terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma homenagem a Oliveira da Silveira

Biblioteca da Fundação Cultural Palmares presta um tributo ao revolucionário poeta negro e lança a coleção Faces do Brasil – História e Cultura, escrita por negros e indígenas
CAROLINY RODRIGUES
Autores de vários estados prestigiaram a cerimônia de lançamento da coleção Faces do Brasil na Fundação Cultural PalmaresOs brasilienses ganharam mais uma espaço destinado à leitura e à cultura afrodescendente. A Fundação Cultural Palmares (FCP), instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira, inaugurou no mês de dezembro a biblioteca Oliveira Silveira, em homenagem ao professor, poeta e militante do movimento negro.
Naiara Rodrigues Silveira, única filha do poeta, não pôde comparecer ao evento, porém enviou uma carta de agradecimento na qual diz: “Dar o nome desse poeta da consciência negra a um lugar como esse é perpetuar seu trabalho na lembrança da nossa negritude”, escreveu.
Instalada na sede da Fundação Cultural Palmares, no Setor Comercial Sul, no coração de Brasília, a biblioteca tem um acervo de mais de 17 mil itens sobre a memória documental da ancestralidade africana. Entre eles, livros, folhetos, periódicos, artes plásticas e peças produzidas em quilombos. Além disso, o local disponibiliza para os visitantes uma sala de vídeo com capacidade para 16 pessoas e terminais de acesso à internet. “Em nossa história sempre fomos excluídos e termos um espaço voltado para as obras escritas por nós é de extrema importância. Estamos em festa”, comentou a professora e militante Jacy Proença.
Os interessados nas obras sob a guarda da Fundação Cultural Palmares podem conferir a listagem do acervo bibliográfico no site http://biblioteca.palmares.gov.br . Aos que preferem conhecer a biblioteca, o atendimento ao público, para consultas locais, é feito de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
Livros sob a ótica afrodescendente
Na mesma cerimônia foi lançada, em comemoração ao ano dos afrodescendentes no país, a coleção Faces do Brasil – História e Cultura. Os 42 livros, publicados pela Editora Ética, foram escritos por negros e indígenas de 13 estados brasileiros e do Distrito Federal e organizados pela professora Jacy Proença, ativista do movimento negro.
“As obras são destinadas aos alunos dos ensinos fundamental e médio. É uma coleção consagrada da editora e já está disponível em mais de dez estados, além de estar aprovada em outros lugares também”, contou a professora Jacy. Ela considerou o evento como a realização de um sonho. “Era apenas uma aspiração e lutamos por ela até concretizarmos. A festa de lançamento foi prova disso”.
Ao som de canções de Nelson Cavaquinho e Dona Ivone Lara, interpretadas pela cantora Cris Pereira, o público de aproximadamente 150 pessoas – entre as quais representantes do movimento negro, das religiões de matriz africana, do governo, quilombolas e embaixadores dos países africanos Guiné Bissau, Etiópia, Benin e Burquina Faso, dentre outros – pôde ouvir o depoimento de alguns autores e relembrar a importância do poeta Oliveira Silveira, um gaúcho revolucionário que lutou pela igualdade racial, além de ter sido o idealizador do dia 20 de novembro (dia da consciência negra).
“Foi uma honra escrever uma obra para essa coleção, pois sabemos da importância de destacar a nossa cultura e lutar por ela”, afirmou Ceiça Ferreira, autora do livro Laroiê! Representações do candomblé e da umbanda no cinema brasileiro. Ela finalizou o discurso citando um provérbio africano que diz: “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caça continuarão glorificando o caçador”. A professora Jacy complementou. “Foi muito gratificante reunir tantas pessoas em um lugar como a Fundação Palmares e lançar uma coleção com a ótica dos povos negro e indígena. Reconhecemos a relevância de termos uma editora que apoia nossa causa”, emocionou-se.
A Editora Ética do Brasil é reconhecida por promover a diversidade cultural, além de ser pioneira na construção de coleções didáticas sobre a valorização humana do afrodescendente. “Não estamos apenas ampliando o número de títulos da editora. Acredito que estamos, sim, fazendo parte de um momento revolucionário da história do país. Uma revolução social, que passa pela educação, e a nossa empresa, junto com os autores e colaboradores, estão plenamente inseridas nele”, ressaltou Ângelo Carvalho, diretor-comercial da editora.
Carlos Moura, coordenador geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC) e primeiro presidente da FCP, finalizou a cerimônia recitando trechos do poema Encontrei minhas origens, do poeta Oliveira Silveira

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