quinta-feira, 12 de maio de 2016

MENSAGEM PARA O 13 DE MAIO

Hoje é dia de luta! É dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. Passados 128 anos da assinatura da Lei de Abolição da Escravatura seguimos lutando por justiça. Somos fortes e resistentes. Lutamos não apenas pelo respeito às nossas origens, à nossa história, ao que somos; lutamos também pelo direito de lutar. Em um país em que muitos escolhem viver a ilusão da inexistência do racismo, falar em discriminação racial pode denotar baixa autoestima ou complexo de inferioridade. O negro que defende a promoção da igualdade racial através de políticas de reparação é facilmente acusado de querer vida fácil. Apesar dos avanços, lutar pelos direitos da comunidade negra e denunciar o racismo no Brasil continua sendo uma demonstração da força e da resistência que sempre caracterizou a comunidade negra. O racismo dos dias de hoje é fruto da nossa vergonhosa história escravocrata. A Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888, largou à própria sorte a população escrava do país ao conceder-lhes liberdade, sem que as condições mínimas necessárias à cidadania lhes fossem dadas. Sem garantir os direitos básicos, a abolição trouxe poucas mudanças à vida dos negros da época. Os efeitos desse processo de libertação desastroso se estendem até dias de hoje, com uma desigualdade racial que além de bastante perceptível no dia-a-dia social, se expressa de forma incontestável em análises de índices de desenvolvimento humano. Essa obvia relação passado-presente permanece pouco compreendida por grande parte da população brasileira. Quando um povo esquece sua história, deixa de aprender com ela. Com isso os processos de exclusão se repetem e se atualizam. Mais de um século se passou desde o projeto de abolição que culminou com a Lei Áurea. Todo esse tempo não foi suficiente para interromper o contínuo processo de exclusão social de origem racista; herança de um país escravocrata. Naturalmente a comunidade negra estrangeira não está imune a esta realidade. São pessoas que chegam ao Brasil cheias de expectativas. Muitos com ensino superior e boa experiência profissional. Pouco a pouco vão conhecendo o preconceito velado tão característico de nosso país. Para este grupo de imigrantes as oportunidades oferecidas se limitam ao trabalho duro, em ambientes às vezes insalubres e com baixos salários. As dificuldades para validação de experiências educativas anteriores os distancia da universidade e como se não fosse muito, a ausência de uma política migratória urgente os deixa vulneráveis a discriminação racial, com tratamentos diferenciados em repartições públicas, pagamento desigual de salários, experiências desrespeitosas com insultos racistas no espaço de trabalho etc. Os problemas raciais vividos pela a comunidade negra estrangeira são a expressão nefasta de um racismo historicamente direcionado a toda comunidade negra brasileira. Não podemos nos calar diante disso. Hoje, nesse 13 de maio, honremos nossas conquistas, construídas pela força e a resistência dos negros do presente e do passado. Levantemos nossas vozes contra o racismo que afeta o cotidiano dos negros deste país (sejam brasileiros ou estrangeiros). Não nos deixemos abater ante a indiferença ou o posicionamento irracional dos que acreditam que existem lugares e papeis na sociedade definidos de acordo com a raça. Se denunciar o racismo implica força e resistência, é só parar por alguns poucos minutos e recordar o caminho que fizemos para chegar onde chegamos. Nada nos foi dado, tudo conquistamos através da força que nos é própria e que alimenta a nossa resistência. Mamede Silva. Negro, brasileiro, psicólogo, mestre em desenvolvimento humano pela Universidad Verracruzana e doutorando em estudos socioculturais pela Universidad Autónoma e Baja California, México. Atualmente pesquisa a migração haitiana ao Brasil depois do terremoto de 2010 no Haiti.

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