sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus Escritora brasileira Por Dilva Frazão Biblioteconomista e professora Biografia de Carolina Maria de Jesus Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma autora brasileira, considerada uma das primeiras e mais destacadas escritoras negras do País. Ela é autora do livro best seller autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”. A origem de Carolina Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, Carolina cresceu em uma família com mais sete irmãos. A jovem recebeu o incentivo e a ajuda de Maria Leite Monteiro de Barros – uma das freguesas de sua mãe – para frequentar a escola. Com sete anos, ingressou no colégio Alan Kardec, onde cursou a primeira e a segunda série do ensino fundamental. Apesar de pouco tempo na escola, Carolina logo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita. Em 1924, em busca de oportunidades, sua família mudou-se para Lageado, onde trabalharam como lavradores em uma fazenda. Em 1927, retornaram para Sacramento. A mudança para São Paulo Em 1930 a família vai morar em Franca, São Paulo, onde Carolina trabalha como lavradora e, em seguida, como empregada doméstica. Com 23 anos, perde a sua mãe e vai para a capital onde emprega-se como faxineira na Santa Casa de Franca e, mais tarde, como empregada doméstica. Em 1948 muda-se para a favela do Canindé. Nos anos seguintes, Carolina foi mãe de três filhos, todos de relacionamentos diferentes. Carolina e a literatura Morando em uma favela, durante a noite trabalha como catadora de papel. Lê tudo que recolhe e guarda as revistas que encontra. Estava sempre escrevendo o seu dia a dia. Em 1941, sonhando em ser escritora, vai até a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas. No dia 24 de fevereiro, o seu poema e a sua foto são publicados no jornal. Carolina continuou levando regularmente os seus poemas para a redação do jornal. Por esse motivo acabou sendo apelidada de “A Poetisa Negra” e era cada vez mais admirada pelos leitores. Em 1958, o repórter do jornal Folha da Noite, Audálio Dantas, foi designado para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e, por acaso, uma das casas visitadas foi a de Carolina Maria de Jesus. Carolina lhe mostrou o seu diário, surpreendendo o repórter. Audálio ficou maravilhado com a história daquela mulher. A publicação de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” No dia 19 de maio de 1958, Audálio publicou parte do texto, que recebeu vários elogios. Em 1959, a revista O Cruzeiro também publica alguns trechos do diário. Somente em 1960 foi finalmente publicado o livro autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, com edição de Audálio Dantas. Com uma tiragem de dez mil exemplares, só durante a noite de autógrafos foram vendidos 600 livros. O sucesso de Carolina Com o sucesso das vendas, Carolina deixa a favela e pouco depois compra uma casa no Alto de Santana. Recebe homenagem da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo. Em 1961, a autora viaja para a Argentina onde é agraciada com a “Orden Caballero Del Tornillo”. Nos anos seguintes, Carolina publica: • “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada” (1961) • “Pedaços da Fome” (1963) • “Provérbios” (1965) O declínio de Carolina Apesar de ter um livro transformado em best seller, Carolina não se beneficiou com o sucesso e não demorou muito para voltar à condição de catadora de papel. Em 1969, mudou-se com os filhos para um sítio no bairro de Parelheiros, em São Paulo, época em que foi praticamente esquecida pelo mercado editorial. Carolina Maria de Jesus faleceu em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.

sexta-feira, 18 de março de 2022

MARIA FIRMINA DOS REIS: vida, obra e curiosidades sobre a escritora Por Fernanda Fernandes Arte de Antonio Hauaji/ MultiRio sobre selo comemorativo da Academia Maranhense Maria Firmina dos Reis foi uma escritora negra considerada a primeira romancista brasileira. Nasceu no Maranhão, em 11 de março de 1822. Sua obra Úrsula é precursora da temática abolicionista na literatura do país. O romance é considerado, ainda, o primeiro no gênero a ser publicado por uma mulher negra em todos os países de Língua Portuguesa. Maria Firmina denunciou a condição crítica e o cenário de desigualdade vivido pelos escravizados e pelas mulheres no século XIX. Foi professora, poeta, compositora e colaboradora de jornais do Maranhão, numa época em que a educação feminina era restrita aos cuidados com a casa e com a família. Como educadora, fundou uma escola mista (para meninos e meninas) no Maranhão, a primeira do estado e uma das primeiras do país, no início da década de 1880. Morreu aos 95 anos, pobre e cega, no município de Guimarães (MA). Em sua homenagem, no dia 11 de março é comemorado o Dia da Mulher Maranhense. Até hoje, informações equivocadas sobre sua biografia e sobre sua imagem circulam em diferentes mídias. Quem foi Maria Firmina dos Reis Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís, capital do Maranhão. Sua mãe, Leonor Felippa dos Reis, foi uma escravizada alforriada. Seu pai, João Pedro Esteves, um homem de posses, sócio do Comendador Caetano José Teixeira — a quem sua mãe serviu. A informação sobre a paternidade não consta no documento de batismo de Firmina, apenas na certidão de óbito, redigida no dia 11 de novembro de 1917. Aos 5 anos, Maria Firmina ficou órfã e se mudou para a cidade de Guimarães, no interior do Maranhão, para viver na casa da tia materna. Lá, formou-se professora — não há informações sobre como foi essa formação — e, aos 25 anos, foi aprovada em um concurso público para lecionar Primeiras Letras. Maria Firmina exerceu o magistério por muitos anos e recebeu o título de Mestra Régia. Na imprensa local, publicou poesia, ficção, crônicas e até enigmas e charadas. Quando se aposentou, no início da década de 1880, fundou em Maçaricó a primeira escola mista do Maranhão, gratuita para os alunos cujos pais não tinham condição de pagar. As atividades da escola acabaram sendo suspensas depois de dois anos e meio por causar grande polêmica na época. Afinal, era comum que meninos e meninas frequentassem turmas distintas. Maria Firmina nasceu no dia 11 de março de 1822, e não em 11 de outubro de 1825. A informação foi revelada apenas em 2017, pela pesquisadora Dilercy Aragão Adler, em Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, com base em documentos encontrados no Arquivo Público do Maranhão e até então inéditos. O livro de Adler também esclareceu a condição social da mãe de Maria Firmina. Muitos sites e publicações referem-se à matriarca como sendo portuguesa ou apenas como “mulher branca”. Outro equívoco sobre Maria Firmina diz respeito a sua imagem. Seu retrato é comumente associado à figura da escritora gaúcha Maria Bormann, contemporânea a ela. Úrsula: a principal obra de Maria Firmina O romance Úrsula foi publicado em 1859. A história conta com protagonistas brancos, mas, pela primeira vez na literatura brasileira, personagens negros têm voz. Na obra, africanos e afro-brasileiros refletem sobre as relações opressivas que enfrentavam em uma sociedade escravista e patriarcal. Por isso, este considerado, também, o primeiro romance da chamada literatura afro-brasileira. O Navio Negreiro (1870), de Castro Alves, e A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães, obras amplamente conhecidas no Brasil, foram publicados anos depois do romance de Firmina. “Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos às praias brasileiras. [...] É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!”, recorda a africana Preta Susana, uma das personagens de Úrsula. A condição da mulher na sociedade da época pode ser observada já no prólogo do romance, assinado com o pseudônimo “Uma Maranhense”. "Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem; com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo." Poesias de Maria Firmina e outras publicações Reprodução do periódico A Imprensa, de 8 de agosto de 1860 (Fonte: BN Digital/ Domínio Público) Além de Úrsula, a escritora escreveu outras duas narrativas de ficção e um volume de poemas. Também constam como sendo de sua autoria composições musicais reveladas pelo pesquisador José Nascimento Morais Filho. Confira. - Gupeva (1861) Gupeva é um conto que trata da história do indígena de nome homônimo ao do título e de sua filha de criação, Épica. No enredo, a personagem se apaixona pelo marinheiro francês Gastão, mas descobre que ele é seu irmão - filho de sua falecida mãe com um conde francês. O encontro entre Gupeva e Gastão torna-se um confronto entre Brasil e França, com um final trágico. A narrativa ocorre por meio de flashbacks, como outras de Maria Firmina, e foi publicada em capítulos na imprensa maranhense, com várias edições ao longo da década de 1860. - Cantos à beira-mar (1871) O livro reúne 56 poesias e é dedicado à memória da mãe de Maria Firmina. A temática é variada. O mar e a praia estão presentes nas poesias, referência à cidade litorânea de Guimarães, onde a autora passou grande parte da vida. A exaltação da terra e o nacionalismo, a desesperança e os amores não correspondidos, além da crítica velada contra a opressão patriarcal são outros temas presentes nas poesias. - A Escrava (1887) No conto, publicado na Revista Maranhense, a autora assume uma postura crítica ao escravismo e dá voz à mulher abolicionista e à mulher escravizada. Descreve o sofrimento por castigos físicos, pela falta de liberdade e, principalmente, pela separação entre mães e filhos. Escultura criada pelo artista plástico Flory Gama a partir de retrato falado colhido pelo biógrafo da autora. Atualmente, a obra está no Museu Histórico e Artístico do Maranhão (Foto: Ramses Santos/ Wikimedia Commons) A narrativa tem início em um salão com pessoas distintas da sociedade que, entre outros assuntos, discutem a questão da servidão. “Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um grande mal. [...] O escravo é olhado por todos como vítima – e o é. O senhor, que papel representa na opinião social? O senhor é o verdugo – e esta qualificação é hedionda”, diz um trecho da obra. Verdugo: Indivíduo que executa a pena de morte ou outros castigos corporais; algoz, carrasco, executor. Pessoa cruel, que inflige maus-tratos a alguém. Hediondo: Que é considerado desprezível ou ignóbil, do ponto de vista moral; abjeto, depravado, sórdido. Fonte: Dicionário Michaelis On-line. - Composições musicais Firmina foi autora de sete composições com letra e música, entre elas Auto de Bumba-meu-Boi e Hino à Liberdade dos Escravos. A informação foi revelada pelo pesquisador José Nascimento Morais Filho, com base em relatos orais de contemporâneos da escritora maranhense. No hino sobre a abolição da escravatura, dizia: “Quebrou-se enfim a cadeia/ Da nefanda Escravidão!/ Aqueles que antes oprimias/ Hoje terás como irmão!.” Homenagens no Maranhão e reconhecimento gradativo no Brasil Maria Firmina dos Reis faleceu em 1917. Em sua homenagem, no dia 11 de março é comemorado o Dia da Mulher Maranhense. Maria Firmina vem ganhando reconhecimento por parte da sociedade brasileira nos últimos anos, embora tenha ficado esquecida por aproximadamente um século. Em 2017, por ocasião do centenário da morte da autora, seus livros foram relançados. Fontes: Literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Maria Firmina dos Reis. Fundação Biblioteca Nacional. Maria Firmina dos Reis, primeira autora brasileira. CRUZ, Mariléia dos S.; MATOS, Érica; SILVA, Ediane. “Exma. Sra. d. Maria Firmina dos Reis, distinta literária maranhense”: a notoriedade de uma professora afrodescendente no século XIX. Feusp / Univ. Autònoma de Barcelona, 2018. REIS, Maria Firmina dos, 1825-1917. Úrsula e outras obras [recurso eletrônico] / Maria Firmina dos Reis. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018. SANTOS, Carla Sampaio dos. A escritora Maria Firmina dos Reis : história e memória de uma professora no Maranhão do século XIX. Unicamp – Campinas, SP: 2016. SIMÕES, Bárbara. A escrita de Maria Firmina dos Reis: Soluções para um problema existencia. Programa Nacional de Apoio à Pesquisa, 2012. Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. ZIN, Rafael Balseiro. A Dissonante representação imagética de Maria Firmina dos Reis: da simples denúncia às formas encontradas para se desfazer os equívocos. Estudos Linguísticos e Literários/ Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018. Blog A Arte literária, do escritor e pesquisador Sérgio Barcellos Ximenes. Cultura Educação Cultura Afro-Brasileira | Literatura

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