segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CASO NIGERIANOS.

Membros do Movimento Social Negro e representantes das Organizações de Direitos Humanos visitam navio de bandeira turca que mantém nigerianos presos.
Estivemos hoje 28-09, em Paranaguá, representando a Associação Cultural de Negritude e Ação Popular-ACNAP e Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial do Paraná-FPEDER, juntamente com a representante do Instituto de Pesquisa da Afrodescendencia - IPAD-BRASIL e Instituto de Defesa dos Direitos Humanos-IDDHA, Comissão de Direitos Humanos da Assembléia legislativa do Paraná, um membro do Afro Globo, da APP-Sindicato, do Conselho Estadual de Educação, Pastoral do Imigrante, advogadas da Casa Latino Americana-CASLA, o Conselho Permanente de Direitos Humanos no Paraná-COPED, para averiguarmos a situação dos nigerinos que se encontram preso em um navio de bandeira turca na costa do Porto de Paranaguá.
Chegamos em Paranaguá, por volta de 10 horas da manha e procuramos fazer contato com o delegado da policia federal, que nos recebeu e ao perguntarmos da situação dos nigerianos, sentimos em seu posicionamento de que o mesmo nada faria para ajudá-los, pois ao invés de informar da real situação, passou a relatar outros casos de africanos que vieram clandestinos e, segundo ele, todos são “clandestinos profissionais” que deixam seus países e, uma vez o navio chegando no destino, tudo fazem para, ou ser aceitos como refugiados ou na ameaça de ser repatriados criam todo tipo de problemas, inclusive tentam de todas as formas extorquir dinheiro para retornar aos seus países de origem.
Ao percebermos que nada conseguiríamos com esse delegado, solicitamos permissão para visitá-los e checarmos a real situação dos mesmos, então o delegado disse que tínhamos sua permissão, mas nos mandou para a receita federal, de lá, o delegado da receita nos mandou para a empresa Cargil, uma vez que a carga que seria embarcada era soja dessa empresa. Na Cargil, com o aval das autoridades, conseguimos o nome do responsável do navio em terra onde, por telefone, combinamos nos encontrar ao lado da Policia Portuária para tomarmos uma lancha que nos levaria até o navio. Quando nos encontramos, foi tirada uma comissão, eu Paulo Borges representando ACNAP-FPEDER-PR, o Adebayo, nigeriano que vive em Curitiba e representa o Afro Globo, Lena do IPAD Brasil e IDDEHA, a advogada da CASLA, a Santa do Conselho Permanente de Direitos Humanos no Paraná-COPED e o representante do Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Paraná.
No navio, fomos recebidos pelo Capitão, marinheiros e alguns seguranças de empresa particular que montavam guardas nos locais onde os presos estavam confinados. Então pudemos conversar com todos eles, Isto é, um de cada vez, pois segundo os guardas, eles eram muito agressivos. Assim, um de cada vez saia do compartimento (tipo de container deposito), para conversarmos. Percebemos que eles estão muito debilitados, acreditamos que seja pelo período que ficaram escondidos no navio e mal alimentados. Nos informaram que quando saíram do Porto de Lagos-Nigeria eram 10, mas sete dias depois que deixaram o porto, um deles caiu no mar e desapareceu. Estavam viajando num compartimento minúsculo local onde é lançada a ancora. Os que ficaram no nono dia se entregaram e, desde então permaneceram presos.
A principio estavam todos juntos, mas depois foram separados em grupos de três em cada “cela” (depósito). E todos expressam a vontade de permanecerem no Brasil, alegaram como motivo de deixarem a Nigeria, embarcando clandestinamente, a falta de perspectiva de trabalho. Somente um deles apresentou documento, a carteira de um clube de futebol, dizendo que era jogador de um time chamado “Union Ajax of Lagos Football Academy”. Dois deles apresentaram como motivo do embarque para fuga, o conflito religioso no norte da Nigéria, mas o principal motivo que observamos é a falta de trabalho, pois todos imploravam que o governo brasileiro permitisse que fossem desembarcados, um deles quando insistiu no pedido, se ajoelhou quase que implorando para ficar no Brasil.
Também percebemos que eles temiam os membros da tripulação, acreditamos que houve maus tratos por parte destes, um deles nos mostrou sinais de queimadura nos braços, alegando que, quando os mesmos estavam muito inquietos alguém os atingia com um liquido, que, segundo ele, era um tipo de ácido que provocava coceira. Todos falavam inglês, mas relutavam em se comunicar nesse idioma, uma vez que alguns membros da tripulação também falavam inglês, então preferiam se comunicar em yorubá, como tínhamos conosco o Adebayo, este podia conversar com eles nesse idioma e traduzir para todo o grupo.
Saímos do navio com o propósito de nos reunirmos amanha 29-09, de manha e definirmos um encaminhamento junto às autoridades competentes uma solução para aqueles meninos, pois são jovens com faixa etária de 21 a 28 anos, estão muito assustados e temem pela suas vidas, caso tenha que retornar no mesmo navio podem morrer. O capitão do navio também gostaria que os mesmos fossem desembarcados no Brasil. Vamos continuar acompanhando o caso de perto para garantir a segurança e integridade física desses garotos.
Nivaldo “Paulo Borges” Arruda
Diretor Fundador da ACNAP – Comissão Executiva do FPEDER-PR.

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