sábado, 20 de setembro de 2014

Mulheres negras e política: raça e gênero nas eleições gaúchas.

20 de setembro de 2014 02:43 Por Sandrali de Campos Bueno. O cenário político, como todo, é um terreno bastante hostil para as mulheres. Infelizmente, ainda somos criadas visando o espaço privado, o cuidado com o lar, com a família e as atividades domésticas. A política, como coisa pública que é, ainda continua sendo um espaço em que as mulheres são colocadas em segundo plano. Embora o acesso das mulheres aos partidos políticos tenha aumentado significativamente, oriundo de muitas lutas das próprias mulheres, o poder continua concentrado nas mãos e nas vozes dos homens. No que tange às mulheres negras, esse quadro se torna ainda mais preocupante. O racismo, assim como o machismo, estrutura a sociedade e, portanto, embora sejamos a maioria populacional do pais, somos sub-representadas. A Assembléia Legislativa gaúcha nunca elegeu uma deputada negra. O número de mulheres negras ocupando cargos no executivo brasileiro (prefeitas e governadoras) é pífio, além disso, os próprios partidos políticos silenciam as suas figuras públicas femininas e negras. O acesso aos recursos partidários para as negras é ainda menor, fazendo com que nossas dificuldades eleitorais sejam ainda mais expressivas. Concomitantemente, em decorrência da divisão sexual e racial do trabalho, nossas jornadas acumulam-se, o que obsta uma inserção mais incisiva de nossas companheiras nas disputas eleitorais. Embora tenhamos tres mulheres disputando o executivo nacional e uma mulher na disputa do poder executivo estadual, não basta ser mulher. É preciso estar conectada com as demandas dos movimentos de mulheres, comprometida com a efetiva reestruturação do sistema político brasileiro, com a promoção de políticas públicas contundentes que possibilitem maior espaço e condições para que cada vez mais mulheres concorram a cargos públicos e tenham possibilidades concretas de disputa. Nesse sentido, os partidos são instituições chaves para operar uma mudança de cenário que propicie essas condições, principalmente em suas estruturas internas. É urgente que tenhamos um comprometimento das direções partidárias em garantir espaço às candidatas mulheres, em especial para as mulheres negras. Este espaço, obviamente, deve ter reflexos no tempo de televisão, na maior visibilidade das militantes que encaram a dura tarefa de disputar um cargo eleitoral e, também, em ações que aproximem mais mulheres do cotidiano dirigente do partido. As cotas nas direções, em certa medida, são iniciativas que procuram solucionar essas questões. Contudo, se elas não são acompanhadas de outros empreendimentos, acabam se tornando apenas burocracias e cumprimento de resoluções que muito pouco contribuem para o empoderamento feminino. As reivindicações das mulheres por políticas públicas que atendam as suas demandas têm cada vez mais ecoado na sociedade. Nada mais coerente, que essas vozes, feministas e anti-racistas, também ecoem nos espaços eleitorais. Estamos vivendo tempos muito férteis de participação feminina e negra na política, mulheres que se organizam para reivindicar e exigir direitos. É chegada a hora que essas reivindicações ecoem nos espaços de poder através de vozes que se identifiquem com elas, não por empatia, mas sim por vivência compartilhada.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O Sexo “sem as Nega”

16/09/2014 Ao ler este artigo do jornalista Oscar Cardoso, que com muita propriedade escreve a respeito da nova série global "O Sexo e as Nega" e transcrevo em parte, por considerar importante esta manifestação que demonstra nossa ojeriza a este tipo de desserviço às mulheres negras militantes do Movimento Negro Unificado, que tanto lutam e buscam o reconhecimento por seu trabalho, sua instrução e dedicação para a construção de um mundo sem racismo. O Sexo “sem as Nega” Oscar Henrique Marques Cardoso É jornalista, radialista e escritor. Secretário executivo da ONG Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais Nem bem teve sua estréia, a minissérie global “O Sexo e as Nega” escrita por Miguel Falabella se propõe a retratar o cotidiano de mulheres negras, moradoras do subúrbio carioca, que lutam muito por suas vidas. Lutam e se divertem muito. Conforme declarou em entrevista, contraria e muito a polêmica criada pelo Movimento Negro que classifica a minissérie como racista. Ao longo de nossa história, as mulheres negras sempre tiveram sua imagem degradada. Vale lembrar na história da teledramaturgia o cúmulo que a Rede Globo chegou ao produzir a clássica novela "A Escrava Isaura" tendo Lucélia Santos no papel principal. Anos depois, já nos anos 2000, a Rede Record faz um remake desta novela, a qual fez sucesso em vários países como produto made in Brazil, apresentando Bianca Rinaldi como protagonista. O incrível nas duas versões foi ter conseguido prevalecer nas personagens o fenótipo caucasiano. Lucélia Santos não tem traços negros, tampouco mestiços. Bianca Rinaldi tem seu fenótipo europeu mais forte. A emissora disponibilizou para a personagem a adoção de perucas e mexas escuras, tentando fazer com que a escrava se parecesse um pouco morena. Talvez, mais próxima do que se poderia imaginar por uma escrava. Anos se passaram e Zezé Mota ganha notoriedade como Xica da Silva, papel que Taís Araújo, jovem estreante fez na novela, cujo texto foi adaptado do cinema e exibida pela Rede Manchete de Televisão. Xica da Silva era uma mulher políticamente incorreta. Xica também era exibida de uma forma eurocentrada, pois, ao usar perucas brancas e um visual completamente europeu, negava a sua negritude. Tanto à época em que viveu, como nos dias atuais, a ascensão financeira de um negro o obriga a mudar seu figurino e seu estilo de vida. Prosperar significa negar. Anos passaram e a Rede Globo, a qual projeta nas telas "O Sexo e as Nega" lança "A Cor do Pecado". Taís Araújo interpreta a primeira protagonista negra em uma novela global. Carrega a cor negra e a etnia negra na simbologia do pecado. Porque ser mulher e ser negra é sim ser da cor do pecado. Pecado carnal, pecado do sexo. Porque no imaginário machista e eurocentrado a imagem da mulher negra é a imagem do sexo. Uma negra jamais pode ser vista como um anjo, mas sim como um demônio. Voltando a falar de história, a negra e o negro deve ser batizado, deve ser catequizado, porque ser negro é ser pagão. Ser negro é trazer o pecado em suas entranhas. Pecado que queima e pecado que diverte. (...)Ou seja, o autor da minissérie fala de um universo carioca, suburbano. Um universo o qual sabemos, para quem gosta de estudar História do Brasil, mais precisamente a partir da Abolição da Escravatura, delimitou as áreas de morros e subúrbios à comunidade negra e mestiça. Porque, para Miguel Falabella, a periferia negra é uma periferia sem cultura. A tentativa de parodiar uma série, no caso Sex in the City tentou, de forma estereotipada, prestar uma homenagem às mulheres negras, tudo isto na ótica do autor. Uma ótica a qual sabemos que a maior rede de televisão aberta e privada do país gosta de fazer. Um olhar que delimita as pessoas além do limite geográfico. E a geografia do Rio de Janeiro faz isto e muito bem. Aos negros e mestiços sobram a periferia, sobram os morros, sobram as submoradias e os baixos salários. "Sexo e as Nega" não retrata a cara do Brasil. Não retrata a realidade regional dos negros. Não fala dos negros do Sul, do Sudeste, de São Paulo, de Minas Gerais, da Bahia, de Goiás, de canto algum. Delimita o poder de uma rede de comunicação a produzir entretenimento sobre um olhar único, de uma única região da cidade do Rio de Janeiro. "Sexo e as Nega" chega às telas sem o compromisso de fazer militância e de trazer ao debate a situação do negro. Da mulher negra que recebe até 70% a menos em relação a um trabalhador branco. Não se dispõe a apresentar a falta da presença da mulher negra no empresariado. Não se debruça a apresentar a luta da mulher negra em dupla ou tripla jornada familiar. Não se propõe a mostrar a vida real das mulheres negras. Se propõe a usar da brincadeira para colocar as mulheres negras no lugar social a qual devem ficar. Ficar na periferia, não se importar em se desenvolver. Mas sim se importar em ser objeto. Fica a nós, militantes do Movimento Social Negro juntar os cacos e as sobras das consequências futuras que esta minissérie vai trazer para as jovens meninas negras. Como jornalista, conheço a força e o poder que o veículo televisão tem. Já tive oportunidade de fazer televisão e presumo e avalio as consequências futuras que o Sexo e as Nega vão trazer para todos nós. Lutamos por anos a fio para trabalhar junto as mulheres negras a estima e a valorização. Em poucos meses, a televisão se aporta a destruir anos e anos de trabalho. E promove a construção dos estereótipos. Não nos ajuda, dificulta completamente a nossa vida militante. Como seria melhor O Sexo “sem as Nega”. Para ler o artigo na íntegra acessar a Publicação no site Afropress

sábado, 13 de setembro de 2014

O que o mundo está fazendo para acabar com a pobreza?

Publicado em 28/08/2014 07h08 A desigualdade continua a ser um insulto à condição humana: quase um bilhão de pessoas vivem com fome e em pobreza extrema Por Alessandra Nilo* e Vera Masagão Ribeiro** Como seguimento à Declaração do Milênio de 2000, as Nações Unidas, conduzidas pelo ganês Kofi Annan, estabeleceram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) visando orientar os esforços da comunidade internacional para o desenvolvimento até o ano de 2015. Longe de ser um acordo ideal ou vinculativo (que se torna lei nacional ao ser assinado), os ODM também foram considerados reducionistas diante do consagrado Ciclo de Conferências Sociais dos anos 90 e deixaram de fora questões centrais, silenciando, por exemplo, uma já evidente epidemia global de violência contra as mulheres. Apesar das críticas, porém, bastante dinheiro foi mobilizado sob o slogan “Oito Jeitos de Mudar o Mundo”, e esse esforço multilateral fez chegar investimentos em áreas essenciais. Mas, no geral, recursos e empenho das lideranças foram insuficientes para o alcance de todos os Objetivos acordados. Após uma década de trabalho, já em 2011, a ONU reconheceu que empoderar mulheres, desenvolver industrialmente e em escala num modelo ambientalmente sustentável e proteger as pessoas mais vulneráveis das múltiplas crises (como volatilidade nos preços de alimentos e energia, por exemplo) e guerras não é uma tarefa simples, nem pequena. Em tempos de Piketty, é fácil provar as iniquidades que persistem e se ampliam. Apesar da “nova geopolítica”, dos avanços tecnológicos e da diminuição de pobreza extrema em países como Brasil e China, a desigualdade continua um insulto à condição humana: quase um bilhão de pessoas vivem com fome e em pobreza extrema, a despeito dos dados abundantes que denunciam os danosos impactos deste modelo, marcado pela concentração de riqueza e no qual a pobreza continua a ser causa e consequência de relações desiguais de poder, seja do ponto de vista de gênero, econômico ou racial. Assim, apesar do prazo de validade até 2015, o debate sobre o futuro pós-2015 capturou a agenda desde a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável – a Rio +20, realizada no Brasil em 2012. E, combinado o propósito de reduzir a pobreza no mundo, a questão seguinte foi acordar o “como” isso seria feito. Para evitar que os novos objetivos ficassem nas mãos do secretariado da ONU (como ocorreu com os ODM), a Rio +20 logo estabeleceu dois processos intergovernamentais. O primeiro, o Grupo de Trabalho Aberto (GTA), para elaborar uma proposta de objetivos que, desta vez, fossem sustentáveis e equilibrados no tripé social, ambiental e econômico. O segundo grupo, a Comissão de Peritos sobre Financiamento do Desenvolvimento Sustentável (CPFDS), deveria recomendar como pagar a conta dos novos objetivos. Agora, ambos os relatórios estão concluídos e, juntos com o relato do Painel de Alto Nível responsável pelo monitoramento da implementação da agenda pós-2015, subsidiarão a 69ªAssembleia, que definirá a segunda fase da negociação. E as negociações, na primeira fase foram bem tensas… A proposta do GTA, após 16 meses de duros embates, foi concluída em julho, prevalecendo o acordo maior que era o de chegar a um acordo. O documento, aprovado sob aplausos nervosos após uma última negociação que durou quase 30 horas ininterruptas, foi imediatamente criticado pelos países por questões temáticas ou processuais mas, claramente, para além dos 17 Objetivos e das mais de 100 metas, o maior produto foi garantir a base dessa agenda multilateral para erradicar a pobreza. Todo consenso, porém, tem um preço e esse, pago à vista ou a prazo, não será pequeno depois de países, sociedade civil e agências da ONU divergirem tanto sobre tantos temas. Direitos sexuais e reprodutivos, igualdade de gênero, sociedades pacíficas/acesso à justiça, ocupação estrangeira, terrorismo e mudanças climáticas encabeçaram a lista das controvérsias, tendo como pano de fundo divergências sobre os meios de implementação e o debate sobre responsabilidades comuns, porém diferenciadas, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O movimento global de AIDS, por exemplo, reclama que todo o ODM 6 (sobre AIDS, tuberculose e malária) tenha sido reduzido a uma meta única do objetivo de saúde. Já para o Grupo de Mulheres da sociedade civil (Women’s Major Group), a proposta atual é pouco ambiciosa, não transformará os sistemas econômicos e financeiros, nem promoverá direitos humanos. “O GTA não apresentou meios claros de como implementar as metas (…). Os direitos das mulheres a decidir sobre paz e segurança e a controlar sua sexualidade; os direitos dos povos indígenas e os direitos sexuais estão gravemente ausentes dessa agenda (…)”. De fato, mesmo com o compromisso de Ban Ki-moon de que “ninguém será deixado para trás”, a aliança entre muçulmanos extremistas e Vaticano impede gays, travestis e transgêneros, trabalhadores/as sexuais e várias populações mais vulneráveis de entrar na agenda da ONU. O problema é que esse resultado apenas reflete tendências mundiais. Aqui no Brasil, por exemplo, na evidente disputa com os fundamentalistas, a ala progressista está apanhando de 10 x 0. Basta lembrar do Plano Nacional de Educação, que ignora a discriminação por orientação sexual e o racismo nas escolas; das ideias do Estatuto do Nascituro e da Família; da repressão às manifestações populares; e da atual corrida presidencial, onde candidatos/as vendem a alma, ao mesmo tempo, tanto ao diabo quanto às Igrejas. Próximos Capítulos A 69ª Assembleia Geral irá responder as questões em aberto. O relato do GTA será a base do documento-zero da nova rodada de negociações, abrindo outra vez cada uma das frases acordadas para debate? A proposta dos ODS será aprovada como está e o novo foco será “como” implementá-los, definir mecanismos de governança e os indicadores? De um jeito ou de outro, os problemas ainda são vários. O relatório dos peritos em financiamento, por exemplo, considerou o trabalho do GTA, mas não indica como financiar os objetivos, apenas aponta opções para que cada país escolha conforme prioridades e contextos. Já o Fórum Político de Alto Nível, cujo mandato tem instruções claras sobre a participação da sociedade civil, afirma em sua Declaração do Ministerial (de julho) que um processo transparente deve conter contribuições de todas as partes interessadas, mas não deu acesso à sociedade civil aos documentos durante os debates, chegando a excluir as ONGs da observação das negociações informais. Isso é grave, pois um futuro verdadeiramente sustentável exige mecanismos de monitoramento das ações governamentais e um ambiente propício à atuação da sociedade civil. Os ODS em construção não valorizam a contribuição fundamental e o papel das comunidades para a democracia global. Tanto na ONU como no Brasil a disputa por um Estado radicalmente democrático se acirra, basta ver a atual guerra contra a Política Nacional de Participação Social. Sim, há boas propostas que precisam permanecer na segunda fase das negociações – ter conseguido um Objetivo para Equidade de Gênero e Empoderamento das Mulheres, por exemplo. Mas há enormes lacunas nos pilares sociais e ambientais e falta apetite para quebrar o paradigma, comprovadamente desastroso, de “crescimento econômico a qualquer custo”. O ODM 8, que aborda questões chave para a justiça econômica, cujo fracasso todos reconhecem, pediu parcerias globais lideradas pelos governos, mas o que vimos foi o poder do setor privado predominar sobre o interesse público, algumas vezes até corroendo a infraestrutura de serviços públicos e contribuindo para a combinação de contínuas crises – alimentos, energia e mudanças climáticas e, claro, para as crises financeiras. E o risco de que o setor privado continue a definir prioridades públicas pós-2015 continua. A Agenda pós-2015 deveria tratar da democratização da economia, e reconhecer que nenhum objetivo de erradicação da pobreza extrema será suficiente se não incorporar mecanismos para redução da riqueza extrema. Mas isso exigiria, claro, muito maior vontade política do que a disponível hoje, seja na ONU ou no Brasil onde, apesar de termos instrumentos de regulação do sistema financeiro, como taxas sobre transações financeiras, falta muito para aprovarmos uma tributação progressiva e justa. A reforma tributária hoje é tão necessária quanto a política. A verdade é que o atual debate sobre desenvolvimento sustentável na ONU influenciará modelos urbanos, matrizes energéticas e várias políticas globais, materializando-se (ou não) em serviços de saúde, educação, segurança, mobilizando bilhões de dólares nos próximos 15 anos. Afetará pessoas que dificilmente saberão dessa discussão e cuja vida a maioria dos que leem agora esse texto talvez jamais suportasse ter. Depois de andar por grandes favelas em todo mundo e trabalhar em 16 países promovendo ligações entre as políticas globais e as locais, pensar desenvolvimento, equidade e direitos humanos é também pensar nas pessoas que ainda hoje veem ratos subindo no colchão sujo de suas crianças, sem ter nada a fazer. É muito fácil explicar a relação entre o colchão sujo, os ratos e a ONU. Quem acompanhar as negociações dos próximos doze meses, entenderá. *Alessandra Nilo é jornalista, coordenadora da ONG Gestos e diretora estadual da Abong em Pernambuco. Ela é membro da Força Tarefa de Alto Nível para Cairo+20 (www.icpdtaskforce.org) e representa a sociedade civil da América Latina e Caribe no Conselho Diretor da UNAIDS. **Vera Masagão Ribeiro é Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998), representante da Associação Brasileira de ONGs (ABONG) e integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI) Fonte: Carta Capital

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Movimento Negro discute reorganização política em Congresso da entidade na Bahia

Atividade reuniu mais de 150 lideranças de 15 estados O Movimento Negro Unificado discute reorganização política em Congresso da Entidade na Bahia Bloco Afro Ilê Aiyê fez apresentação de saudação aos congressistas na abertura do evento no Pelourinho Cerca de 150 membros do Movimento Negro Unificado (MNU) participaram entre sexta-feira e domingo (15 a 17 de agosto), em Salvador-BA, do XVII Congresso Nacional da Entidade. O objetivo da atividade foi promover o debate sobre a reorganização política de combate ao racismo do MNU. De acordo com as lideranças do movimento, o Congresso buscou retomar as estratégias de luta, de enfrentamento ao racismo e a construção de um projeto político a partir do povo negro. “As novas formas como o racismo se manifesta torna necessária uma reorganização de estratégias que o enfrente em todos os espaços e nas configurações em que ele se manifesta na área urbana e na área rural”, afirmou a coordenadora estadual do MNU em Minas Gerais, Angela Gomes, que é integrante do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial por notório saber. De acordo com a coordenadora, nos últimos anos o programa de ação do MNU de há 36 anos teve uma parte importante de suas propostas transformadas em políticas públicas, mas, “assumir o racismo e as conquências dele nos territórios de matriz africana revela o estado da guerra racial, simbólica e física, que se manifesta no Brasil há mais de 300 anos”. “Faremos um balanço desses 36 anos, resgatando o papel do MNU enquanto escola que construiu uma pedagogia para o ensino do que foi esse atlântico negro em termos de territórios negros e que, ao mesmo tempo, revelou que a estratégia racial e de exploração de classe são indissociáveis de um projeto eugênico e eurocêntrico”, afirmou Angela Gomes. Segundo ela, o MNU foi também responsável por evidenciar que a matriz africana não desapareceu, revelando territórios simbólicos como os quilombos, o samba etc, como cultura muito mais dialógica do que a cultura eurocêntrica teria tentado impor. “O congresso vem nesse momento, retomar a importância do enfrentamento do racismo nas ruas para garantir o direito de ir e vir; reconhece a necessidade de marchas pelo enfrentamento da violência contra a juventude, contra as mulheres negras, e pelo combate à violência policial contra negros e negras”, concluiu. Coordenação de Comunicação da SEPPIR

Segure e lance

Segure e lance