segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os 100 anos de Lupicínio Rodrigues

Diário de Santa Maria Clipado em 05/05/2014 07:11:43 Se acaso você chegasse No final dos anos 60, era possível encontrá-lo, como qualquer simples mortal, tomando um cafezinho no balcão de um bar de uma galeria que havia perto da Santa Casa, no centro de Porto Alegre. Caso não se prestasse atenção, aquele negro elegante, com seu bigodinho típico, seria facilmente confundido com um dos tantos trabalhadores e desocupados que se apinhavam naquele lugar. Pouco antes do meio-dia, cafezinhos e copos de cachaça concorriam como preferenciais no econômico cardápio oferecido. Pois não é que aquele tão elegante quanto simples senhor estaria – se vivo fosse – completando 100 anos! Na primeira vez que o vi pela rua, logo lembrei: “Se acaso você chegasse/No meu chatô encontrasse aquela mulher/Que você gostou/Será que tinha coragem/De trocar nossa amizade/Por ela que já te abandonou/Eu falo porque essa dona/Já mora no meu barraco/À beira de um regato/E um bosque em flor/De dia me lava a roupa/De noite me beija a boca/E assim nós vamos vivendo de amor”. A gravação dessa música fez o primeiro sucesso de Elza Soares. Negra, tal qual Lupicínio Rodrigues, ela está fazendo um show no centro do país para homenagear o nosso grande compositor. Existem várias histórias de Lupi, como era chamado. Uma delas, contada pela própria Elza, que ainda não o conhecia e estava cantando numa casa noturna do Rio de Janeiro. Viu aquele elegante senhor que não tirava os olhos de cima dela. Ao final da apresentação o tal senhor se apresentou com um buquê de flores nas mãos e foi logo dizendo: “Várias rosas para Rosa”. Elza foi curta e grossa: “Não gosto de rosas e não me chamo Rosa”. Ele retrucou: “Eu sei que seu nome é Elza Soares. Eu sou Lupicínio Rodrigues, compositor da música que você cantou”. Ela, constrangida, na falta de argumentos que pudessem desculpar sua grosseria, foi dizendo: “Desculpe. Admiro muito o senhor. É que já tenho duas filhas e minha mãe tem medo que eu fique grávida de novo, por isso não costumo olhar para homem algum enquanto canto”. Ele sorriu como só os poetas sabem fazer e respondeu: “Não se preocupe. Rosas não engravidam ninguém”. Felicidade (composta aqui em Santa Maria quando Lupicínio servia como cabo do Exército), Nervos de Aço, Esses Moços, Nunca, Volta e tantas outras músicas fazem parte do repertório deste gaúcho que compôs as melhores “dores de cotovelo” de nossa canção. Quem sabe o centenário do seu nascimento nos faça outra vez jovens que terminavam sempre suas serenatas cantando “De dia me lava a roupa/De noite me beija a boca/E assim nós vamos vivendo de amor”? professor hugofontanap@yahoo.com.br

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