02/12/2011/COTIDIANO | GILBERTO BLUME
Colunista do Jornal Pioneiro de Caxias do Sul
PRAZER, QUEREN
Tive o prazer e o desprazer de conviver durante algumas poucas horas com Queren Pereira de Souza Oliveira. Tentarei explicar os sentimentos antagônicos experimentados em tão pouco tempo e em espaço tão exíguo.
Foi ontem. Na Delegacia de Polícia.
Primeiro o prazer. Queren é miúda, bonita, simples, sincera. É uma brasileira determinada a fazer valer os direitos reservados a todos os brasileiros. Queren é paulista e me confidenciou que conheceu o marido, Jamur, pela internet. Jamur é de Vacaria, mas mora em Caxias há tempos. O namoro pelo orkut durou alguns meses, vieram as viagens e, por fim, o casamento, em abril de 2010. O casamento foi em São Paulo. A vida está sendo construída em Caxias.
– Meus pais só me deixariam sair da casa deles depois de casada – contou.
Assim como os pais, Queren e Jamur frequentam a Congregação Cristã do Brasil, igreja centenária criada nos EUA pelo ítalo-americano Louis Francescon. Até 1930, a filial brasileira da Congregação era frequentada majoritariamente por italianos e descendentes de italianos, sabidamente rígidos no trato de questões religiosas.
Queren fala baixo, é discreta, mareja os olhos com justificada facilidade, alisa a barriga que abriga Pedro Henrique. O nervosismo se manifesta no torcer de dedos, afinal, ninguém é de ferro.
Agora o desprazer.
Queren é uma sofredora. Mesmo momentaneamente, ela está sofrendo, e eu fiquei frente a frente com ela, e isso é doloroso, asseguro, juro que asseguro. O exercício jamais vai chegar perto do que ela está passando, mas vale a pena imaginarmos o turbilhão de sensações que advém depois de ouvirmos a tentativa de piada a que Queren foi submetida.
O desprazer vem daí, dessa desilusão com alguns seres que vivem na pré-história da civilização e que, por certo, ainda têm defensores e seguidores. Infelizmente, arrisco dizer que ainda vai demorar até que estejamos livres dessa praga chamada preconceito, racismo, xenofobia ou o que quer que seja que qualifica as pessoas a partir de suas diferenças.
Embora o desprazer tenha sido enorme, valeu muito ter te conhecido, Queren. O desprazer, enfim, é proporcional ao acontecimento: tu és uma brasileira grandona em cidadania.
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