindicatos e partidos políticos, a busca de alianças nacionais e apoios internacionais, a introdução da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares, a promoção do acesso dos negros a todos os níveis educacionais, a criação de bolsas para permanência dos alunos nas escolas, a releitura crítica da história e da identidade nacionais, o combate aos discursos hegemônicos, à marginalização, à violência policial, ao desemprego e à pobreza, a busca de melhores condições de vida em geral, o fortalecimento da identidade do negro no país e a afirmação de seu importante papel histórico, cultural e social, a valorização das raízes africanas e a recuperação da memória.[2][4][3][6]
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-32065509076506781012021-07-05T14:43:00.001-03:002021-07-05T14:43:32.731-03:00O Julho das Pretas é uma ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimento de mulheres negras do Brasil, voltada para o fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade. A ação foi criada em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, e celebra o 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha.
O Julho das Pretas todos os anos traz temas importantes e necessários relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, colocando a pauta e agenda política das mulheres negras em evidência.
Neste ano (2021), a 9ª edição do Julho das Pretas está trabalhando com o tema geral: Para o Brasil Genocida, Mulheres Negras apontam a Solução! O Julho está denunciando o genocídio da população negra brasileira, em curso desde a fundação da nação, e intensificado durante a pandemia da covid-19. Por outro lado, neste mesmo Julho, temos a coragem de ecoar do Oiapoque ao Chuí, que Nós, Mulheres Negras, apontamos as soluções para incivilidade, o desgoverno e a naturalização de absurdos racistas, misóginos e patriarcais que estruturam o Brasil. O resultado disso você confere na agenda que conta com 312 atividades inscritas, um novo recorde.Fonte:Odara Instituto da Mulher NegraMovimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-17942711024957212882019-07-19T20:06:00.001-03:002019-07-19T20:06:07.287-03:00 Movimento Negro UnificadoDezoito de junho de dois mil e dezoito. 0 Movimento Negro Unificado completará quarenta anos desde a sua criação. O lançamento público foi no dia 7 de julho, numa ato contra o racismo nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo.
Por Iêda Leal enviado para o Portal Geledés
Fazem quarenta anos que a bandeira amarela do MNU tremula, não tão somente nas escadarias do Teatro Municipal, mas em todas as unidades da Federação, em todas as capitais dos estados brasileiros. E nesses quarenta anos de luta, nós procuramos olhar para frente, para os desafios postos às conquistas que perseguimos, mas também olhamos no retrovisor: qual era o mote da nossa luta lá em 1978, qual era a nossa narrativa, qual era a nossa discussão, quais eram as denúncias que nós oferecíamos ao Estado brasileiro, a partir das nossas manifestações nas ruas, nas escolas, nas várias ações que procurávamos empreender, contando sempre com a necessidade de construir uma ampla aliança com os outros segmentos do movimento negro no Brasil? E quando olhamos para o passado, observamos que o nosso eixo de lutas é exatamente o eixo de lutas que nós referenciamos hoje. Em 1978, nós estávamos dentro de uma grande repressão, por que o Estado brasileiro agudizava o regime militar, que registrava dez anos de A.I.-5. Em 1978, nós tínhamos a convicção de que a luta contra o racismo e a discriminação racial nesse país, só teria êxito quando nós reconhecêssemos que o Estado Brasileiro é racista. Não era tão somente pensar a sociedade brasileira como uma sociedade racista, mas também denunciar um Estado que não só não cumpria a sua prerrogativa Constitucional de proteger, preservar os interesses e a vida plena de negros e negras, mas, mais do que isso, era preciso identificar que a omissão do Estado Brasileiro redundava em situações que incidiam diretamente na baixa qualidade de vida, sobretudo do povo negro do nosso país.
Hoje, em 2018, nós não vivemos propriamente a ditadura militar, mas temos uma democracia golpeada, fortemente golpeada, pelas mesmas classes burguesas, pelas mesmas elites, em sua maioria homens ricos e brancos, que se empoderaram e põem em curso uma alternativa zero para a maioria da população trabalhadora, para a maioria dos negros e negras.
De 1978 a 2018, portanto decorridos quarenta anos das lutas empreendidas pelo MNU, desde aquele contexto de retomada da luta racial do Brasil, vimos mais que dobrar a população brasileira; vimos mais que dobrar o percentual de homens e mulheres que se auto definem, junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como pretos e pardos. Hoje, a cada dez pessoas nesse país, três são mulheres negras. Entretanto, indicadores sociais sobre desigualdade salarial – por exemplo, a pesquisa: “a distância que nos une num retrato das desigualdades brasileiras”, realizada pela ONG Britânica Oxfam, que se dedica ao combate à pobreza e à promoção da justiça social –, projetam que nós só vamos atingir igualdade salarial em 2089. Isto significa dizer que em termos de ganhos entre brancos e negros, especialmente entre mulheres brancas e mulheres negras pelo menos, nos próximos 72 anos, nós ainda não teremos remunerações iguais.
E no pico da dramática radiografia da sociedade brasileira, o que é mais perverso é que nós somos o alvo principal da violência instalada e agravada com o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousself. É a população negra a mais afetada também pela violência, seja a mais sutil ou a mais escancarada. Somos nós os mais vulneráveis ao assédio moral, como afirma o Ministério Público do Trabalho, porque no mercado de trabalho somos os que enfrentam as maiores dificuldades na progressão da carreira.
Por outro lado, o Atlas da Violência, publicado em 2017, revela que em 100 indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios, 80 somos nós, homens e mulheres negros e negras. Não é verdade que nós encontraremos uma saída para a destruição efetiva do racismo e da discriminação racial se não fizermos valer, ainda hoje, em 2018, o que fizemos em 1978, o enfrentamento ao Estado racista. Se vivíamos em 1978 o mito da democracia racial latejante em todos os quadrantes do Estado Brasileiro, vivemos em 2018 ainda o racismo reinventado na veia do próprio Estado quando a chamada grande mídia, exclusivista, racista e também golpista insisti em omitir nos seus noticiários que atualmente, ainda conforme o Atlas da Violência 2017, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras e na maioria das vezes, em 78,9% dos casos de mortes violentas praticadas sob a mira do Estado Brasileiro, através das suas polícias, quem tomba são os nossos jovens negros e negras.
Não menos alarmante é observar que as mulheres negras são as mais vitimadas pela violência doméstica, de acordo com a central de atendimento à mulher em 2015, 58,68% eram compostos de mulheres negras. E nesse quadro de violências, a prática de feminicídio de mulheres negras também aumentou se comparada às taxas de assassinato de mulheres pela sua condição de gênero entre as mulheres brancas. O mapa da violência em 2015, elaborado pela Faculdade Latino-americana de Estudos Sociais mostra que entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu em 54%, enquanto o índice de feminicídio para mulheres brancas caiu 10% no mesmo período de tempo. São também as mulheres negras as mais atingidas pela violência obstetrícia. Segundo dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz, 65,4% das mulheres atingidas pela violência obstetrícia são mulheres negras e pela mortalidade materna, estas representam 53,6%.
Os dados sobre a violência contra o povo negro estão em todos os recantos. Quando observamos a situação da população prisional, no Brasil esta representa a quarta maior em relação a todo globo. Nós só estamos atrás da China, da Rússia e dos Estados Unidos, e de acordo com o levantamento nacional de informações penitenciárias, publicado no INFOPEN, mais da metade dos encarcerados são exatamente os pretos e pardos. Ou seja, dos 622 mil brasileiros privados de liberdade, mais de 300 presos para cada 100 mil habitantes, são os nossos jovens, homens e mulheres negros e negras.
E é preciso que se diga que a violência física contra a população negra no país, a ela se segue a violência simbólica, que se expressa, por exemplo, na representatividade da população negra, nas artes, na literatura, no cinema, no teatro, no circo, nos espaços de criatividade neste país, que são fomentados pelo Estado Brasileiro. Em relação à literatura, dados de uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) revelaram que dos vários personagens retratados pela literatura nacional, somente 10% dos livros brasileiros publicados nos anos de 1965 a 2014 tiveram como autores homens e mulheres negros. Quando comparamos com o que diz pesquisa semelhante, publicada pela UERJ, no Rio de Janeiro, “a cara do cinema nacional”, homens negros representam apenas 2% do cinema nacional e absolutamente nenhuma mulher negra foi registrada nessa pesquisa como profissional que dirige, portanto por trás das câmeras. Quando olhamos para os nossos roteiristas, observamos através dessa pesquisa que 4% apenas são negros. Isso nos remete a pensar que ainda nas universidades que formam os profissionais nessa área de comunicação, apesar de toda a luta pelas cotas raciais para as universidades públicas, ainda tem um preenchimento mínimo da população negra. Por outro lado, a presença negra, a partir dessa mesma pesquisa feita pela UERJ, ainda está sobretudo associada a papéis voltados à violência e à criminalidade. Dentre todos os filmes analisados, 38% desses filmes, quando remetem a atores e atrizes que interpretam papeis associados à pobreza e a criminalidade, eram atores negros e negras.
Neste momento em que o Brasil vive uma situação semelhante àquela de 1978, a de um golpe de Estado, embora por uma nova modalidade baseada numa legalidade manipulada por segmentos do Poder Judiciário sob o tacão do capital internacional, a crise política arrasta a economia, gerando uma onda de desemprego. E nessa onda de desemprego, os mais atingidos novamente são os homens e mulheres negros e negras. Essa onda de desemprego atingiu com mais força exatamente a população brasileira que hoje representa 63,7% dos desocupados, o que corresponde à 8,3 milhões de pessoas, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio contínua, a PNAD contínua. Significa dizer que a taxa de ocupação de pretos e pardos ficou em 14,6% e entre os trabalhadores brancos o índice alcança menos de 10%. Como efeito, o rendimento médio de trabalhadores negros foi inferior aos trabalhadores brancos: 1,5mil reais para trabalhadores negros e negras e 1,7mil reais para trabalhadores brancos e brancas.
Diante desse quadro de desigualdades sociorraciais agravado pela violência ostensiva do Estado brasileiro, o MNU, 40 anos depois do seu surgimento, continua sublinhando que o racismo e a discriminação racial nesse país somente serão debelados mediante a ampla mobilização nacional de do povo negro na reconstrução, sempre, de novas perspectiva de lutas.
Na nova perspectiva de lutas, hoje, devemos incorporar como eixo a compreensão do processo histórico que resultou na empresa colonial na África e as suas consequências para a continuidade da tradição africana na plataforma diaspórica no Ocidente. A luta de classes, como referida tanto por intelectuais orgânicos como por intelectuais acadêmicos continua na proa da luta pela democracia, mas a democracia só vai ser conquistada, de fato, quando olharmos para dentro de nós mesmos, para o plano das nossas subjetividades recriadas na experiência afro-diáspora nossa e de nossos ancestrais. A destruição, portanto, do racismo em toda a sua dimensão objetiva, mas sobretudo subjetiva deve nos conduzir a uma postura decolonial. Tal postura nos impõe novos desafios… depende da remontagem simbólica do que fomos no passado longínquo, da análise do que nos transformamos sob o bastão do colonialismo e do que poderemos ser no contexto de um novo pensar, estruturado no reconhecimento, valorização e prática de valores civilizatórios afrocentrados.
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Era 15 de dezembro de 1909, num Brasil machista e preconceituoso, quando Maria Odília Teixeira, baiana de São Félix do Paraguaçu, superou as estatísticas e formou-se em medicina, sendo a primeira médica negra do Brasil. Como se não bastasse o feito inédito para a sua raça, a médica foi também a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia (cinco anos após conclusão de curso, lecionando Clínica Obstétrica), e inovou na sua tese inaugural quando pesquisou o tratamento da cirrose, enquanto as sete médicas anteriores debruçaram-se sobre tocoginecologia ou pediatria.
Seu pai, Dr. José Teixeira, era médico, mas de origem pobre; criou a família com muito sacrifício. E foi graças a ajuda de um dos irmãos (Tertuliano Teixeira), bacharel em Direito, que Maria Odília concluiu o curso de Medicina e tornou-se também a primeira mulher a ser diplomada em Medicina no Séc. XX.
“A humildade da família não foi uma barreira para o seu conhecimento cultural, muito pelo contrário. Minha mãe, sem nunca ter saído do Brasil, falava cinco línguas fluentemente, e não concebia como os professores ousavam ensinar o português, sem ao menos dominar o grego e o latim”, conta ao Cremeb o também médico José Leo Lavigne, um dos seus dois filhos.
O legado para a Medicina ultrapassa a pesquisa, docência e exercício da profissão quando o assunto gira em torno da Dra. Maria Odília Teixeira. Assim como o seu pai, ela segue sendo referência de conduta profissional para os demais familiares. Na carreira médica ela deixou um filho, dois netos e duas bisnetas, enquanto uma terceira bisneta cursa o sexto semestre da profissão. “Acredito que toda a minha paixão pelo cuidar veio da minha bisa Odília. Formar-se em Medicina sendo mulher negra há tanto tempo não deve ter sido fácil. Muita luta, muita força e muito amor”, detalha a bisneta Paula Lavigne, estudante de medicina.
“Exerceu a Medicina com dignidade, zelando pelos seus pacientes e respeitando a todos ao seu redor. Mulher meiga e forte, um exemplo de vida. Os seus passos também vêm guiando os meus”, conta a bisneta e médica oftalmologista, Luciana Lavigne. Já a bisneta Iana Lavigne, também médica oftalmologista, afirma ter “um estimado apreço e reconhecimento por sua honrosa história e trabalho, e isso se faz presente diariamente em minha vida profissional”.
A gana de uma mulher à frente do seu tempo era notória em diversas ações de Maria Odília. Ela encarou os feitos da ditadura do Estado Novo e defendeu sua família, em Ilhéus, em 1937, quando o seu marido Eusínio Gaston Lavigne teve o seu mandato de prefeito destituído. Quase trinta anos depois, em 1964, sofreu com a prisão de seu companheiro durante a ditadura militar. E, quando o político Ruy Santos planejou publicar um livro desmerecendo os feitos do seu pai – Teixeira Moleque, Ed. José Olympio, 1960 -, a primeira médica negra do Brasil lhe escreveu uma longa carta chamando atenção sobre o pretendia fazer.
Maria Odília, ao lado do seu marido, Eusínio Lavigne
Ao lembrar da referência cultural que a matriarca era para a família, um dos seus dois netos que seguiu a medicina, Eusínio Lavigne Neto, retoma um caso ainda da sua infância. “Certa feita, nós ganhamos uma gincana do colégio por causa dela. A missão era explicar a origem das nomenclaturas dos dias da semana, informação que não tinha nem enciclopédia Barsa. Não deu outra: ela sabia tudo e nós levamos a prova”, relembra.
Para dedicar-se à família, apesar de não haver exigência do marido, Dra. Maria Odília Teixeira abandonou a profissão médica. Naquela época, década de 1920, o movimento feminista acumulava os seus primeiros avanços e ainda não tinha obtido, por exemplo, direito ao voto para as mulheres. E foi nesse cenário que a primeira médica negra do Brasil escreveu o seu nome na história: com independência profissional, sendo exemplo para a juventude da sua família e símbolo de orgulho para a medicina, para as mulheres e para o povo negro.
fonte: www.cremeb.com.br
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As origens do Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha
Date: 24/07/2017
in: Mulher Negra
17793.7k512402113
A população negra corresponde a mais da metade dos brasileiros: 54%, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mujeres Afro. Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.
Primeira Marcha das Mulheres Negras em 2015, em Brasília (Thaís Mallon/Divulgação)
Por Helô D’Angelo Do Revista Cult
Quando se trata nas mulheres negras da região, a situação é ainda mais alarmante. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe.
Em um contexto de tanta violência, mulheres negras negras são mais vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio – de acordo com o Mapa da Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013 (enquanto os casos com vítimas brancas caíram 10%).
Barradas dos meios de comunicação, dos cargos de chefia e do governo, elas frequentemente não se vêem representadas nem nos movimentos feministas de seus países. Isso porque a desigualdade entre mulheres brancas e negras é grande: no Brasil, mulheres brancas recebem 70% a mais do que negras, segundo a pesquisa Mulheres e Trabalho, do IPEA, publicada em 2016. Há 25 anos, um grupo decidiu que uma solução só poderia surgir da própria união entre mulheres negras.
Em 1992, elas organizaram o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, em que discutiram sobre machismo, racismo e formas de combatê-los. Daí surgiu uma rede de mulheres que permanece unida até hoje. Do encontro, nasceu também o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, lembrado todo 25 de julho, data que foi reconhecida pela ONU ainda em 1992.
No Brasil – que tem o maior índice de feminicídios na América Latina -, a presidenta Dilma Rousseff transformou a data em comemoração nacional. Aqui, desde 2014, comemora-se em 25 de julho o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher
As origens do Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha
Date: 24/07/2017
in: Mulher Negra
17793.7k512402113
A população negra corresponde a mais da metade dos brasileiros: 54%, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mujeres Afro. Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.
Primeira Marcha das Mulheres Negras em 2015, em Brasília (Thaís Mallon/Divulgação)
Por Helô D’Angelo Do Revista Cult
Quando se trata nas mulheres negras da região, a situação é ainda mais alarmante. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe.
Em um contexto de tanta violência, mulheres negras negras são mais vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio – de acordo com o Mapa da Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013 (enquanto os casos com vítimas brancas caíram 10%).
Barradas dos meios de comunicação, dos cargos de chefia e do governo, elas frequentemente não se vêem representadas nem nos movimentos feministas de seus países. Isso porque a desigualdade entre mulheres brancas e negras é grande: no Brasil, mulheres brancas recebem 70% a mais do que negras, segundo a pesquisa Mulheres e Trabalho, do IPEA, publicada em 2016. Há 25 anos, um grupo decidiu que uma solução só poderia surgir da própria união entre mulheres negras.
Em 1992, elas organizaram o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, em que discutiram sobre machismo, racismo e formas de combatê-los. Daí surgiu uma rede de mulheres que permanece unida até hoje. Do encontro, nasceu também o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, lembrado todo 25 de julho, data que foi reconhecida pela ONU ainda em 1992.
No Brasil – que tem o maior índice de feminicídios na América Latina -, a presidenta Dilma Rousseff transformou a data em comemoração nacional. Aqui, desde 2014, comemora-se em 25 de julho o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra – em homenagem à líder quilombola que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada.
Esposa de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.
Assim como o Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de março), o 25 de Julho não tem como objetivo festejar: a ideia é fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras e reforçar seus laços, trazendo maior visibilidade para sua luta e pressionando o poder público.
Por isso, no Brasil, no Caribe e na América Latina em geral, diversos eventos de protesto e luta estão sendo planejados para marcar a data. Em São Paulo, em Brasília e no Rio de Janeiro, por exemplo, acontecem Marchas das Mulheres Negras na terça (25) – eventos que já chegaram a agregar trinta mil pessoas. Negra – em homenagem à líder quilombola que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada.
Esposa de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.
Assim como o Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de março), o 25 de Julho não tem como objetivo festejar: a ideia é fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras e reforçar seus laços, trazendo maior visibilidade para sua luta e pressionando o poder público.
Por isso, no Brasil, no Caribe e na América Latina em geral, diversos eventos de protesto e luta estão sendo planejados para marcar a data. Em São Paulo, em Brasília e no Rio de Janeiro, por exemplo, acontecem Marchas das Mulheres Negras na terça (25) – eventos que já chegaram a agregar trinta mil pessoas.
Fonte: www.geledes.com.brMovimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-23443036391352335422019-07-19T17:56:00.002-03:002019-07-19T17:56:39.561-03:00
TEREZA DE BENGUELA - A RAINHA TEREZA
Em 2 de junho de 2014, foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Tereza Benguela liderou entre 1750 e 1770, após a morte de seu companheiro, José Piolho, o Quilombo do Quariterê, situado entre o rio Guaporé e a atual cidade de Cuiabá, capita de Mato Grosso. O lugar abrigava mais de 100 pessoas.
Durante seu comando, a Rainha Tereza criou uma espécie de parlamento e reforçou a defesa do Quilombo do Quariterê com armas adquiridas a partir de trocas ou levadas como espólio após conflitos. Nas suas terras eram cultivados milho, feijão, mandioca, banana e algodão, utilizado na fabricação de tecidos.
Tereza de Benguela é, assim como outras heroínas negras, um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional, que, nos últimos anos, devido ao engajamento do movimento de mulheres negras e à pesquisa ou ao resgate de documentos até então não devidamente estudados, na busca de recontar a história nacional e multiplicar as narrativas que revelam a formação sociopolítica brasileira.
“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.” -Anal de Vila Bela do ano de 1770
Tereza de Benguela, a Rainha Tereza
fONTE:www.palmares.com.br
Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-72498082087791699002017-08-30T13:17:00.004-03:002017-08-30T13:17:48.644-03:00 QUESTÃO AFRICANAO Tráfico Negreiro A partir da segunda metade do século XVI, começaram a ser trazidos para a América os africanos como escravos em número expressivo para a exploração sistemática de sua mão-de-obra
A opção pelo africano se deu por algumas supostas vantagens: maior resistência física às epidemias e maiores conhecimentos em trabalhos artesanais e agrícolas. A opção pelo escravo africano se deu também porque o tráfico dava lucros, era uma das atividades mais lucrativas do sistema colonial. Para facilitar, nem o Estado nem a igreja católica condenavam a imposição da escravidão aos africanos.
Os portugueses transportavam os escravos em suas caravelas vindas da África. Os holandeses também realizavam o tráfico de escravos para o Brasil. O número de escravos embarcados dependia da capacidade da embarcação. .
A bordo, todos os escravos eram marcados a ferro no ombro ou na coxa. Embarcados, os cativos são acorrentados até que se perca de vista a costa da África. Os navios negreiros embarcavam mais homens do que mulheres. O número de crianças era inferior, de 3% a 6% dos embarcados.
Angola (África Centro-Ocidental) e a Costa da Mina (todo o litoral do Golfo da Guiné) eram até o século XVIII os principais fornecedores de escravos ao Brasil. Os principais grupos étnicos africanos trazidos ao Brasil foram os bantos, oriundos de Angola, Golfo da Guiné e Congo; os sudaneses, originários do Golfo da Guiné e do Sudão; e os maleses, sudaneses islamizados
Durante o século XVI e o XVII, os escravos eram trazidos principalmente ao Nordeste para a atividade açucareira, sobretudo, para fazendas na Bahia e em Pernambuco. Em menor número eram enviados ao Pará, Maranhão e Rio de Janeiro. No final do século XVII, a descoberta do ouro na província de Minas Gerais eleva o volume do tráfico, que passa a levar os cativos para a região das minas. No século XVIII, o ouro sucede o açúcar na demanda de escravos, o café substitui o ouro e o açúcar no século XIX.
Os escravos a bordo estavam sujeitos a todos os riscos. Sua alimentação era escassa. Não fazia exercícios físicos durante a viagem. A higiene a bordo era muito medíocre. Havia ainda os maus-tratos a bordo e a superlotação dos porões insalubres e infectos.
Trinta e cinco dias durava a viagem de Angola a Pernambuco, quarenta até a Bahia, cinqüenta até o Rio de Janeiro. A mortalidade era alta a bordo. 20% dos escravos morriam durante essa longa viagem.
A partir da década de 1840, a Inglaterra começa a sua guerra contra o tráfico de escravos para o Novo Mundo, alegando razões humanitárias, mas na verdade com a finalidade de ampliar o mercado consumidor de seus produtos industrializados. É aprovada na Inglaterra a lei conhecida como Bill Aberdeen, que dava direito a Marinha de Guerra britânica de prender navios negreiros no Atlântico e julgar seus tripulantes.
Sob pressão inglesa, o governo imperial brasileiro promulga a 4 de setembro de 1850, a lei Eusébio de Queiroz, que extinguia o tráfico de africanos para o Brasil. Com a ilegalidade do tráfico, a alternativa foi a intensificação do tráfico inter-regional e interprovincial de escravos. Assim, no século XIX, os cativos vinham principalmente das províncias do Norte e Nordeste para suprir as necessidades de mão-de-obra do Sudeste cafeeiro.
Ser escravo no Brasil - A característica mais marcante da escravidão é o fato do escravo ser propriedade de outro ser humano. O escravo é uma “propriedade viva”, sujeita ao senhor a quem pertence. Nesta situação, o escravo é uma coisa, um “bem” objeto.
Sendo um bem objeto ou coisa do senhor, ou seja, sua propriedade, o escravo se tornava mercadoria de todos os tipos de transações nas relações mercantis. Assim, pelo direito de propriedade, o senhor podia vender seus escravos, alugá-los, emprestá-los, doá-los, transmiti-los por herança ou legado, penhorá-los, hipotecá-los, exercendo, enfim, todos os direitos legítimos de dono e proprietário.
Assim, o senhor tinha o direito de utilizar a força de trabalho do escravo pelo modo que lhe conviesse, de modo a conseguir dele o maior proveito possível, assegurando em troca a subsistência necessária para sua manutenção.
Equiparando-se às coisas e propriedade de outra pessoa, o escravo não era cidadão, sendo privado de quaisquer direitos civis. O escravo podia constituir família, mas continuava marido, mulher e filhos propriedade do senhor, que não podia, no entanto, separar os cônjuges e os filhos menores de 15 anos.
Texto e Contexto “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda.” (Do jesuíta italiano André João Antonil, Cultura e opulência do Brasil, 1711.)
A escravidão no Brasil estava voltada, sobretudo, para as atividades agrárias. A força de trabalho escrava destinava-se aos estabelecimentos agrícolas nas regiões rurais onde residiam, habitando em senzalas. O escravo rural assenzalado foi predominante no Brasil.
Na economia canavieira, a maioria dos escravos trabalhava em todo o processo de produção, na lavoura e na produção do açúcar. No engenho, onde se fabricava o açúcar, trabalhavam na moenda, na casa das caldeiras e na casa de purgar. Além do setor da produção de açúcar, foi empregado também na agricultura de abastecimento interno, na criação de gado e nas pequenas manufaturas. Trabalhavam muito, de quatorze a dezesseis horas.
Nas cidades, a sorte para o escravo parece ter sido menos dura, e o seu emprego se diversificava. Nas ruas, alguns possuíam liberdade de locomoção, o que era negado a todos os escravos rurais. Podiam até, mediante negociação com seu senhor, residir em domicílio separado.
Nas cidades, eram os escravos que se encarregavam do transporte de objetos, dejetos e pessoas, além de serem responsáveis por uma considerável parcela da distribuição do alimento que abastecia pequenos e grandes centros urbanos.
Alguns trabalhavam na residência do senhor, a serviço da família em serviços domésticos. Nas cidades, mestres artesãos utilizavam também escravos treinados em trabalhos artesanais, por isso tais escravos eram geralmente mais caros.
Havia ainda aqueles escravos que trabalhavam nas ruas, prestando serviços, realizando trabalhos manuais ou vendendo artigos, alimentos, etc. Até o século XIX, nos portos das cidades, os escravos organizados em grupos de dez ou vinte eram muito utilizados nas atividades de manuseio e transporte de carga.
Escravos vendedores ambulantes e quitandeiros, sobretudo mulheres, povoavam as ruas de Recife, Salvador, Ouro Preto, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e outras cidades. No Brasil, esses escravos eram chamados de escravos de ganho, que percorriam as ruas das cidades atrás de ocupação para prover as necessidades de seu senhor e suas próprias. Estes escravos entregavam uma renda fixa por dia para seu senhor, fruto de seu trabalho, e o restante podiam guardar consigo. Os escravos podiam possuir bens móveis e dinheiro. A renda adquirida podia ser utilizada para a compra da alforria (a liberdade) pelo escravo, a chamada manumissão. Esta podia ser comprada ou doada do senhor, se está fosse sua vontade, ou seja, a liberdade através damanumissão era um ato que dependia da boa vontade do senhor, salvo em alguns casos determinados por lei.
Castigos e violência - Uma das características do regime escravocrata é o que confere ao senhor o direito privado de castigar fisicamente o escravo. A exploração da força de trabalho escrava requeria necessariamente mecanismos de coerção que garantissem a continuidade do trabalho. A relação entre senhor e escravo era, assim, marcada pela violência. Do ponto de vista da escravidão, o castigo do escravo era necessário e justo.
Texto e Contexto “É lamentável, em todo caso, a sorte desses negros. Eles sabem que são espoliados e isso deve tornar-lhes ainda mais amargos os espancamentos e outros maus tratos que sofrem. Também é preciso ter em mente que muitos negros deixam de trabalhar bem se não foram convenientemente espancados. E se desprezássemos a primeira iniqüidade a que os sujeitam, isto é, sua introdução e submissão forçada, teríamos de considerar em grande parte merecidos os castigos que lhes impõem os seus senhores.” (Do colono suíço Thomas Davatz, sobre o castigo sofrido pelos escravos no século XIX. DAVATZ, Thomas. Memórias de um Colono no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Livraria Martins Ed., 1951. pp. 62-63)
O sistema escravocrata possuía os mais bárbaros instrumentos de tortura como forma de manter, pelo terror, a dominação sobre os negros. A palmatória foi instrumento de castigo aplicado nas casas-grandes e senzalas, em escravos, assim como nas crianças, sendo um método pedagógico utilizado para moldar comportamentos e hábitos.
O açoite era a pena aplicada ao escravo, usava-se para isso do “bacalhau”, chicote feito com cabo de madeira e de cinco tiras de couro retorcidos ou com nós. Nas fazendas era utilizado para punir pequenas faltas ou acelerar o ritmo de trabalho, com algumas lambadas. Nos casos de delitos graves, o castigo era exemplar, sendo assistido pelos demais escravos. Era comum a surra-de-carro, no qual ficava o negro amarrado em um carro de boi, de bruços e braços abertos para receber as chicotadas
As execuções oficiais eram feitas em praça pública, no pelourinho – coluna de pedra com argolas onde eram presos os escravos. Procurava-se fazer da punição um exemplo que intimidasse a escravaria.
O tronco foi outro instrumento e tortura, consistia num grande retângulo de madeira dividido em duas partes entre as quais havia buracos destinados a prender a cabeça, os pulsos e os tornozelos do escravo. Preso, o escravo permanecia imóvel, indefeso aos ataques de insetos e ratos, em contato com sua urina e fezes, isolado num barracão, até o seu senhor resolver soltá-lo.
A mascara de flandres era usada para punição de furto de alimentos, alcoolismo, ingestão de terra, e, na mineração de diamantes, para impedir que os negros extraviassem as pedras, engolindo-as. A mascara podia cobrir todo o rosto ou apenas a boca, sendo fechada a cadeados por trás da cabeça.
Usados para prender, transportar, maltratar ou sujeitar os escravos, os instrumentos de ferro faziam parte do patrimônio das fazendas e das casas. Eram correntes, algemas, cadeados, grilhões, colares, tudo para garantir a submissão dos negros escravos pela tortura e degradação.
Texto e Contexto “Ver que os senhores têm cuidado de dar alguma coisa dos sobejos da mesa aos seus filhos pequenos, é causa de que os escravos os sirvam de boa vontade, e que se alegrem de lhes multiplicarem servos e servas. Pelo contrário, algumas escravas procuram de propósito aborto, para que não cheguem os filhos de suas entranhas a padecer o que elas padecem.” (De André João Antonil. Cultura e opulência do Brasil, 1711.)
Rebeldia e Resistência negra no Brasil - A violência legal e sistematicamente utilizada pelo branco como meio de submeter o escravo, gerava o medo, mas também a revolta e formas de resistência por parte dos escravos submetidos a tais castigos cruéis. A reação do escravo assumiu várias formas.
O aborto foi freqüentemente provocado pelas escravas para não verem seus filhos na mesma situação degradante delas e também como meio de prejudicar o senhor, sempre interessado no aumento do número de crias.
Texto e Contexto “O homem, porém, por mais abatido e rebaixado que seja em sua dignidade, em sua vontade e liberdade, pela prepotência de seu semelhante, tende sempre a sacudir o jugo. O livre promove as revoluções, transforma a sociedade, modifica a organização social. O escravo revolta-se parcialmente contra os senhores...”
(Perdigão Malheiro, A escravidão no Brasil, 1867.)
A reação pelo suicídio era uma forma do escravo em se libertar das condições subumanas em que vivia. O suicídio estava geralmente ligado a um momento de medo ou impasse em que o escravo se via indefeso diante da repressão do branco, sendo comum escravos se matarem após terem agredido ou matado um branco.
A rebeldia consistia a resposta do negro à violência do sistema escravista. Rebeldia está também respondida com violência pelos escravos. Eram comuns os casos em que feitores, senhores e seus familiares são estrangulados, asfixiados, esfaqueados ou simplesmente mortos a pancada pelos escravos.
O ódio do escravo era pelo senhor e pelo feitor, mas também por suas famílias, pois era um modo indireto de atingi-los. A freqüência de ataques e homicídios cometidos por escravos levou muitas vezes o governo brasileiro a promulgar leis duras, inclusive a pena de morte.
Texto e Contexto “Serão punidos com pena de morte os escravos ou escravas, que matarem por qualquer maneira que seja, propinarem veneno, ferirem gravemente ou fizerem qualquer outra grave ofensa física, a seu senhor, a sua mulher, a descendentes ou ascendentes que em sua companhia morar, a administrador, feitor, e as suas mulheres que com eles viverem. Se o ferimento ou ofensa física forem leves, a pena será de açoites, a proporção das circunstâncias , mais ou menos agravantes.” (Artigo 1°, da lei de 10 de junho de 1835, Governo Regencial.)
Os quilombos como espaço de resistência e liberdade A forma de resistência escrava mais temida pelos senhores era a fuga seguida da formação de aldeamentos coletivos, os quilombos. A fuga era para o escravo a solução mais simples contra a violência da dominação branca. O trabalho compulsório e excessivo, as precárias condições de subsistência, a degradação e o controle constante a que estavam submetidos predispunham os escravos a evasão, facilitada pela grande extensão de terras sem ocupação efetiva no país.
Texto e Contexto - “Fugiu no dia 29 de junho passado uma preta de nação mina, ladina, bem falante, com os sinais seguintes: alta, magra, proporcionada, bonita, bem feita, e com bons dentes, levou camisa de algodão americano, vestido de riscadinho escuro, um lenço no pescoço e outro amarrado na cabeça, à maneira das pretas da Bahia, e um pano de riscado a costa com que se costuma embrulhar; ela anda pela cidade porque foi encontrada na rua do Ouvidor e no largo do Capim em companhia de uma outra preta mina que vende galinhas no largo do Capim e tem casa no Valongo, onde mora.” (Diário do Rio de Janeiro, 16/07/1836.)
Muitos fugitivos iam para a cidade, onde eram empregados por outros senhores em serviços esporádicos, como se fossem escravos forros. O pequeno comércio ambulante era uma atividade que empregava esses escravos fugidos. Outros escravos fugidos eram capturados ou convencidos por outros negros para viverem em quilombos.
Erguidos nas matas ou em áreas de difícil acesso que oferecessem segurança e meios naturais de sobrevivência, os quilombos eram o grande refúgio dos escravos que conseguiam escapar da opressão. Os quilombos também abrigavam negros forros, índios, mulatos e caboclos.
Texto e Contexto “Os escravos pretos lá, Quando dão com maus senhores, Fogem, são salteadores, e Nossos contrários são. Entranham-se pelos matos, E como criam e plantam, Divertem-se, brincam e cantam, De nada têm precisão. Vêm de noite aos arraiais, E com indústrias e tretas, Seduzem algumas pretas, Com promessas de casar. Eis que a notícia se espalha, Do crime e do desacato, Caem-lhe os capitães-do-mato, E destroem tudo enfim.” (De Joaquim José Lisboa, 1806; In: REIS, João J; GOMES, Flavio. Liberdade por um fio – história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 164-65.)
Os quilombos surgiram e cresceram em desafio aberto à sociedade e à autoridade colonial. Para enfrentar a repressão, os escravos aquilombados precisaram recorrer à violência e à luta armada. Os negros dos quilombos faziam freqüentemente incursões para prover, através do roubo ou escambo, suas necessidades de alimentos, utensílios, armas e também para conseguir, pelo rapto ou persuasão, mais negros para o quilombo. Outros buscavam desenvolver até mesmo relações com as povoações próximas, estabelecendo com elas um comércio regular com troca de alimentos, animais e lenha por tecidos, utensílios e ferramentas.
No século XVII, a desorganização da colônia portuguesa no Brasil causada pelas invasões holandesas no Nordeste canavieiro facilitou as fugas dos negros, intensificadas a partir de 1630. O quilombo era a melhor alternativa de defesa e sobrevivência do negro escravo fugido.
Entre todos os quilombos do período colonial, os maiores e mais afamados foram os da região de Palmares, no sul da capitania de Pernambuco (hoje, norte de Alagoas). O quilombo de Palmares surgiu por voltada de 1602. Em seus vários mocambos (aldeamentos), espalhados por uma área de 150 km, chegaram a reunir, segundo estimativas, mais de vinte mil pessoas.
No quilombo, os negros africanos procuraram se organizar de acordo com antigas regras tribais baseadas na autoridade local do chefe de cada um dos mocambos. Esses chefes estavam submetidos a Ganga-Zumba, em cujo mocambo se reuniam. Com a morte Ganga-Zumba, assumiu o poder em Palmares seu sobrinho, Zumbi.
Tanto por pressão dos senhores de terra preocupados em recuperar seus escravos, quanto por interesse das autoridades, o quilombo de Palmares foi destruído em 1694 pelas tropas do pernambucano Bernardo Vieira de Melo e do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, após quase um século de guerras.
Os quilombos tornaram-se o símbolo de uma resistência ameaçadora para os grupos dominantes do Brasil e alvo permanente da repressão oficial, dando origem inclusive a leis violentas.
Texto e Contexto - “Eu El-Rei faço saber aos que este Alvará em forma de lei virem, que sendo-me presente, os insultos que no Brasil cometem os escravos fugidos, a que vulgarmente chama de calhambolas, passando a fazer o excesso de se juntar em quilombos... hei por bem que a todos os negros, que forem achados em quilombos, estando neles vulgarmente, se lhes ponha uma marca em uma espádua com a letra F... se quando se for executar esta pena for achado já com a mesma marca se lhe cortará uma orelha; tudo por simples mandado do Juiz de Fora... sem processo algum...” (Alvará de 03 de março de 1741.)
Herança Cultural Negra e Racismo A contribuição cultural de escravos-negros é enorme. Na religião, música, dança, alimentação, língua, temos a influência negra, apesar da repressão que sofreram as suas manifestações culturais mais cotidianas.
Influência religiosa No campo religioso, a contribuição negra é inestimável, principalmente porque os africanos, ao invés de se isolarem, aprenderam a conviver com outros setores da sociedade.
Mas, nos primeiros séculos de sua existência no Brasil, os africanos não tiveram liberdade para praticar os seus cultos religiosos. No período colonial, a religião negra era vista como arte do Diabo; no Brasil-Império, como desordem pública e atentado contra a civilização.
A tolerância com os batuques religiosos, entretanto, devia-se à conveniência política: era mantida mais como um antídoto à ameaça que a sua proibição representava, do que por aceitação das diferenças culturais.
Outras manifestações culturais negras também foram alvo da repressão. Estão neste caso o samba, revira, capoeira e lundú negros.
O racismo - Na sociedade brasileira do século XIX, havia um ambiente favorável ao preconceito racial, dificultando enormemente a integração do negro. De fato, no Brasil republicano predominava o ideal de uma sociedade civilizada, que tinha como modelo a cultura européia, onde não havia a participação senão da raça branca. Este ideal, portanto, contribuía para a existência de um sentimento contrário aos negros, pardos, mestiços ou crioulos, sentimento este que se manifestava de várias formas: pela repressão às suas atividades culturais, pela restrição de acesso a certas profissões, as “profissões de branco” (profissionais liberais, por exemplo), também pela restrição de acesso a logradouros públicos, à moradia em áreas de brancos, à participação política, e muitas outras formas de rejeição ao negro.
Contra o preconceito e em defesa dos direitos civis e políticos da população afro-brasileira surgiram jornais, como A Voz da Raça, O Clarim da Alvorada; clubes sociais negros e, em especial, a Frente Negra Brasileira, que tendo sido criada em 1931, foi fechada em 1937 pelo Estado Novo.
O samba e a capoeira Durante o período da revolução de 30, os próprios núcleos de cultura negra se movimentaram para ganhar espaço. A criação das escolas de samba no final dos anos vinte já representara um passo importante nessa direção. Elas, que durante a República Velha foram sistematicamente afastadas de participação do desfile oficial do carnaval carioca, dominado pelas grandes sociedades carnavalescas, terminaram sendo plenamente aceitas posteriormente.
No rastro do samba, a capoeira e as religiões afro-brasileiras também ganharam terreno. Antes considerada atividade de marginais, a capoeira seria alçada a autêntico esporte nacional, para o que muito contribuiu a atuação do baiano Mestre Bimba, criador da chamada capoeira regional. Tal como os sambistas alojaram o samba em “escolas”, Bimba abrigaria a capoeira em “academias”, que aos poucos passaram a ser freqüentadas pelos filhos da classe média baiana, inclusive muitos estudantes universitários.
Escravidão ontem, escravidão hoje Por que os colonizadores utilizaram o trabalho escravo na colônia americana? Por que eles escravizaram povos africanos? - Porque o cultivo da cana-de-açúcar em grandes propriedades e com a produção voltada para a exportação, necessitava de um grande número de trabalhadores;
- Porque os africanos, muitas vezes eram associados aos muçulmanos, deveriam ser trazidos à América para purgarem seus pecados; - Principalmente porque o comércio de homens e mulheres africanos realizado pelos europeus era extremamente lucrativo, o que justificava a opção mais consistente pela escravidão africana em detrimento à escravidão indígena (que também existiu);
O tráfico de africanos - Uma boa fonte de lucro para navegadores e comerciantes. Na África conseguiam negros para escravizar através de: - Caçadas: entravam nas aldeias, perseguiam e prendiam seus habitantes. - Negociação com os chefes das aldeias que vendiam membros de seu grupo em troca de tecidos, armas, jóias, tabaco, algodão, aguardente, etc. - Provocação de guerras entre os diferentes povos para depois comprar os prisioneiros;
Existe escravidão no Brasil de hoje? Hoje a diferença é que essa escravidão independe de cor. O que eles têm em comum é a pobreza, que os submete a regimes de “trabalho escravo contemporâneo”, regimes estes que roubam não somente a liberdade, como a saúde destas pessoas, pois mal se alimentam e são expostas a trabalhos noturnos, perigosos, insalubres e o que é ainda pior, sem descanso.
Mesmo 120 anos depois da abolição da escravidão no Brasil, ainda há muitos casos de trabalho escravo.
Leia mais: http://historiapt.webnode.com/news/blog-principal/Movimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-53596249676078592392017-08-15T16:42:00.002-03:002017-08-15T16:42:51.449-03:00 Quilombolas: a luta pelo direito de existir
por Vanessa Galassi
O futuro de mais de 16 milhões de quilombolas, população superior à de 24 estados no Brasil mais o Distrito Federal, pode ser decidido essa semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No dia 16 de agosto, os ministros julgam a validade da primeira regulamentação nacional específica para quilombos depois da Constituição Federal de 1988. O julgamento pode derrubar o decreto presidencial 4.887, de 2003, primeiro a regulamentar regras para a identificação, o reconhecimento e todo o processo de titulação das terras ocupadas por essas comunidades.
Entidades de defesa dos direitos quilombolas apontam o julgamento como fruto de mais um avanço da frente ruralista. “Os poderes executivos e legislativos estão usando o judiciário para atacar a política pública de titulação dos quilombolas”, afirma Fernando Prioste, assessor jurídico da Terra de Direitos. O julgamento acontece em meio a uma série de outros questionamentos, que ocorrem também no legislativo e executivo, e que podem resultar em retrocessos nos direitos das populações tradicionais, indígenas e rurais.
A discussão sobre a validade do decreto começou um ano depois de sua criação. Em 2004, o Democratas (então PFL) contou com o apoio da bancara ruralista para abrir uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI 3239) questionando o direito dessas comunidades à autodeclaração. Além disso, eles alegavam que apenas uma lei, e não um decreto, poderia prever os direitos dos quilombolas à demarcação. No mesmo ano da abertura desse questionamento, porém, o Brasil adotou a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que estabelece que o Estado não tem o direito de negar a identidade de um povo indígena ou tribal que se reconheça como tal.
A bancada ruralista ignora a convenção. “Não há problema em defender os direitos quilombolas, mas temos de defender os verdadeiros. O decreto abre essa brecha de qualquer um se declarar como descendente de escravo”, afirmou o deputado Nilson Leitão (PSDB- MT). Presidente da Frente Parlamentar pela Agropecuária, Leitão é o mesmo autor do projeto de lei que gerou forte reação ao propor estabelecer o pagamento com comida e residência, ao invés de salário, aos trabalhadores rurais. Ele também é autor do relatório da CPI da Funai e do Incra, que pediu o indiciamento de indígenas, antropólogos e procuradores, acusados pelo relator de fraudar processos de demarcação.
A força da bancada ruralista de Leitão, conterrâneo do ministro da Agricultura Blairo Maggi, cresceu exponencialmente desde 2004. Na época, a bancada tinha 154 das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados. Hoje somam 209, mais que a bancada evangélica. Por isso, são valiosos ao governo. Para conseguir os votos dos ruralistas pelo arquivamento da investigação contra o presidente Michel Temer (PMDB), o governo, em período de recessão, aliviou as dívidas rurais do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural de aproximadamente R$ 10 bilhões para R$ 2 bi e parcelou em 12 anos o débito restante, entre outras medidas.
Na avaliação do advogado Diogo Cabral, que acompanha judicialmente boa parte dos conflitos das comunidades quilombolas do Maranhão, questionar a identidade étnica dos quilombolas é uma manobra para encobrir o interesse econômico. “Quando reconhecidos, os territórios quilombolas e indígenas são terras que saem do mercado, não podendo ser comercializadas. A disputa tem um caráter ideológico, mas, principalmente, econômico. E em benefício ao agronegócio.”
A disputa por terras
Desde 2016, seis quilombolas foram assassinados em mortes associadas à disputa por terra, sendo quatro deles lideranças. Representantes das comunidades quilombolas creditam a escalada de violência ao avanço da ação que questiona seus direitos no STF. “A gente recebe ameaça em cima de ameaça, morte em cima de morte. O Estado quer desvincular a morte dizendo que é briga de vizinho. Não é. É conflito de terra por falta de demarcação dos territórios quilombolas”, afirma Gil Quilombola, liderança do quilombo de Nazaré, no Maranhão.
Existem hoje 2.523 comunidades quilombolas certificadas, segundo a Fundação Palmares, órgão do Governo Federal responsável por esse processo. Mas o número pode representar apenas a metade do total de quilombos no país. Para entrar na lista, a comunidade deve antes conseguir o reconhecimento do governo. E isso, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, depende de fatores como o acesso à burocracia pelas lideranças locais. “Muitas ainda estão sendo descobertas”, disse Denildo Rodrigues de Moraes, coordenador nacional do órgão. “São mais de 5 mil as comunidades espalhadas pelo Brasil.”
Das certificadas pelo governo, apenas 11% têm a titulação das terras, o que permite pleitear a construção de escolas e postos de saúde para a comunidade, por exemplo. “O decreto de 2003 fez com que as políticas públicas chegassem até os quilombos. Por isso, para nós quilombolas, ele é uma libertação”, afirmou Moraes. De acordo com o estudo Quilombos do Brasil: Segurança Alimentar e Nutricional em Territórios Titulados, lançado em 2014 pelo governo federal, 55% dos adultos quilombolas estão em situação de insegurança alimentar no Brasil. O percentual fica em 41% quando incluídos as crianças e os adolescentes. A maioria das comunidades não tem infraestrutura de água e esgoto nem coleta de lixo.
Os quilombos sem titulação vivem em constante insegurança em razão das grilagens, afirmaram todas as oito lideranças quilombolas ouvidas pela Repórter Brasil. Os “novos donos” contratam seguranças para vigiar as terras, impedindo os quilombolas de circular livremente e manter as atividades de subsistência. Também passam a cobrar uma taxa em cima da produção agrícola do quilombola ou até os despejam.
Desde 1995, apenas 219 títulos foram emitidos, regularizando pouco mais de 752 mil hectares em benefício de 15.610 famílias quilombolas. Dos 1.692 processos de titulação de territórios quilombolas em andamento, 86% deles não ultrapassaram a etapa inicial, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. O Incra é responsável pela regularização desde o decreto de 2003. Como se tratam de processos complexos, podem levar até 10 anos, afirma o coordenador de Regularização de Territórios Quilombolas do Incra, Antônio Oliveira Santos.
Uma das razões da baixa titulação são os cortes orçamentários impostos à pasta. Entre 2015 e 2016, ainda no governo de Dilma Rousseff (PT), o orçamento da pasta caiu 80%. No cargo desde o início do ano, Santos limitou-se a dizer que corte no orçamento do Incra “não é uma singularidade”.
O enfraquecimento do Incra beneficia a bancada ruralista, que há 17 anos tenta emplacar a PEC 215, proposta que transfere para os congressistas a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação no Brasil. O relator da PEC é o deputado Leitão, do PSDB. “Nesse cenário, as titulações nunca vão acontecer”, diz Prioste, assessor jurídico da Terra de Direitos.
A tese do marco temporal
O julgamento sobre a validade do decreto que regulamenta a questão chegou ao STF em 2012. O ministro Cezar Peluso, hoje aposentado, considerou o decreto inconstitucional. O julgamento foi suspenso por pedido de vistas. Retomado em 2015, a ministra Rosa Weber votou pela validade do decreto. Então, foi a vez do ministro Dias Toffoli pedir vistas. Por isso Toffoli será o primeiro a votar no próximo 16 de agosto. Para garantir a continuidade da titulação das terras, os quilombolas precisam de cinco dos nove votos restantes.
A votação do STF pode gerar até quatro cenários, sendo três prejudiciais aos quilombolas. O tribunal pode considerar o decreto inconstitucional e manter os 166 territórios titulados de 2003 até 2017, ou pode remover todas as titulações. “Isso criaria um vácuo de regras para orientar os procedimentos para titulação. E essa ausência de regras pode paralisar de vez o andamento dos processos em curso no Incra. Temos um histórico de baixa efetividade dos direitos das comunidades quilombolas que tende a se agravar no atual governo”, disse Lúcia Andrade, coordenadora executiva da Comissão Pró-Índio de São Paulo.
Se os ministros considerarem o decreto constitucional, podem mantê-lo na integralidade ou impor condicionantes. A ministra Rosa Weber, por exemplo, argumentou que teriam direito à terra apenas as comunidades que ali estavam em 1988, data da promulgação da Constituição. Essa tese ficou conhecida como “marco temporal” e tem sido usada para anular a decisão de terras indígenas já demarcadas. “A constitucionalidade do decreto com condicionantes é uma decisão que parece investida de direitos fundamentais, mas, na verdade, é uma interpretação conservadora e limitadora do direito”, afirmou o procurador Julio José Araujo Junior do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro.
A Organização das Nações Unidas, o Ministério Público Federal e outras organizações já manifestaram publicamente contra a tese do marco temporal. Isso porque ela desconsidera o passado de repressão e violência contra os quilombolas e outras grupos, como os indígenas. Esses grupos foram dizimados e retirados de suas terras, processo que obrigou comunidades inteiras a viver como nômades contra sua vontade. Em muitos casos, negando a própria identidade para escapar da perseguição e preconceito.
Há ainda outro fator histórico ignorado pela tese do marco temporal. Até a década de 1980, o Estado brasileiro negava a origem dessas pessoas, de modo que não haveria como comprovar a posse das áreas nesse período. Diversos juristas e o próprio Ministério Público Federal já se manifestaram contra a tese. “É olhar pelo retrovisor, pois só reconhece as comunidades que conseguiram resistir às espoliações dos últimos séculos”, diz o procurador Araujo, do MPF.
O entendimento no Brasil sobre a perseguição contra povos quilombolas, indígenas e tradicionais dialoga com a interpretação de alguns autores para perseguições que ocorreram nas grandes guerras mundiais. Ao escrever sobre a destituição de direitos do povo judeu em As Origens do Totalitarismo, que culminou com o nazismo e o assassinato de milhares de pessoas, a filósofa Hannah Arendt explica o significado da perda do direito à terra: “A primeira perda que sofreram essas pessoas privadas de direito não foi a da proteção legal, mas a perda dos seus lares, o que significava a perda de toda e estrutura social na qual haviam nascido e na qual haviam criado para si um lugar peculiar no mundo.”
A perseguição que quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais sofreram no passado são ignoradas pelo lobby ruralista. “Você não pode lançar 500 processos, demarcando terra por aí, como se fosse brincadeira”, afirma Leitão, presidente da Frente Parlamentar pela Agropecuária. Para ele, a tese do marco temporal dá segurança jurídica aos “donos”. “As pessoas que compraram as propriedades há 100, 150 anos são despejadas? Há que ser feito um planejamento das áreas dessas demarcações. Não se pode brincar com o direito à propriedade.”
O primeiro registro histórico que aponta o surgimento de um quilombo é de 1575, na Bahia. Transcorridos quase cinco séculos, o modo de vida nos quilombos ainda mantém muitas semelhanças. Os quilombolas vivem e sobrevivem da terra, compartilhando tudo o que ela oferece. Praticam, com manejo sustentável, a agricultura familiar, a pesca e o extrativismo. Por viverem em regiões de difícil acesso, muitos preservam costumes e tradições ancestrais, como danças, cantos e toque de tambores. Há ainda comunidades que recentemente redescobriram suas origens. “Se o marco temporal for estabelecido, essas comunidades terão mais dificuldades ao acesso à terra”, afirmou Diogo Cabral, advogado especializado na causa.
Há mais de três décadas os povos quilombolas têm se organizado em movimentos sociais para defender seus direitos. Em junho, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas e nove organizações da sociedade civil protocolaram uma representação junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que o Estado brasileiro seja oficialmente questionado acerca da não realização do direito constitucional quilombola à terra. Foi também realizado um pedido de audiência para o secretário da comissão, Paulo Abrão, a ser realizado em outubro.
“O julgamento do decreto quilombola não é o início, muito menos o fim das lutas contra o racismo em nossa sociedade”, afirma a carta redigida pela coordenação sobre o julgamento do STF. No final de julho, em parceria com instituições da sociedade civil, eles lançaram a campanha O Brasil é Quilombola! Nenhum Quilombo a Menos!, na qual foi também elaborada uma petição online. “Temos de lutar por nossos territórios que é nosso por direito. Não dá para entregar aquilo que é seu, sua casa, sua sobrevivência, sua vida”, afirmou Reinaldo Avelar, liderança quilombola maranhense. Independentemente da decisão do STF, as comunidades prometem resistir.
Fonte: Repórter BrasilMovimento Negro Unificado - RShttp://www.blogger.com/profile/12176233764942056365noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6030682969918149682.post-27083655017952545992017-07-06T22:01:00.002-03:002023-07-23T18:41:25.641-03:00Convergência Negra define agenda contra o golpe e reivindica Diretas Já
A luta contra o genocídio dos jovens negros, a afirmação de políticas públicas afirmativas, o combate ao feminicídio, a criminalização da LGBTfobia e o enfrentamento à guerra às drogas foram alguns dos temas considerados prioritários pela IV Plenária Nacional da Convergência da Luta de Combate ao Racismo no Brasil — Convergência Negra, realizada no último sábado, 1º de junho, em Salvador. A articulação política, que reúne diversas representações do movimento negro, também deliberou pela defesa das eleições diretas para o cargo de presidente.
A plenária da organização se encerrou no domingo, 2 de julho, com o ato político “Basta de Extermínio da Juventude Negra”, que teve concentração no bairro da Lapinha, no centro antigo da capital baiana, de onde saiu o cortejo oficial que celebra todo ano, nesta data, a Independência do Brasil na Bahia.
Entre os pontos da agenda unitária, aprovada pelo movimento negro durante o encontro, estão o fortalecimento da atuação da Convergência Negra nos estados brasileiros, a realização da campanha pela liberdade de Rafael Braga e a construção de uma grande conferência do movimento negro brasileiro em abril de 2018.
Combate ao racismo
As linhas de atuação aprovadas no encontro fazem parte da 2ª Carta de Salvador. No documento, chancelado por 203 pessoas, de nove estados e do Distrito Federal, a articulação de instituições afirma que as eleições diretas são o “primeiro passo para se travar uma ampla e persistente disputa política que seja capaz de criar uma correlação de forças favorável à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que refunde o Estado Democrático e que assegure a questão racial como estratégica em suas bases.”
O CEN – Coletivo de Entidades Negras é uma das entidades que assinam a carta, que você pode ler na íntegra, sem cortes, mais abaixo.
Também são signatárias:
ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores Negros
APNs – Agentes Pastorais Negros, Círculo Palmarino
CONAQ – Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas
CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras
ENEGRECER – Coletivo Nacional de Juventude Negra
FONAJUNE – Fórum Nacional de Juventude Negra
GRUCON – Grupo de União e Consciência Negra
MNU – Movimento Negro Unificado
QUILOMBAÇÃO
UNEGRO – União de Negros pela Igualdade
Instituto Reverendo Martin Luther King
Levante Popular da Juventude
Cipó Comunicação Interativa
Aspiral do Reggae,
Luiza Mahin,
MCPS – Movimento de Cultura Popular do Subúrbio
Refavela
EMUNDE
Fórum de Matriz Africana.
Íntegra a 2ª Carta de Salvador
Reunidas em Salvador no dia 01 de julho de 2017, lideranças do movimento negro representando as organizações nacionais de luta contra o racismo, além de organizações regionais e estaduais de todo o território brasileiro, unificadas sob a égide da Convergência da Luta de Combate ao Racismo no Brasil – CONVERGÊNCIA NEGRA, em sua 4ª Plenária Nacional, declaram e tornam públicos os seguintes pontos que orientam, a partir deste documento, a construção da unidade da luta de combate ao racismo.
A construção deste documento se apresenta como posicionamento da CONVERGÊNCIA NEGRA diante da grave crise civilizatória internacional, provocada pelo capitalismo neoliberal, o avanço das forças conservadoras, reacionárias, fascistas, racistas e misóginas. Donald Trump é a principal representação dessa tendência. Hoje, a crise se caracteriza por aguda instabilidade, imprevisibilidade, alta concentração de renda, recrudescimento da agressão imperialista e ameaça à paz.
No Brasil, forças golpistas se instalam ilegitimamente no poder, desmantelando a Cultura e toda a política afirmativa nos campos da igualdade racial, de gênero, juventudes e LGBT; agora, através das reformas liberais, avançam sobre direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, que impactarão especialmente sobre trabalhadoras e trabalhadores negros.
Estamos vivendo em uma tensão política e econômica, num contexto de polarização da disputa sobre os rumos para o desenvolvimento do país. Projetos políticos distintos encontram-se radicalizados e em choque, lutando pela hegemonia da sociedade brasileira, contudo, sem ainda integrarem e compreenderem a importância da população negra como elemento estratégico para o desenvolvimento do país.
A CONVERGÊNCIA NEGRA se contrapõe ao governo golpista e setores aliados (Poder Judiciário, “grandes mídias”, dentre outros), que não tem legitimidade e condições políticas, morais e éticas para governar o Brasil. Consideramos que esse governo representa os interesses dos descendentes da casa grande, que enriqueceram às custas da superexploração do trabalho negro e da constante atualização do racismo.
Reivindicamos, enquanto saída democrática, “ELEIÇÕES DIRETAS JÁ”! Entendemos que esse é primeiro passo para se travar uma ampla e persistente disputa política que seja capaz de criar uma correlação de forças favorável à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que refunde o Estado Democrático e que assegure a questão racial como estratégica em suas bases.
Somente a mobilização e ocupação das ruas pelas massas garantirão a interrupção desse governo e as eleições diretas. Para isso, consideramos fundamental uma ampla unidade da esquerda e a incorporação de pautas que atendam as periferias brasileiras, compostas majoritariamente por negras e negros.
A CONVERGÊNCIA NEGRA, instrumento de luta da população negra para mudar o Brasil, vem assumir o protagonismo que lhe cabe no cenário político nacional. Chamamos todo o Movimento Negro, intelectualidade, artistas, personalidades e ativistas sociais a se somarem nessa construção.
Desse modo reafirmamos a nossa pauta política resolutiva como ponto de partida para a construção de uma plataforma e um plano de lutas comum e unitário.
• Contra a redução da maioridade penal;
• Combater as políticas de guerra às drogas, o encarceramento em massa e o extermínio/genocídio da juventude negra;
• Legalização do aborto – “É pela vida das mulheres!”;
• Aprofundar as políticas e ações afirmativas no país, com destaque para as mulheres
Negras e o combate ao feminicídio;
• Autonomia das mulheres negras e participação nos espaços de poder público e privado;
• Lutar pela efetivação das leis 10.639/03 e 11.645/08;
• Avançar na pauta quilombola. Lutar pelo Decreto 4887/03 e contra a Convergência Negra define agenda contragolpe e reivindica Diretas Já
A luta contra o genocídio dos jovens negros, a afirmação de políticas públicas afirmativas, o combate ao feminicídio, a criminalização da LGBTfobia e o enfrentamento à guerra às drogas foram alguns dos temas considerados prioritários pela IV Plenária Nacional da Convergência da Luta de Combate ao Racismo no Brasil — Convergência Negra, realizada no último sábado, 1º de junho, em Salvador. A articulação política, que reúne diversas representações do movimento negro, também deliberou pela defesa das eleições diretas para o cargo de presidente.
A plenária da organização se encerrou no domingo, 2 de julho, com o ato político “Basta de Extermínio da Juventude Negra”, que teve concentração no bairro da Lapinha, no centro antigo da capital baiana, de onde saiu o cortejo oficial que celebra todo ano, nesta data, a Independência do Brasil na Bahia.
Entre os pontos da agenda unitária, aprovada pelo movimento negro durante o encontro, estão o fortalecimento da atuação da Convergência Negra nos estados brasileiros, a realização da campanha pela liberdade de Rafael Braga e a construção de uma grande conferência do movimento negro brasileiro em abril de 2018.
Combate ao racismo
As linhas de atuação aprovadas no encontro fazem parte da 2ª Carta de Salvador. No documento, chancelado por 203 pessoas, de nove estados e do Distrito Federal, a articulação de instituições afirma que as eleições diretas são o “primeiro passo para se travar uma ampla e persistente disputa política que seja capaz de criar uma correlação de forças favorável à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que refunde o Estado Democrático e que assegure a questão racial como estratégica em suas bases.”
O CEN – Coletivo de Entidades Negras é uma das entidades que assinam a carta, que você pode ler na íntegra, sem cortes, mais abaixo.
Também são signatárias:
ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores Negros
APNs – Agentes Pastorais Negros, Círculo Palmarino
CONAQ – Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas
CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras
ENEGRECER – Coletivo Nacional de Juventude Negra
FONAJUNE – Fórum Nacional de Juventude Negra
GRUCON – Grupo de União e Consciência Negra
MNU – Movimento Negro Unificado
QUILOMBAÇÃO
UNEGRO – União de Negros pela Igualdade
Instituto Reverendo Martin Luther King
Levante Popular da Juventude
Cipó Comunicação Interativa
Aspiral do Reggae,
Luiza Mahin,
MCPS – Movimento de Cultura Popular do Subúrbio
Refavela
EMUNDE
Fórum de Matriz Africana.
Íntegra a 2ª Carta de Salvador
Reunidas em Salvador no dia 01 de julho de 2017, lideranças do movimento negro representando as organizações nacionais de luta contra o racismo, além de organizações regionais e estaduais de todo o território brasileiro, unificadas sob a égide da Convergência da Luta de Combate ao Racismo no Brasil – CONVERGÊNCIA NEGRA, em sua 4ª Plenária Nacional, declaram e tornam públicos os seguintes pontos que orientam, a partir deste documento, a construção da unidade da luta de combate ao racismo.
A construção deste documento se apresenta como posicionamento da CONVERGÊNCIA NEGRA diante da grave crise civilizatória internacional, provocada pelo capitalismo neoliberal, o avanço das forças conservadoras, reacionárias, fascistas, racistas e misóginas. Donald Trump é a principal representação dessa tendência. Hoje, a crise se caracteriza por aguda instabilidade, imprevisibilidade, alta concentração de renda, recrudescimento da agressão imperialista e ameaça à paz.
No Brasil, forças golpistas se instalam ilegitimamente no poder, desmantelando a Cultura e toda a política afirmativa nos campos da igualdade racial, de gênero, juventudes e LGBT; agora, através das reformas liberais, avançam sobre direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, que impactarão especialmente sobre trabalhadoras e trabalhadores negros.
Estamos vivendo em uma tensão política e econômica, num contexto de polarização da disputa sobre os rumos para o desenvolvimento do país. Projetos políticos distintos encontram-se radicalizados e em choque, lutando pela hegemonia da sociedade brasileira, contudo, sem ainda integrarem e compreenderem a importância da população negra como elemento estratégico para o desenvolvimento do país.
A CONVERGÊNCIA NEGRA se contrapõe ao governo golpista e setores aliados (Poder Judiciário, “grandes mídias”, dentre outros), que não tem legitimidade e condições políticas, morais e éticas para governar o Brasil. Consideramos que esse governo representa os interesses dos descendentes da casa grande, que enriqueceram às custas da superexploração do trabalho negro e da constante atualização do racismo.
Reivindicamos, enquanto saída democrática, “ELEIÇÕES DIRETAS JÁ”! Entendemos que esse é primeiro passo para se travar uma ampla e persistente disputa política que seja capaz de criar uma correlação de forças favorável à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que refunde o Estado Democrático e que assegure a questão racial como estratégica em suas bases.
Somente a mobilização e ocupação das ruas pelas massas garantirão a interrupção desse governo e as eleições diretas. Para isso, consideramos fundamental uma ampla unidade da esquerda e a incorporação de pautas que atendam as periferias brasileiras, compostas majoritariamente por negras e negros.
A CONVERGÊNCIA NEGRA, instrumento de luta da população negra para mudar o Brasil, vem assumir o protagonismo que lhe cabe no cenário político nacional. Chamamos todo o Movimento Negro, intelectualidade, artistas, personalidades e ativistas sociais a se somarem nessa construção.
Desse modo reafirmamos a nossa pauta política resolutiva como ponto de partida para a construção de uma plataforma e um plano de lutas comum e unitário.
• Contra a redução da maioridade penal;
• Combater as políticas de guerra às drogas, o encarceramento em massa e o extermínio/genocídio da juventude negra;
• Legalização do aborto – “É pela vida das mulheres!”;
• Aprofundar as políticas e ações afirmativas no país, com destaque para as mulheres
Negras e o combate ao feminicídio;
• Autonomia das mulheres negras e participação nos espaços de poder público e privado;
• Lutar pela efetivação das leis 10.639/03 e 11.645/08;
• Avançar na pauta quilombola. Lutar pelo Decreto 4887/03 e contra a ADIN 3239/04 – nenhum quilombo sem suas terras regularizadas e tituladas e com políticas públicas para melhoria da qualidade de vida;
• Combater a intolerância, a violência e o racismo religioso, garantindo a laicidade do estado e a proteção da liberdade de culto e suas liturgias;
• Criminalizar a LGTBfobia;
• Extinguir com os autos de resistência;
• Democratizar os meios de comunicação;
• Inserir a cultura afro-brasileira como elemento fundamental da construção da identidade nacional;
• “Diretas já!” – “Nenhum Direito a menos!”.
A CONVERGÊNCIA NEGRA estará sempre presente nas justas mobilizações do povo, na construção de um país sem opressores, sem oprimidos e com soberania. Reafirmamos que ocupar as ruas é condição fundamental para restabelecer a democracia e uma agenda de retomada do desenvolvimento, que assegure direitos, valorize o trabalho, combata o racismo, machismo, LGBTfobia e outras manifestações correlatas de ódio e opressão.
Para tal, decidimos, na 4ª Plenária Nacional da CONVERGÊNCIA NEGRA, em Salvador, e como consequência das ações anteriores já ocorridas nessa cidade (2015), como também em Porto Alegre (2016) e Sergipe (2016), apresentar uma agenda de atividades a ser realizada pela Convergência Negra contra o golpe, pelas diretas e pelo fim do racismo.
– Garantir a participação da CONVERGÊNCIA NEGRA nas instâncias executivas das Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo;
– Realizar atividades de rua do movimento negro, mobilizando artistas, intelectuais, ativistas, e todos os elementos culturais relativos ao povo negro;
– Convocatória de um encontro nacional do movimento negro para debater alternativa política e programática que inclua, de maneira efetiva, a população negra no projeto de redemocratização do país;
– Realizar o 20 de novembro Unificado.
Salvador, 01 de julho de 2017.
3239/04 – nenhum quilombo sem suas terras regularizadas e tituladas e com políticas públicas para melhoria da qualidade de vida;
• Combater a intolerância, a violência e o racismo religioso, garantindo a laicidade do estado e a proteção da liberdade de culto e suas liturgias;
• Criminalizar a LGTBfobia;
• Extinguir com os autos de resistência;
• Democratizar os meios de comunicação;
• Inserir a cultura afro-brasileira como elemento fundamental da construção da identidade nacional;
• “Diretas já!” – “Nenhum Direito a menos!”.
A CONVERGÊNCIA NEGRA estará sempre presente nas justas mobilizações do povo, na construção de um país sem opressores, sem oprimidos e com soberania. Reafirmamos que ocupar as ruas é condição fundamental para restabelecer a democracia e uma agenda de retomada do desenvolvimento, que assegure direitos, valorize o trabalho, combata o racismo, machismo, LGBTfobia e outras manifestações correlatas de ódio e opressão.
Para tal, decidimos, na 4ª Plenária Nacional da CONVERGÊNCIA NEGRA, em Salvador, e como consequência das ações anteriores já ocorridas nessa cidade (2015), como também em Porto Alegre (2016) e Sergipe (2016), apresentar uma agenda de atividades a ser realizada pela Convergência Negra contra o golpe, pelas diretas e pelo fim do racismo.
– Garantir a participação da CONVERGÊNCIA NEGRA nas instâncias executivas das Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo;
– Realizar atividades de rua do movimento negro, mobilizando artistas, intelectuais, ativistas, e todos os elementos culturais relativos ao povo negro;
– Convocatória de um encontro nacional do movimento negro para debater alternativa política e programática que inclua, de maneira efetiva, a população negra no projeto de redemocratização do país;
– Realizar o 20 de novembro Unificado.
Salvador, 01 de julho de 2017.
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