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quarta-feira, 3 de julho de 2024
O Invisível Gaúcho Negro
Como você deve saber, eu sou militar, e em 2012 fui transferido contra minha vontade do Rio de Janeiro para Rio Grande -RS. Veja bem, eu gosto de Rio Grande, mas na época, ficar longe da minha família e de meus amigos por SEIS ANOS não parecia uma boa ideia. Na ocasião, muitos dos meus amigos cariocas vieram me consolar: “pelo menos está indo pra uma terra boa” seguido de um “lá é quase uma Europa, dizem” ou um “vai encontrar uma linda loira de olhos azuis pra casar”.
É no mínimo curioso perceber que em toda nossa vida fomos educados para assimilar a cultura e os valores europeus como algo essencialmente mais elevado e mais excelente que as outras culturas e valores.
Para minha total surpresa os palpites dos meus amigos estavam errados. Errados não, mas no mínimo incompletos. Porque aqui em Rio Grande, assim como em sua vizinha Pelotas, há uma notável presença de gaúchos de ascendência Africana. E não só isso, é possível ver de forma clara o quanto a cultura negra contribuiu para a construção da identidade dos gaúchos que vivem nas mais diversas regiões do estado.
A carne mais barata do mercado é a carne negra
da série “O Invisível Gaúcho Negro” de Eduardo Tavares
Já na primeira metade do século 17 os portugueses eram presença hegemônica no trafico de pessoas negras no Rio do Prata. E mais negros continuaram chegando no Rio Grande do Sul durante todo o século 18, trazidos à força junto das primeiras frotas de ocupação que visavam conter o avanço Castelhano e controlar o fluxo de gado que saia dessa região pra São Paulo.
Até 1850, a chegada da maioria massiva de negros escravizados na Província vão se dar pelo porto de Rio Grande. É difícil calcular com exatidão o número de escravos que chegaram durante todos esses anos, pois não há censos demográficos ou listagens precisas. Isso seria melhor quantificado através da documentação da Alfândega do Rio Grande, mas a maior parte da papelada foi destruída por volta de 1970.
Com base em diversas fontes documentais e censos podemos apenas nos aproximar do que realmente foi o número demográfico da população negra no Rio Grande do Sul. Estima-se que o Rio Grande do Sul tinha 70.000 habitantes em 1814, desses, 37% eram negros. Em Rio Grande,por exemplo, a porcentagem de negros pro mesmo período é de 35%. Mas os números realmente impressionantes são os de Pelotas. Calcula-se que em 1833, Pelotas tinha 51% da sua população composta por escravos. CINQUENTA E UM POR CENTO DA POPULAÇÃO.
da série “O Invisível Gaúcho Negro” de Eduardo Tavares
Em costas negras
Pelotas cresceu de maneira acelerada no século 19, e por conta das charqueadas se tornou uma das cidades mais ricas do estado. A indústria do charque fez crescer exponencialmente o numero de habitantes da região e exigiu uma demanda colossal de mão de obra escravizada. Relatos como os de Auguste de Saint-Hilaire em sua obra Viagens ao Rio Grande do Sul, nos dá a dimensão do tratamento dado aos escravos:
Nas charqueadas os negros são tratados com rudeza. O senhor Chaves, tido como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos com exagerada severidade, no que é imitado pela sua mulher.
Há sempre na sala um pequeno negro de dez ou doze anos, cuja função é de ir chamar os outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança. Nunca se assenta, jamais sorri, em tempo algum brinca. Passa a vida tristemente encostado à parede e é frequentemente maltratado pelos filhos do dono. Não é esta casa a única que usa este impiedoso sistema: ele é comum em outras.
Ainda hoje é possível ver os resquícios da glória passada conservada nos casarões tombados pelo IPHAN, e também, a factível presença da cultura negra em toda cidade, seja no Carnaval; no clássico bar O Liberdade; nos terreiros de religiões de matriz africana; ou até mesmo nos mais diversos Clubes Socias Negros espalhados por toda cidade.
Antes da glória do charque os negros escravizados também eram usados nas estâncias. Folcloristas e historiadores do inicio do século 20 buscaram minimizar o impacto da mão de obra escrava na economia campeira, no esforço de afastar das tradições gaúchas as marcas profundas da escravidão. Pesquisas mais recentes baseadas em inventários post morten indicam que nas mais diversas regiões os escravos montavam cavalos, estavam integrados à lida do campo e eram fator significativo no que diz respeito a economia pecuária.
da série “O Invisível Gaúcho Negro” de Eduardo Tavares
História é memoria (ou a falta dela)
O trecho do Hino à Proclamação da República, escrito em 1890, apenas dois anos após a abolição da escravidão, é um exemplo claro do pensamento dominante na virada do século.
Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre País…
Hoje o rubro lampejo da aurora
Acha irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! Ao futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, ovante, da Pátria no altar!
Buscava-se um caminho para construir uma identidade nacional baseada na ideia da mistura das “três raças” ao mesmo tempo em que se esforçavam para que os horrores da escravidão e do genocídio de nações indígenas fossem esquecidos.
No Rio Grande do Sul, negros gaúchos ouvem desde criança no Hino do Estado que:
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Houve uma abundância de autores que trataram de mostrar que o Rio Grande do Sul seria uma região composta majoritariamente por europeus — principalmente por portugueses, e posteriormente, com a massiva onda migratória, por alemãs, italianos, pomeranos, poloneses etc. Apagar a herança africana da memoria coletiva durante a construção da identidade gaúcha era de suma importância, pois um povo tão virtuoso não poderia ter em sua linhagem histórica pessoas que passara tanto tempo escravizada.
Depois de três séculos de escravidão, não havia jeito de esconder a presença da cultura negra debaixo do tapete. Para tanto foi disseminada a ideia de que a escravidão tivera pouca ou nenhuma importância na economia estancieira.
da série “O Invisível Gaúcho Negro” de Eduardo Tavares
O processo de esquecimento da memória negra em solo gaúcho foi sistêmico e proposital. Encontrou nas políticas de embranquecimento, que se baseava na ideia de supremacia branca, as condições perfeitas para que pudesse pouco a pouco esquecer de seu passado negro.
Apesar de tudo e de todos, a cultura negra sobreviveu nos pampas e nas regiões urbanizadas, mas não foi sem custo. No pré-abolição os negros forros se reuniram em irmandades religiosas e juntos desenvolveram maneiras de conseguir fundos para comprar a liberdade de negros ainda escravizados. No pós-abolição, a comunidade articulou diversas maneiras para aumentar seus espaços de autonomia e se afirmar na sociedade como sujeitos negros. Se reuniram em torno de terreiros, clubes sociais, clubes esportivos e em diversas regiões do estado havia uma imprensa negra consolidada.
Se a memória negra não foi apagada no Rio Grande do Sul o motivo é claro, houve negros e negras que resistiram EM TODO O TEMPO.
E ainda resistem. Tem negros resistindo na academia, produzindo ciência, pesquisando a trajetória de seus ancestrais. Tem negros resistindo nas vilas, desenvolvendo projetos sociais que fortalece e empodera a comunidade negra. Tem negros resistindo nos espaços de fé, mantendo viva sua religiosidade e memória. Tem negros resistindo nos poderes políticos. Tem negros resistindo nos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas) . Tem negros resistindo nas colônias. Tem negros resistindo. Tem negros.
Tem negros no Rio Grande do Sul.
Referências bibliográficas
FARINATTI, Luís Augusto E. Escravos nas estâncias e nos campos: escravidão e trabalho na Campanha Rio-grandense (1831- 1870). Conservatória: Anais do VI Congresso Brasileiro de História Econômica, 2005b.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. São Paulo: Itatiaia, 1999. 216 p
SILVA, Fernanda Oliveira da. Os negros, a constituição de espaços para os seus e o entrelaçamento desses espaços:associações e identidades negras em Pelotas (1820–1943). 2011. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2015.
TORRES, L. H. A cidade do Rio Grande: escravidão e presença negra. Biblos, Rio Grande, v. 22, n. , p.101–117, 2008. Disponível em:. Acesso em: 13 nov. 2015
ZARTH, Paulo A. Escravidão nas estâncias pastoris das estâncias da província de São Pedro do Rio Grande do Sul. In: MAESTRI, Mario; LIMA, Solimar (Org.). Peões, vaqueiros e cativos campeiros: Estudos sobre a economia pastoril no Brasil. Passo Fundo: Upf, 2010. p. 181–211.
Thiago André
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Militar, fotógrafo, projeto de historiador e treinador Pokémon. Não necessariamente nesta ordem.
terça-feira, 16 de abril de 2024
Processo de adesão: Os 36 anos de Movimento Negro Unificado – MNU
Processo de adesão: Os 36 anos de Movimento Negro Unificado – MNU
22/06/2014
TAGSAfro-brasileiros e suas lutasMNUMovimento Negro
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Processo de adesão: Os 36 anos de Movimento Negro Unificado – MNU
Militante da luta racial em Porto Alegre nos anos 70, Helena Vitória analisa a trajetória do Movimento Negro Unificado – MNU organização que neste 18 de junho completa 36 anos
IV Congresso do MNU – Encerramento. Oliveira Silveira falando pelo MNU do Rio Grande do Sul. Taboão da Serra. São Paulo, 3 a 5 de junho de 1983. (Foto: Ireno Jardim/Acervo Oliveira Silveira) História – Vamos situar, primeiramente, a expressão Movimento Negro. Compartilho com a definição de Joel Rufino dos Santos: “- (…) todas as entidades, de qualquer natureza, e todas as ações, de qualquer tempo, aí compreendidas mesmo aquelas que visavam à autodefesa física e cultural do negro, fundadas e promovidas por pretos e negros (…). Entidades religiosas como terreiros de candomblé, por exemplo, assistenciais como as confrarias coloniais, recreativas como ‘clubes de negros’, artísticas como os inúmeros grupos de dança, capoeira, teatro, poesia, culturais como os diversos “centros de pesquisa” e políticas como o Movimento Negro Unificado e ações de mobilização política, de protesto antidiscriminatório, de aquilombamento, de rebeldia armada, de movimentos artísticos, literários e ‘folclóricos’ – toda essa complexa dinâmica, ostensiva ou encoberta, extemporânea ou cotidiana, constitui movimento negro”
Eu agregaria ainda as ações das irmandades negras, dos terreiros de batuque, e das escolas de samba, mesmo que em alguma delas, por vezes, ocorra preponderância do aspecto cultural. O entendimento é de que a expressão Movimento Negro abarque as manifestações de protesto ou afirmação negra, ocorridas desde os porões dos navios negreiros. O Unificado, possivelmente, foi o primeiro a marcar seu nome com a referida expressão.
Meu ingresso no Grupo Palmares, fundado em Porto Alegre em 20 de julho de 1971, foi o início da construção de um quebra-cabeça interior que permanece comigo até hoje: ativismo na questão negra no Brasil. Entrei no Grupo em novembro de 1971 e a data 20 de novembro estava sendo lembrada pela primeira vez, como o ‘Dia da Consciência Negra’, no Clube Náutico Marcílio Dias, de saudosa memória. Iniciei minha participação na ocasião dessa primeira atividade pública do Palmares, vindo a conhecer, então, as propostas centrais que eram de revisão de aspectos da história do negro no Brasil e a necessidade de se discutir e divulgar fatos trazidos à tona pela nova historiografia.
A caracterização do Grupo Palmares, pelos próprios integrantes, como um grupo de discussões estabelecia um limite para a ação militante, não ensejando o desenvolvimento de atividades sociopolíticas mais engajadas, tais como contestações coletivas de protesto, críticas ao caráter racista do sistema etc. A proximidade do Grupo Palmares com populações de outras inserções sociais, através de exposições, palestras e encontros, cumpria um papel informativo e poderia influir na afirmação da identidade negra. Mas ficava em aberto a contextualização conjuntural, ferramenta para despertar a consciência da questão negra no Brasil como questão estrutural.
Outro aspecto polêmico era o culto a heróis, como o dirigente Zumbi. Nosso entendimento pessoal era de que a criação de heróis é uma característica do sistema, que é quem precisa de heróis. O trabalho desses líderes tem um enorme suporte coletivo que quase nunca aparece – na divulgação histórica dos valores humanos da República de Palmares o protagonismo de milhares de quilombolas tem que ser resgatado. À época, em vários estados do país o 20 de novembro recebia significativas programações. Por vezes Palmares ou mesmo Zumbi eram utilizados de maneira oportunista, chegando a levar ao esvaziamento do real significado da única tentativa, no Brasil colônia, de ser estabelecida uma sociedade democrática. Em resumo, o Grupo Palmares, de sólido ideário, com erudição e competência no quadro de seus integrantes, não se propunha a ser identificado como movimento político de mobilização negra evidenciando, na maior parte do tempo, uma face fundamentalmente cultural.
Permaneci no Palmares até 1978, ano em que iniciei colaboração na imprensa negra através da comissão de redação do jornal Tição de Porto Alegre. O fato de o 20 de novembro se constituir hoje em feriado em diversas capitais do país é um exemplo evidente do trabalho de luta por espaço na memória nacional brasileira, decorrência das proposições do Grupo Palmares e do Movimento Negro Unificado, não necessariamente desenvolvido por ativistas vinculados a eles.
No final da década de 1970, a crise econômica que se abate sobre o mundo começa a apresentar seus reflexos sobre o Brasil, que já vivia num tempo sombrio de ditadura: O decantado “Milagre Brasileiro” não aconteceu – o capitalismo brasileiro, com dificuldades de avançar o seu /projeto de expansão (desenvolvimento econômico), a inflação devorando o poder aquisitivo dos trabalhadores, os empregos desaparecendo, grandes movimentos sociais, manifestações em praças públicas, violência policial, as greves etc. Esse aumento das mobilizações teve como resultado o desenvolvimento da consciência da população oprimida.
Criação do MNU
E o MNU aparece nesse bojo, trazendo propostas às minhas indagações. Criado em 07 de julho de 78 (há 36 anos), em ato público com cerca de duas mil pessoas, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, se propunha a “…ser uma organização de lutas e denúncias em todos os campos onde haja opressão e perseguição do negro, ou seja, um órgão de forte representatividade da população negra em sua luta pela liberdade…”. O MNU ainda nesse ano, em sua segunda Assembleia Nacional, em Salvador, proclamava o 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.
Processo de adesão: Os 36 anos de Movimento Negro Unificado – MNU
Processo de adesão: Os 36 anos de Movimento Negro Unificado – MNU
O ato público foi realizado no dia 7 de julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo, reunindo cerca de 2 mil pessoas. Milton Barbosa realiza a leitura de Carta Aberta a População em ato público em repúdio à discriminação racial sofrida por quatro jovens no Clube de Regatas Tietê e em protesto à morte de Robson Silveira da Luz, trabalhador e pai de família negro, torturado até a morte no 44º Distrito de Guainases. (Foto: Divulgação)
No Grupo Palmares minha participação foi, basicamente, de inauguração de militância e de reflexões pessoais. Quando surgiu o MNU, quando li a Carta de Princípios e o Programa de Ação, compreendi que ali estava boa parte da base conceitual e propositiva para minha atuação. A linha programática abrangia desde a luta contra o desemprego, pelo saneamento básico, pela criação de escolas autônomas nas comunidades, pela criação de teatros na periferia, pela defesa de posses de terras ou doações, até a organização do trabalhador rural, a liberdade sindical e o apoio à luta internacional contra o racismo, entre dezenas de outros itens não menos importantes nem menos urgentes. Na verdade, o MNU apresentava um perfil inédito na resistência negra brasileira, mercê o caráter sociopolítico evidenciadamente sindical de suas proposições. Comecei a participar dos congressos nacionais trazendo informações para as matérias do jornal Tição, canal que nos fez colocar o Movimento Negro Unificado na roda em Porto Alegre.
Eu estava saindo do Palmares, mas o jornal Tição também tinha conquistado outros integrantes do Grupo – as coisas meio que se imbricavam. Passamos a incentivar a criação de outros núcleos do MNU abrangendo a Região Metropolitana de Porto Alegre, utilizando oficinas e debates e abrimos articulação com outros movimentos sociais como o dos colonos de Ronda Alta em 1981. Em março desse mesmo ano foi lançado o ‘Manifesto de Adesão do RS ao Movimento Negro Unificado’. Integrei a Comissão Executiva Nacional até o final da década.
Com as proposições e basicamente as ações políticas do Movimento Negro Unificado houve uma modificação na forma de enfrentar o racismo e a discriminação racial no país. O Movimento propiciou uma mudança na luta das organizações negras, direcionando o produto das salas de debates e conferência, atividades lúdicas e esportivas, para ações de confronto aos atos de racismo e discriminação racial, elaboração de panfletos e jornais, realização de atos públicos e criação de núcleos organizados em associações recreativas, de moradores, categorias de trabalhadores, nas universidades públicas e privadas.
Com esse diferencial, o MNU foi, na década de oitenta, a organização que realizou as maiores e mais importantes manifestações contra o Apartheid na África do Sul, embora não recebesse apoio político ou financeiro da Organização das Nações Unidas – ONU. No início dessa década o MNU – SP garantiu também, pela primeira vez a fala oficial no Brasil da Organização Para Libertação da Palestina – OLP. No final da década de 80, no VIII Encontro de Negros do Norte – Nordeste, foram definidas questões que balizaram a atual lei 10.639/03, que dispõe sobre o ensino da História da África e do Negro no Brasil. A constituição do MNU como foro privilegiado de debates sobre a discriminação racial refletiu-se na atitude do Estado em relação ao tema, culminando com a criação em 1984 do primeiro órgão público voltado para o apoio dos movimentos sociais afro-brasileiros: o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, no governo da cidade de São Paulo, que incentivou iniciativas semelhantes em outros estados. Partiu também do Movimento Negro Unificado a proposição de indicar um representante dos negros para a chamada Comissão Afonso Arinos, que criminalizou a discriminação racial na Constituição Brasileira de 1988.
Em síntese, no árduo e longo processo de superação do racismo no Brasil, o MNU esteve presente nas manifestações contra o regime de apartheid da África do Sul, pela derrubada da ditadura e por eleições livres no Brasil, no “Fora Collor”, na Construção da CUT, na Constituinte, emplacando bandeiras pelo reconhecimento das terras quilombolas, e pela inclusão da história do negro nos currículos escolares. Foi perseguido pela repressão e por governos ditos “democráticos”, com detenção e com demissões de militantes sindicais. O MNU continua sendo tema de artigos, teses e livros.
Organização
Enquanto no centro do país, na esfera política, a principal questão colocada pelo Movimento Negro Unificado era o enfrentamento de pressupostos basilares da ideologia e da ditadura militar, principalmente os de cultura e integração nacional e de questões internacionais sobre o racismo, aqui no sul a militância interagia em seu próprio entorno. Além do mais, em muitos momentos o Movimento demonstrava fragilidades em relação à sua unidade. Sendo uma organização federativa, o Unificado necessitava difundir aos núcleos estaduais instruções normativas no entendimento de que, para se ter uma sólida formação na militância, era preciso conhecer o que era o movimento, como surgiu, quais eram seus objetivos e como se organizava. Os filiados, em todo o país, deveriam assumir os documentos básicos da organização, aprovados nas assembleias nacionais: Estatuto, Programa de Ação, Carta de Princípios e Regimento Interno, cumprindo orientação advinda de decisão coletiva. No entanto as práticas e as alternativas de organização dos grupos do sul não se encaixavam no dossiê de normativas nacionais.
A história de formação e a realidade concreta por eles vivida não lograva espaço para se expressar nos encontros nacionais e, por vezes, nem havia condições objetivas de se fazerem representar nessas assembleias. Defendíamos em contrapartida à cópia do caminho oficialista e à rigidez do método organizativo, uma estrutura negra que pudesse ser reconhecida enquanto tal, baseada em nossas lutas cotidianas locais e sensível a um aprendizado com as diferentes formas de resistência que nossos antepassados sempre souberam criar com sabedoria, surgidas de baixo para cima, se concretizando horizontalmente com trocas, reavaliações, retomada de erros e opiniões.
Todavia, os grupos, ao invés de construírem um movimento de oposição à ideologia dominante, criando assim suas bases político-culturais de combate não apenas ao racismo, mas também ao capitalismo, assumiam, quase sempre, a forma da polarização-oposição. Desse modo a extrema preocupação com normativas deixava abertura para manipulações pelo sistema vigente e suas instituições tais como os partidos políticos.
É importante observar que, a partir de 1979, tomou proporção a expectativa de obtenção de poder, pelos negros, no cenário político brasileiro, a partir dos partidos. O movimento negro organizado vislumbrava a chance real de conquista de poder, já que o negro constituiu a base social onde ocorreu a formação inicial de alguns partidos. Aqui no sul, alianças, negociações e regulamentações passaram a fazer parte desse jogo de acesso ao poder disponibilizado pelos partidos para os negros, sem que tenha ocorrido a necessária averiguação de até que ponto o discurso de partidos originários das bases sociais é realizado na prática, quando o tema é a democratização de poder incluindo negros. Isso veio a impedir o desenvolvimento harmônico e consensual do trabalho, reforçou atitudes individualistas, ascensionistas e competitivas, dividindo os núcleos do MNU.
A complexidade da tarefa do Movimento Negro Unificado continua extrapolando a dimensão que imaginamos, em razão de que sua luta é externa, contra um sistema baseado em desigualdades sociais e étnicas, mas também é interna, buscando estabelecer uma unidade independente, solidária e coesa frente à sociedade brasileira.
Por Helena Vitória dos Santos Machado, arquiteta especialista lato sensu em ‘Sociedade, Cultura e Política na América Latina’
Fonte: Mamapress
Documento original do site: www.geledes.com.br
sexta-feira, 26 de janeiro de 2024
AQUALTUNE
Sua vida começa no continente africano, no Congo, no século XVI.
Após ser derrotada em uma batalha, Aqualtune foi vendida como escrava e trazida para o Brasil, mas fugiu e ajudou a fortalecer o que se tornou o Quilombo dos Palmares, cujo último líder foi seu neto, Zumbi
Aqualtune foi uma princesa africana, filha do rei do Congo. No final do século XVI, sua nação foi invadida por um grupo de mercenários e, apesar de Aqualtune comandar um grupo de cerca de 10 mil homens e mulheres contra os invasores, seu povo foi derrotado.
Com a derrota, seu pai foi decapitado, a princesa foi capturada por forças portuguesas e levada para um mercado de escravos junto com seus compatriotas e, de lá, foi enviada para o Brasil.
Chegou ao Recife em 1597, mesmo ano em que um grupo de 40 negros fugidos chegou à Serra da Barriga, formando o primeiro núcleo do que seria o Quilombo dos Palmares.
Uma vez no Brasil, mais específicamente no Recife, Aqualtune foi vendida como escrava reprodutora e seguiu, já grávida, para uma fazenda na região de Porto Calvo, no Estado de Alagoas. Foi nessa região que ouviu os primeiros relatos sobre um reduto de africanos livres, o que seria o Quilombo de Palmares e decidiu comandar uma fuga com destino a esse quilombo.
Com ascendência nobre e um histórico de comandar batalhas em sua terra natal, Aqualtune recebeu uma aldeia para comandar e ajudou a erguer o que seria “um império em meio à selva”, como definiu a jornalista Sandra Regina do Nascimento Santos, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e autora do livro ‘Brincando e ouvindo histórias’, parte de uma coleção do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (NEINB), da USP.
Entre os filhos de Aqualtune estão os guerreiros Gamba Zumba e Gana Zona, e Sabina, mãe de Zumbi, o último líder do Quilombo dos Palmares.
A líder quilombola e avó de Zumbi dos Palmares desapareceu dos registros históricos em 21 de setembro de 1677, quando sua cidadela foi atacada, e não se sabe quando exatamente ela morreu. Na época do ataque, ela já era idosa.
A causa de sua morte é incerta, mas seus feitos ajudaram a consolidar o Quilombo dos Palmares como refúgio dos escravos na colônia. Apesar de ser pouco lembrada pelos livros de História, Aqualtune foi uma figura muito importante para a história da população negra durante o período colonial. Ela simbolizou liderança e luta dentro do sistema escravocrata e passou isso adiante através de seus herdeiros e de seu comando no quilombo.
Fontes: Brincando e Ouvindo Histórias, coleção Percepções da Diferença: Negros e Brancos na Escola, Wikipédia.com.
terça-feira, 9 de janeiro de 2024
O charque gaúcho: escravidão e guerra - ESQUECER? JAMAIS
A produção do charque iniciou, em 1780, na cidade de Pelotas (RS). Introduzido pelo cearense José Pinto Martins, às margens do canal de São Gonçalo, teve sua produção sustentada pelo braço escravo. Este produto monopolizou a economia sulina, por muito tempo, gerando uma elite de estancieiros ricos que, no século 19, insurgiu-se contra o Império. Entre outras causas deste conflito bélico, conhecido como Revolução Farroupilha (1835-1845), destacam-se os altos impostos taxados sob o charque e o couro, o centralismo político do império e a sua preferência pela compra do charque platino em detrimento do produzido na “Província Gaúcha”. O charque gaúcho, durante muito tempo, havia sido o responsável pela alimentação da escravaria de outras regiões do Brasil, desde o ciclo da mineração (ouro).
por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite via Guest Post para o Portal Geledés
A produção do charque, no Uruguai, antiga Província da Cisplatina, utilizava-se de mão de obra assalariada (livre), tinha menos custos empreendedores, sendo vendido a menor preço. Desta forma, ganhou espaço no mercado brasileiro e desbancou o que era produzido pela nossa elite estancieira.
Diante de qualquer negociação, com o império, que beneficiasse a Província de São Pedro (RS), a solução foi deflagrar uma luta contra o poder central que se constituiu na mais longeva guerra, travada por uma província contra o império. Durante o desenrolar da guerra houve a proclamação da República Rio-grandense, em 11 de setembro de 1836, pelo gen. Antônio de Sousa Netto (1803-1866) após a vitória da Batalha de Seival. No dia 20 de setembro de 1835, começou o confronto: os farroupilhas invadiram, pela Ponte da Azenha, Porto Alegre, iniciando a Revolução Farroupilha que se prolongou até 1845, quando ocorreu o Acordo de Paz de Ponche Verde, encerrando o conflito bélico.
A participação do negro, durante a luta, foi destacada. O “Corpo dos Lanceiros Negros” passou para a história por sua bravura e resistência. O aceno da conquista da liberdade, após o final da guerra, transformou-os em gigantes bélicos. Infelizmente, o massacre destes bravos lanceiros, em Porongos, no dia 14 de novembro de 1844, na atual região de Pinheiro Machado, ainda, é um episódio mal elucidado pela historiografia. Afinal, os negros foram traídos ou não? Houve realmente um acordo secreto, entre o Império (Duque de Caxias) e os farroupilhas (David Canabarro), para dizimá-los, temendo uma insurreição? Para alguns historiadores, como o respeitável historiador Mário Maestri, não há dúvida quanto à traição, pois foi encontrada uma carta, cuja assinatura foi considerada verdadeira.
A traição de Porongos é tratada, por Mário Maestri, no seu livro “O Escravo Gaúcho – Resistência e Trabalho” (1993), editado pela UFRGS. De acordo com o historiador, o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul reconheceu a assinatura do Duque de Caxias (1803-1880) como autêntica. Nesta carta se encontra o seguinte trecho:
“No conflito poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda pode ser útil no futuro”.
Os defensores de David Canabarro (1796-1867) acreditam na tese de que esta carta teria sido forjada, pelos legalistas, para incriminar o líder farroupilha. A realidade é que os “Lanceiros Negros” foram o alvo principal, sendo que a maioria, destes negros, foram dizimados neste famoso “ataque surpresa”, comandado por Francisco Pedro Buarque de Abreu (1811-1891), o Moringue, enquanto todos dormiam no acampamento farroupilha.
Após a proibição do Tráfico Negreiro (1850) – Lei Euzébio de Queirós – intensificou-se um comércio interno no País, e adquirir um escravo tornou-se ainda mais caro. O escravo que era vendido, pelo seu dono, para trabalhar nas charqueadas gaúchas, sol a sol, enfrentava um verdadeiro “purgatório”, pois sofria um desgaste físico redobrado devido à irradiação do sol sobre o sal, terminando por abreviar sua existência.
O Rio Grande do Sul, Ceará e Amazonas foram províncias que libertaram seus escravos ,em 1884, antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea (1888). Infelizmente a tão sonhada liberdade não trouxe inclusão social, restando à massa de escravos libertos a pobreza, a exploração de mão de obra barata e o estigma da escravidão. O latifúndio e a mão de obra escrava foram o binômio da economia que sustentou o Brasil no período colonial e imperial.
A Independência do Brasil ocorreu, no dia 07 em setembro 1822, ou, segundo os maçons, em agosto daquele ano, porém a estrutura socioeconômica permaneceu igual: uma monarquia sustentada pelo latifúndio monocultor e escravocrata. Foram 400 anos de escravidão e exploração. Fomos a última Nação a abolir o trabalho escravo, e a última monarquia num contexto republicano que dominava o Continente Americano. De acordo com a frase constantemente reproduzida em artigos, porém sem o registro da autoria: “o Brasil era uma flor exótica nas Américas…” A partir da Lei Áurea (1888), assinada pela princesa Isabel, até a atualidade, o caminho da inclusão social tem sido árduo no que concerne o combate ao racismo, intolerância às tradições africanas; além do fator educação que colabora para a invisibilidade quando se trata da contribuição cultural do negro. Este último caso, refiro-me, infelizmente, ao desconhecimento de muitos educadores sobre o legado do negro na formação do povo brasileiro, ainda que seja obrigatória nas escolas, por lei, uma disciplina que contemple a contribuição cultural dos afrodescendentes em nosso País.
Já ocorreram avanços, mas, ainda, há um longo caminho a ser percorrido. Está presente em nosso cotidiano e sofremos os reflexos deste passado escravocrata, sob os artífices do racismo assumido ou velado. Quando velado, ele se encobre por uma pretensa “Democracia Racial”, sob o véu da hipocrisia, constituindo-se num dos piores fatores que desagregam e enfraquecem a luta pela conquista do passaporte da verdadeira cidadania. Estamos diante de um inimigo sem rosto, que atua em silêncio, como um camaleão, indo de encontro à construção de uma sociedade mais justa e fraterna e, óbvio, sem demagogia…
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite / Pesquisador e Coordenador do Setor de Imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.*.
Bibliografia
BARBOSA, Fidélis Dalcin Barbosa. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edições EST, 1995.
FAGUNDES, Antônio Augusto. Cronologia do Dêcenio Heróico: 1835 a 1845. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2008.
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Ediplat, 2006.
FREITAS, Décio. A comédia Brasileira. Porto Alegre: Sulina, 1994.
K0ÜHN, Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007.
NASCIMBENE, Luigi (1801-1873). Tentativa de Independência do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: CiaE, 2009.
PESAVENTO, Sandra J. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984.
SANTOS, Julio R. Quevedo e SANTOS, José C. Tamanquevis. Rio Grande do Sul – Aspectos da História. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997.
SAVARIS, Manoelito Carlos. Rio Grande do Sul / História e Identidade . Porto Alegre: Fundação Cultural Gaúcha – MTG, 2008.
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A ORIGEM DO CHARQUE - HISTÓRIA
Nos Andes da América do Sul, na era pré-colombiana, já existia um preparo de carne desidratada. Os cortes utilizados eram de lhama ou outro gado, e chamava charqui.
No Brasil, iniciou-se no Nordeste, no fim do século 17, se intensificou com a implantação das estâncias de gado. Inicialmente, servia para a alimentação dos escravos.
A maioria dos produtores de carne bovina eram os estados de Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Com a desvalorização do rebanho durante o transporte para abate nos mercados consumidores, os produtores começaram a abater os animais e conservar a carne em sal. Gado e sal foram os negócios que renderam lucros para suas capitanias produtoras.
Porém, com a seca iniciada em 1777, que se prolongou com estiagens por dois anos, a produção de charque no nordeste se tornou inviável devido à morte dos rebanhos das fazendas, o que provocou uma crise econômica na região. Logo, o estado do Rio Grande do Sul, que naquela altura já tinha um enorme rebanho, começou a liderar a produção de carne.
No ano de 1780, em Pelotas, foi construída a primeira charqueada de que se tem registro, por José Pinto Martins, refugiado da seca cearense. Pouco depois, muitos outros estabelecimentos foram construídos, e o charque passou a ser exportado para o Nordeste.
No século 19, o charque era utilizado como alimento dos escravos da cafeicultura em todo o Brasil e nas regiões que adotavam o sistema escravista, como o Caribe. Era também utilizado pelas camadas pobres da população livre, por ser barato e dispensar refrigeração. O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil, com concorrência do Uruguai e da Argentina. Até o final do ciclo do Charque, o Rio Grande do Sul era o maior produtor de charque do Brasil.
Prof. F Silva
Fontes:
Beroldt, Leonardo; et al. (2009). Seminário Integrador I. Porto Alegre: PLAGEDER. ISBN 9788538600978. Consultado em 22 de abril de 2013
Caldeira, Jorge (1999). A nação mercantilista. ensaio sobre o Brasil. São Paulo: Editora 34. 415 páginas. ISBN 9788573261387. Consultado em 22 de abril de 2013
Willard Crompton, Samuel (2005). 100 guerras que mudaram a história. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. 250 páginas. ISBN 9788500016325
LEI Nº 14.795, DE 5 DE JANEIRO DE 2024 Inscreve os Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Presidência da República
Casa Civil
Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 14.795, DE 5 DE JANEIRO DE 2024
Inscreve os Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Ficam inscritos os Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 5 de janeiro de 2024; 203o da Independência e 136o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Silvio Luiz de Almeida
Camilo Sobreira de Santana
Anielle Francisco da Silva
Este texto não substitui o publicado no DOU de 8.1.2024.
quinta-feira, 19 de outubro de 2023
NOVA COORDENAÇÃO ESTADUAL DO MNU/RIO GRANDE DO SUL
Gestão 2023/2025
A Assembleia Estadual do Movimento Negro Unificado do Rio Grande do Sul, para eleição da Coordenação Estadual, gestão 2023 – 2025, ocorreu dia 30 de setembro de 2023, das 9:00 às 17:00 horas, no formato presencial, tendo como local o auditório do SINDIPOLO, na Avenida Júlio de Castilhos, 596, 8º andar, Centro Histórico de Porto Alegre.
A nova Coordenação ficou com esta composição:
Iyá Sandrali de Campos Bueno – Coordenadora Estadual
Vera Lúcia Goulart da Rosa – Coordenadora da Secretaria
Ângela Maria Souza de Lima – Coordenadora da Tesouraria
Catiana Leite Nunes – Coordenadora de Comunicação
Márcio Luiz Rosa de Oliveira – Coordenador de Formação
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