domingo, 6 de dezembro de 2009

Símbolo do abolicionismo

A discussão sobre qual a data realmente mais representativa para a comunidade negra no Brasil é mais do que política ou histórica. É, essencialmente, simbólica. É por isso que, ao lançar olhares de revisão ao papel do 13 de maio, muitos historiadores resgatam elementos que são símbolos com força no imaginário da população - algo que pode explicar até mesmo a necessidade que o movimento negro teve, originalmente, de repudiar as celebrações oficias da Abolição.
Foi o que o historiador e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa Eduardo Silva fez no livro As Camélias do Leblon e a Abolição da Escravatura (Companhia das Letras), uma obra que traça uma vibrante e delicada arqueologia entre as camélias brancas que enfeitavam o gabinete de trabalho da princesa Isabel, na Corte, e um quilombo localizado no que hoje é um dos bairros mais restritos da zona sul carioca, o Leblon.
Silva resgata o cotidiano de um quilombo abolicionista localizado em pleno Rio de Janeiro, que produzia em larga escala as camélias que se tornaram a flor-símbolo do movimento pela libertação dos negros - uma identificação que, segundo Silva, foi relegada a segundo plano nas interpretações posteriores que se fizeram da luta por libertação, em detrimento da própria participação do negro no processo.
- A camélia como símbolo do abolicionismo sempre foi tomada como um detalhe folclórico menor. Quando se faz isso, quando se retira esse simbolismo popular, com o qual os negros libertos, refugiados ou militantes sempre tiveram muita identificação, o que sobra é realmente a princesa Isabel, e aí é lógico que o movimento negro só poderia refutar essa interpretação que jogava sobre uma princesa de ascendência européia toda a importância por um ato que foi o ápice de uma luta libertária - comenta o historiador.
Silva esbarrou na questão das camélias ao passear pelo jardim da Casa de Rui Barbosa, onde se situa a fundação. Notou que a residência tinha camélias plantadas em pontos estratégicos, perfeitos para serem vistos por quem passava na rua. A partir daí, o pesquisador retraçou a história da camélia como esse símbolo que a história republicana apagara. É um ponto de vista que encontra eco na opinião do advogado Antônio Carlos Côrtes, um dos fundadores do grupo Palmares, no Rio Grande do Sul, nos anos 1970.
- O Quilombo do Leblon era conhecido da polícia, da Justiça, mas a perseguição a ele não foi deflagrada porque já se podia ver que o ambiente não era mais o de repressão, a escravidão estava nos estertores - comenta.
Côrtes e seus colegas fundadores do Grupo Palmares (os então jovens universitários Oliveira Silveira, Ilmo da Silva e Vilmar Nunes) foram pioneiros em pleitear a luta de Palmares e a figura de seu último líder, Zumbi, como um emblema a ser brandido contra o relato oficial de uma princesa Isabel benemerente cedendo a lutas da classe parlamentar ilustrada - e branca - da época. O herói se encaixou à perfeição nessa categoria do "símbolo" que a luta pela afirmação negra no Brasil precisava por mais de um motivo: era um guerreiro que havia liderado um movimento de resistência de grandes proporções. As informações que circulam sobre sua história são difusas, ele teve uma morte violenta e seu corpo foi de tal forma vilipendiado para servir de exemplo que sua figura se aproxima da de um mártir da luta negra.
- Por gerações, a história foi ensinada na escola por meio de grandes figuras históricas. Aprendi assim, muitos outros também, e a figura que se evocava quando se chegava nesse capítulo em particular era sempre a "princesa redentora". Por isso, considero fundamental que Zumbi seja hoje uma figura exaltada pela luta que liderou no Quilombo - pondera a jornalista Sílvia Abreu, uma das autoras que colaboraram com ensaios para a obra Negro em Preto-e-Branco: História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre, organizado pela fotógrafa Irene Santos.

Um comentário:

  1. A luta em favor da igualdade racial no Brasil é intimamente ligada à construção de uma sociedade melhor para todos, negros e não-negros. A emancipação do povo negro, diminuindo a distância entre os indices sociais entre o nosso povo trará benefícios a todos.
    Tito Valle
    advogado em Londrina

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