quinta-feira, 9 de junho de 2011

Exemplo a ser seguido pelos homens que também reconhecem a mulher como como um ser igual e imprescindível

O significado do Dia Internacional da Mulher

Prof. Dr. Rodrigo Santos de Oliveira
Coordenador do Núcleo de Apoio e Valorização do Estudade - NAVE
Faculdade América Latina - Caxias do Sul/RS

Se a função da fêmea não basta para definir a mulher, se nos recusamos também explicá-la pelo "eterno feminino" e se, no entanto, admitimos, ainda que provisoriamente, que há mulheres na terra, teremos que formular a pergunta: que é uma mulher?
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo

A frase acima nos remonta a uma série de questionamentos, muitos respondidos e outros que ainda aguardam para serem solucionados. Mas o fato fundamental é que a mulher é um dos dois gêneros que compõe o ser humano. Apesar de diferenças fisiológicas ambos são iguais na perpetuação de nossa espécie.
No mito fundador de nossa sociedade judaico-cristã tanto a mulher como o homem foram criados ao mesmo tempo. Quando o deus único dos hebreus tentou impor à primeira mulher que deveria ser subserviente ao homem ela questionou: “eu fui criada do mesmo pó e no mesmo instante, por que eu devo ser inferior?”. Esta história mítica se tornou tão perigosa para os detentores do poder patriarcal que quando houve a transposição deste mito das escritas cabalísticas para a Bíblia, a primeira mulher, Lilith, foi retirada. Ao invés disto, aparecia apenas a segunda mulher, Eva, esta sim criada de uma costela de Adão.
A ordem “natural” do mundo patriarcal estava salva com apenas um “recorta”, mas sem o “cola”. A mulher mesmo colocada no seu “lugar” subserviente era temida e injustiçada como sendo responsável pelo pecado original. Por centenas de anos esta mentira foi sendo repetida, de geração em geração até que começou a ser contestada a partir de um acontecimento.
Todo o dia 8 de março celebramos o Dia Internacional da Mulher, é uma data que costuma ser comemorada em praticamente todo o mundo ocidental. Como tudo se torna objeto de consumo, o 8 de Março também se mercantilizou. Cosméticos, roupas, acessórios, e tudo o que faz uma mulher ser bela, são vendidos como refrigerantes em um dia de calor. A mulher, que deveria ser o centro de reflexões, se transformou no mercado. A mulher no seu próprio dia não passa de um objeto. Mas o que esquecemos ao longo do caminho?
A resposta é simples: a própria identidade da mulher.
O 8 de março não é um dia de estética, é um dia de luta pela igualdade entre os gêneros. É um dia contra o patriarcalismo que está arraigado em nossa sociedade há milênios. Se retornarmos um pouco no tempo, veremos que a mulher só conseguiu o direito de cidadania no Brasil em 1946. Até então a mulher não tinha direito ao voto. Não apenas isto, como o seu caráter jurídico era o mesmo de uma criança. O que quer dizer que até 1946 era considerada uma criança perante a sociedade, passando do poder do pai para o marido.
À mulher cabia apenas obedecer, baixar a cabeça, “aceitar” o destino cruel que lhe era imposto e nada mais. Mas a tirania não podia durar para sempre. E as próprias mulheres que foram rompendo os grilhões que às prendiam ao poder patriarcal. Não foi uma luta fácil e as resistências foram das mais violentas. Na primeira greve feminina cento e vinte e nove mulheres operárias foram queimadas dentro de uma fábrica. O crime foi pedir igualdade aos homens e melhores condições de vida e trabalho. Milhares outras morreram desde então e ainda morrem apedrejadas por pseudo-crimes, como falsas alegações de adultério (quando foi mesmo que um homem foi apedrejado por adultério?).
As condições mudaram nos últimos anos e muitas coisas melhoraram. Uma verdadeira revolução aconteceu, mas esta ainda não está consolidada e muito menos longe de ser acabada. A mulher nos dias de hoje enfrenta preconceitos, têm salários inferiores aos homens, sofre violências das mais variadas, possui longas jornadas de trabalho. Além disso, a sociedade ainda impõe à mulher que ela deve ser eternamente jovem, desta forma, elimina a possibilidade da existência de uma verdadeira sabedoria feminina, advinda da idade e da experiência. A igualdade, tão aclamada ainda não foi conquistada. Este é o desafio da nossa geração, garantir a igualdade respeitando as diferenças, evitando que a fêmea referenciada inicialmente por Simone de Beauvoir tenha que se masculinizar para enfrentar a selva de pedra. Devemos garantir que ela seja uma mulher e que suas qualidades e mesmo as suas fragilidades sejam peças fundamentais para a construção de um novo mundo, melhor e sustentável.
O 8 de Março não é uma data qualquer, é um dia de luta, de reflexão, de respeito e de harmonia. O 8 de Março serve para nos mostrar que os outros trezentos e sessenta e quatro devem ser de igualdade e não de domínio, tirania e opressão.

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