quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ebola e os Cachorros

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o vírus Ebola já matou um total de 3400 pessoas em países africanos e está agora a surgir na Europa e nos Estados Unidos da América. Ebola, igualmente conhecido como a febre hemorrágica de Ebola ou a doença viral de Ebola, é uma doença rara e mortal causada por uma das tensões do vírus de Ebola. Este agente viral é considerado como um micróbio patogénico do protótipo da febre hemorrágica viral, com taxas de fatalidade altas nos seres humanos e nos primatas. O reservatório natural de vírus de Ebola permanece desconhecido, embora os bastões pareçam ser o reservatório mais provável. As Infecções com vírus do ebola são caracterizadas pela supressão imune e uma resposta inflamatório severa. Recentemente, um cão que pertencia a uma enfermeira infetada com o vírus, na Espanha, foi sacrificado. A eutanásia do cão da auxiliar de enfermagem Teresa Romero levanta questões sobre o papel dos animais de estimação na transmissão da doença, enquanto a propagação do vírus por animais selvagens já é mais bem conhecida. Na África, a infecção foi constatada após a manipulação de chimpanzés, gorilas, ou outros símios, doentes ou mortos, assim como a partir de antílopes e porcos-espinhos. Além disso, a infecção pode se originar de morcegos, vistos como um “reservatório natural” provável do vírus ebola. A transmissão do animal para um morador que viva perto da floresta constitui o ponto de partida de uma epidemia. Ela se propaga, então, na população, diante da falta de medidas preventivas, por meio de fluidos corporais, como sangue, material fecal e vômito, dos doentes, ou de seus cadáveres. No estado atual do conhecimento, não há nenhuma prova científica de que os animais domésticos tenham um papel ativo na transmissão da doença aos humanos. Um estudo publicado em 2005 demonstrou a exposição de cães ao vírus durante uma epidemia no Gabão (2001-2002). Depois de analisar várias amostras de sangue de cachorros, os cientistas observaram que havia uma pequena porcentagem de cães que apresentaram reações imunológicas, mas não apresentaram sintomas da doença e não morreram. Demonstrou-se que o ebola estava em seu sistema imunológico, mas em nenhum momento o estudo constatou que os humanos foram à origem da transmissão. Apesar de o estudo demonstrar a presença de anticorpos para o ebola em cães, ainda não sabem se isso é relevante. Há pouco tempo também a American Veterinary Medical Association (AVMA) garantiu que apesar de vários cães testados na África terem tido resultados positivos para a presença do vírus, nenhum demonstrou sinais de infeção. Não existem estudos demonstrando cães que tenham transmitido ebola para pessoas. Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) americanos, afirmam que nenhum caso de animal de estimação (cão, ou gato) doente foi registrado. A eutanásia do cão de Madri ocorreu, portanto, no quadro do “princípio da prevenção”, segundo a OIE. Do ponto de vista de biossegurança, sacrificar o cachorro foi a melhor decisão, dura e triste, mas não havia outra opção. O caso do cão Excalibur era uma oportunidade de estudo “única”, declarou à AFP Eric Leroy, diretor-geral do Centro Internacional de Pesquisas Médicas de Franceville, no Gabão. “Um acompanhamento virológico, biológico e médico poderia ter sido feito para trazer um grande número de informações importantes”, alegou o pesquisador, que há anos reivindica estudos complementares sobre os cães. Fonte: Tudo Sobe Cachorros

terça-feira, 21 de outubro de 2014

EBOLA - Informação é a melhor arma

Precisamos falar e nos informar sobre o Ebola. Doença que tem gerado pânico e que por serem africanos os países em que a doença está, no Brasil já surgem, além de suspeitas, como no artigo que postei anteriormente nesse blog, gerado devido à cor da pele dos africanos imigrantes, servido de motivo para os racistas se aproveitarem disso para não atender qualquer paciente negro senegalês nas Unidades Básicas de Saúde, como ocorreu em Porto Alegre-RS. Boa leitura. Maria Geneci Silveira 21/10/2014 Diário Gaúcho Dia a Dia | Pág. 6 Clipado em 21/10/2014 07:10:34 Relatórios sobre a mortalidade por ebola nos últimos meses - mais de 4,5 mil pessoas perderam a vida na Libéria, Guiné e Serra Leoa pela febre hemorrágica - colocaram o mundo em alerta. Ainda que ontem a Nigéria foi decretada oficialmente livre da doença. No Brasil, nenhum caso foi registrado (houve apenas duas suspeitas, que foram descartadas), mas a grave enfermidade tem motivado treinamentos das autoridades de saúde a fim de garantir o preparo necessário para ações e, ao mesmo tempo, gerado questionamentos à população. A melhor arma contra o ebola, neste momento, é a informação. Por isso, o Diário Gaúcho foi às ruas ouvir as dúvidas da população. Quem traz os esclarecimentos é o coordenador-geral da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Anderson Araújo de Lima. Rodrigo de Oliveira Pedroso, 34 anos, carpinteiro O Brasil (e Porto Alegre) está preparado para atender os pacientes em caso de contaminação? Anderson Lima — A mobilização em Porto Alegre acompanha a do país. O Ministério da Saúde vem realizando videoconferências para preparar os profissionais para o atendimento a pacientes provenientes de países nos quais há epidemia (como Guiné, Libéria e Serra Leoa) nos últimos dias — quem veio de alguns desses locais há mais tempo que isso não oferece risco. Atualmente, estão recebendo treinamento os profissionais que atendem na entrada das emergências e equipes de vigilância em saúde. Também está sendo distribuído material informativo para os profissionais de saúde. O hospital de referência para possíveis casos no Estado é o Conceição. Elaine D'Ávila, 56 anos, chefe de cozinha Se o vírus vier para cá, como podemos identificar os sintomas da doença? Anderson — Os sintomas incluem início súbito de febre (mais de 38°C) e fraqueza intensa. Dores musculares, dor de cabeça e dor de garganta também são sinais e sintomas típicos. Isto é seguido por vômitos, diarreia, disfunção hepática, pintas vermelhas na pele, insuficiência renal e, em alguns casos, hemorragia tanto interna como externa. Quem não veio dos países onde há epidemia nos últimos 21 dias não é considerado como suspeita da doença. Marli Rodrigues, 57 anos, cuidadora de idosos Como podemos evitar a contaminação? Anderson — Nos países onde existe transmissão (não é o caso do Brasil, a melhor maneira de se prevenir é evitar contato com sangue ou secreções de animais ou pessoas doentes, ou com o corpo de pessoas falecidas em decorrência da doença. O vírus não é transmitido pelo ar. Priscila dos Santos Nascimento, 25 anos, dona de casa De que maneira ocorre o contágio? E qual é o tratamento? Anderson - Os pacientes tomam-se contagiosos apenas quando começam a apresentar os sintomas (pode ocorrer de dois a 21 dias). Não são contagiosos durante o período de incubação. A infecção ocorre por contato direto com o sangue ou outros fluidos (fezes, urina, saliva, suor, sêmen) de pessoas infectadas. Também pode ocorrer se a pele ou membranas mucosas de uma pessoa saudável entrarem em contato com objetos contaminados com fluidos infecciosos de um paciente com Ebola, como roupa suja, roupa de cama ou agulhas usadas. Cerimônias fúnebres nas quais bajapontato direto com o corpo do falecido (como é comum em comunidades rurais de alguns países africanos), também podem transmitir o Ebola. Não há vacina. São tratados os sintomas e acompanhada a evolução. Edvar Pereira Remião, 77 anos, aposentado - Existe algum exame que podemos fazer, para descobrir se estamos com o vírus? E possível pegar o vírus no ônibus ou em lugares fechados? Anderson - São realizados exames de laboratório que indicam a possibilidade de o paciente estar infectado. Incluem baixa de glóbulos brancos e de plaquetas e aumento das enzimas hepáticas. O teste definitivo para diagnosticar o Ebola é chamado PCR. No Brasil, o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), é o único habilitado para receber as amostras de sangue dos pacientes e inativar o vírus. O vírus Ebola não é transmitido pelo ar (como a gripe, por exemplo). Qualquer superfície que for tocada por algum paciente com sintomas (que veio nos últimos 21 dias dos países onde há epidemia) poderá ficar contaminada. Olmir Barcellos, 21 anos, negociador Compartilhar os talheres com pessoa contaminada, ou tocar no mesmo objeto, coloca a pessoa em risco? Ajuda usar álcool gel? Depois de quanto tempo de contaminação o doente começa a transmitir a doença? Anderson - Não deve haver o compartilhamento de talheres com quem veio nos últimos 21 dias da região onde há a epidemia e apresenta sintomas da doença porque há risco de co_ntarninação. Da mesma forma, não. deve_ter contato-com superfície tocada pelo paciente com sintomas. Todas as medidas de higiene são importantes (entre elas o uso de álcool gel), bem como a manutenção de boas condições de saúde. O período em que a pessoa infectada pode transmitir só inicia após o surgimento dos sintomas (de dois a 21 dias). Durante o período de incubação, a pessoa não transmite o Ebola. SAIBA MAIS O que é? E uma febre hemorrágica transmitida por um vírus altamente infeccioso, com taxas de mortalidade que variam entre 25% e 90%, dependendo da sua origem. Onde surgiu? Em 1976, o vírus foi detectado pela primeira vez em surtos simultâneos no Sudão e na República Democrática do Congo, em uma região situada próximo ao Rio Ebola, que dá nome à doença. Logo que surgiu, o vírus foi diagnosticado em 318 pessoas no Zaire — atualmente República Democrática do Congo — e em 284 pessoas no Sudão. Na época, destes 602 casos, 436 morreram. Como pode ser contraído? Os hospedeiros naturais do Ebola são os_morcegos_que se alimentam de frutas,- Mas-o-vírus-pode- - ser contraído de humanos e animais — chimpanzés, gorilas e antílopes. A doença é transmitida por meio do contato com sangue, secreções, fezes e urna. Ou seja, eia não é transmitida pelo ar, como a gripe. A transmissão só ocorre quando já se apresentam os sintomas da doença. Nos primeiros 21 dias de contaminação, ele não é transmissível.

Outubro (nem tão) Rosa

Nós mulheres negras não somente no mês de outubro, mas durante todo ano devemos tomar cuidado, fazer o auto-exame todos os meses e principalmente procurar o médico, fazer mamografia, para a detecção precoce do Câncer de Mama. No Brasil, os casos dessa patologia vêm diminuindo, porém, lamentavelmente na nossa etnia são ainda muitos os casos de morte por esse mal. O motivo principal é que a s mulheres negras em sua maioria tem dificuldade de acesso aos meios de saúde oferecidos pelo Estado, devido à situação de pobreza, desinformação, analfabetismo e outros. Por isso estamos ainda morrendo mais que as mulheres não negras. de Câncer de Mama. Vamos nesse mês iniciar essa conscientização, para quem ainda não fez seu exame. É dever das mulheres do MNU estarem levando às periferias, local onde se encontra a população negra, esse conhecimento. Espero que gostem desse artigo do Dr. Stefen, que achei muito adequado. Bom outubro para todas nós. Maria Geneci Silveira 18/10/2014 Diário Popular Opinião | Pág. 5 Clipado em 20/10/2014 12:10:52 Outubro (nem tão) Rosa Stephen Stefani, médico oncologista do Instituto cio Câncer Mãe de Deus O movimento internacional Outubro Rosa é uma iniciativa para sensibilizar as pessoas sobre o câncer de mama, doença que atinge mais de 50 mil mulheres no Brasil por ano! Desde 1990, quando um laço rosa foi distribuído pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, durante a primeira Corrida pela Cura, em New York, entidades começaram a fomentar ações voltadas à conscientização do diagnóstico precoce, denominando o Outubro Rosa. Iluminar de rosa monumentos, prédios e pontos conhecidos, com uma leitura visual replicável em qualquer lugar, é uma forma de ampliar a abrangência da mensagem. O sucessos médicos atuais agregam coragem às mulheres afetadas pela doença. Temos, entretanto, uma realidade local menos atraente. Ao mesmo tempo que comemoramos avanços científicos com entusiasmo, lamentamos a trava do sistema. Menos de 20% das mulheres têm acesso a uma mamografia de qualidade adequada e, ainda menos, ao médico especializado no manejo de lesões suspeitas. O prazo, previsto em lei, de 60 dias para atendimento de pacientes com câncer não é cumprido em grande parte do país, porque recursos que viabilizariam assistência ágil não foram contemplados. Preços das novas tecnologias são elevados e não há sinal de que venham a ficar menos caros e a porcentagem do PIB alocado para saúde pública é metade do que se espera. Vários medicamentos efetivos seguem privilégio da pequena parcela da população que chega a hospitais de ponta. Algumas incorporações de remédios no SUS levaram sete anos depois de já disponíveis em outros países e no sistema privado para serem assimiladas. A triste matemática nos faz estimar em milhares os anos de vida subtraídos. Ainda mais assustador é que pouco se faz para modificar este cenário. Reunir os atores desta peça e estabelecer metas e planos transparentes é fundamental. De qualquer forma, a popularidade do Outubro Rosa alcançou o mundo de forma elegante, unindo em torno de causa nobre. Isso faz que a iluminação em rosa assuma papel importante, lembrando a todos o desafio que o país e, especialmente, milhares de mulheres e famílias enfrentam

domingo, 19 de outubro de 2014

DIA DO MÉDICO

Homenagem aos primeiros médicos negros do Rio Grande do Sul Dr.Luciano Raul Panatieri (Porto Alegre, 1897 – 1972). Formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre em 1922, é, conforme os registros, o primeiro médico negro formado no Rio Grande do Sul. Trabalhou em Rio Pardo e na capital gaúcha. O interesse pela literatura o levou ao Grêmio Rio-pardense de Letras. Veridiano FariasVeridiano Farias (Rio Grande, 1906 – 1952). Concluiu os estudos secundários aos 36 anos, prestando vestibular para medicina em seguida. Em 1943 foi aprovado, matriculando-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, conseguindo transferência para Porto Alegre logo em seguida. Durante os anos de estudo trabalhou como chofer e motoneiro de bonde. Formou-se em 1951 e iniciou a vida profissional no Hospital Colônia Itapuã. Faleceu pouco tempo depois.

Senegalês não é atendido

Racismo e ignorância Profissionais de saúde racistas, aproveitam a oportunidade do ebola para exercerem sua discriminação a um senegalês que reside há um ano no Brasil. Precisamos urgentemente de profissionais comprometidos com a saúde e não racistas. 15/10/2014 Correio do Povo Geral | Pág. 17 Clipado em 15/10/2014 05:10:49 Senegalês não é atendido Uma auxiliar e uma técnica de enfermagem do Samu de Porto Alegre se negaram a assistir um senegalês de 32 anos por desconfiarem de que estivesse com Ebola. Ele relatava febre e desmaios. O caso teria ocorrido no dia 9. Elas denunciaram a falta de estrutura do município para atender a casos suspeitos de contaminação pelo vírus. As funcionárias se negaram a prestar socorro, alegando não terem recebido treinamento adequado para lidar com esse tipo de situação. O senegalês, por fim, foi auxiliado por uma gerente do Samu, e mais tarde, verificou- se que os sintomas não tinham relação com o Ebola. O secretário municipal da Saúde, Carlos Henrique Casartelli, disse que a suspeita do vírus havia sido descartada antes de serem acionadas as ambulâncias, já que o paciente está no país há mais de um ano. As funcionárias foram consideradas “negligentes” por se deixarem afetar por suspeitas pessoais.

Precisamos falar sobre isto

Estamos enfrentando um grande número de suicídios na adolescência, a juventude negra se vê sem emprego, sem condições de melhoria de vida. As periferias onde habita nossa população vem ficando cada vez mais violenta. O racismo cada dia mostra mais a sua cara. Precisamos enfrentar isso.Dar um basta, senão cada dia aumentarão mais as estatísticas de suicídio dos adolescentes e jovens negros no país. Precisamos falar sobre isto, com certeza, mas principalmente, organizados agir contra isso. Maria Geneci Silveira 10/09/2014 Pioneiro Caxias do Sul-RS Opinião | Pág. 6 Clipado em 10/09/2014 02:57:02 ARTIGO Precisamos falar sobre isto, por Ricardo Nogueira* A sociedade já incorporou eventos de violência como um grave problema a ser enfrentado, elaborando ações e políticas com esse objetivo. O mesmo ainda não aconteceu com o suicídio, que permanece envolto por dificuldades na sua abordagem. O suicídio é usualmente resultante da ação recíproca de fatores biológicos, psicológicos, culturais, sociais, entre outros, que causa grande sofrimento àqueles que se relacionam com a vítima. É difícil explicar por que uma pessoa deseja acabar com sua vida, enquanto outras, em situações similares, não o fazem. Percebe-se que os atos autodestrutivos estão associados com a incapacidade do indivíduo de encontrar alternativas para seus problemas. As taxas de suicídio são três vezes maiores nos homens porque usam métodos mais violentos. Já as mulheres tentam se matar usando métodos menos letais. A incidência de suicídio aumenta com a idade, entretanto, nos últimos 45 anos observa-se uma elevação significativa dos índices em crianças, adolescentes e adultos jovens. No Brasil, há em média 32,3 suicídios/dia, em torno de 11.220 mortes/ano, um aumento de mais de 43% nos últimos 25 anos. O país está entre os 10 com maior número absoluto de casos. O RS está entre os Estados com as taxas mais elevadas e dos 20 municípios brasileiros com mais de 50 mil habitantes e que têm maiores coeficientes de suicídio, 10 são gaúchos. Apesar dos dados, pouco se fala sobre o assunto. De 2000 a 2012, o número de suicídios no RS sempre ficou acima dos mil casos/ano, porém em 2009 e 2010 houve redução de 12% com um trabalho de sensibilização, capacitação e treinamento de equipes de saúde. Cada suicídio afeta de cinco a 10 pessoas, os chamados sobreviventes, e o seu luto é diferente por causa de sentimentos de culpa e impotência. Daí a importância dos grupos oferecendo apoio mútuo. Estudos revelam que o fato de um indivíduo haver tentado uma vez suicídio aumenta muito a chance de nova tentativa, por isso, essas pessoas devem ser o foco das ações de vigilância e prevenção da área da saúde. Para cada suicídio, ocorrem no mínimo 10 tentativas. A situação clama por intervenções multissetoriais na construção de políticas de prevenção e promoção da qualidade de vida de forma integral. *Psiquiatra, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre

Enquanto as pesquisas atrasam, a doença avança

OUTUBRO ROSA 15/10/2014 Zero Hora Sua vida | Pág. 31 Clipado em 15/10/2014 03:10:01 Aproveitando o mês de conscientização sobre o câncer de mama, o Outubro Rosa, pesquisadores do Brest International Group (BIG) se reuniram com investigadores de grupos latino-americanos em Porto Alegre, ao longo dos últimos dias, para discutir preocupante situação que a America Latina têm enfrentado. Ao passo que aumentam os casos de câncer no território, as pesquisas clínicas – estudos para investigar os efeitos clínicos e farmacológicos de uma droga – não avançam na mesma proporção. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 60% dos novos casos de câncer no mundo ocorrem na África, na Ásia, na América do Sul e na América Central. São nessas regiões, também, que as taxas de mortalidade têm aumentado em decorrência da doença. Conforme Martine Piccart-Gebhart, cofundadora do BIG, pesquisas clínicas são fundamentais para o desenvolvimento de novos tratamentos. Mas barreiras burocráticas atrasam o início das investigações. No Brasil, o caso é mais grave: – Somente em 2013, cerca de cem delas deixaram de ser feitas. Mais de 3 mil pessoas poderiam ter se beneficiado desses estudos – alertou Carlos Barrios, diretor-executivo da American Cooperative Oncology Group Latin (Lacog). Entre os fatores responsáveis, o especialista aponta a demora nas liberações a serem concedidas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): – Enquanto nos EUA a média de espera para a aprovação de um novo estudo é de dois a três meses, no Brasil pode levar mais de um ano – explicou.

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO, ANSIEDADE E IDEAÇÃO SUICIDA

Esse importante trabalho vem de encontro às preocupações que o MNU tem com a crescente onda de casos de gravidez na adolescência que atinge as meninas negras, pobres e sem o devida informação. Espero que tenham uma boa leitura. GISLEINE VAZ SCAVACINI DE FREITAS*, NEURY JOSÉ BOTEGA Trabalho realizado no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas Universidade Estadual de Campinas, SP RESUMO  OBJETIVO: Determinar a prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida em adolescentes grávidas e verificar associações entre ideação suicida e variáveis psicossociais. MÉTODOS: A amostra foi composta por 120 adolescentes grávidas (40 de cada trimestre gestacional), de 14-18 anos, atendidas em um serviço público de pré-natal. Utilizaram-se a Entrevista Clínica Estruturada-edição revisada (CIS-R), a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) e a Escala de Ideação Suicida de Beck. A análise estatística utilizou os testes do Qui-quadrado, de Fisher e o teste U de Mann-Whitney. RESULTADOS: Foram encontrados 28 (23,3%) casos de ansiedade, 25 (20,8%) de depressão e 19 (16,7%) de ideação suicida. Não houve diferenças nesses quadros nos trimestres gestacionais. Tentativa de suicídio anterior à gravidez foi relatada por 16 (13,3%) adolescentes. A ideação suicida associou-se com depressão (p = 0,001), ser solteira sem namorado (p = 0,01) e contar com pouco apoio social (p = 0,001). Os casos de ideação suicida apresentaram alta freqüência de falta de concentração, ansiedade, depressão, preocupações, obsessões, idéias depressivas, fadiga, preocupações com o funcionamento do corpo e compulsões. As idéias depressivas foram o sintoma comum para os casos de depressão, de ansiedade, de ideação suicida e de tentativa de suicídio anterior. CONCLUSÕES: O grupo apresentou-se heterogêneo quanto à saúde mental. No entanto, diante da freqüência com que se observam quadros de depressão, ansiedade e ideação suicida em adolescentes, recomenda-se aos profissionais de saúde atenção para detectar a presença de idéias depressivas em adolescentes grávidas. UNITERMOS: Adolescência. Gravidez. Tentativa de suicídio. Depressão. Ansiedade. INTRODUÇÃO A gravidez é a primeira causa de internações (66%) em moças com idade entre 10 e 19 anos na rede SUS. Aproximadamente um quarto do total de partos são em adolescentes de 10 a 19 anos. A segunda causa de internações nessa mesma população corresponde ao grupo de causas externas, entre as quais, a tentativa de suicídio1. Cassorla2, ao realizar em Campinas um estudo clínico-epidemiológico do tipo caso-controle, incluindo 50 casos de tentativa de suicídio em jovens entre 12 e 27 anos, observou que um terço dessas haviam estado grávidas. Sugere que a gravidez seria apenas um evento em uma carreira de vários outros eventos interligados que levariam uma jovem a tentar o suicídio. Essa possibilidade foi reforçada pelos achados de Wagner et al.3 em estudo de caso-controle, envolvendo 1050 escolares com idade entre 12 e 18 anos: no grupo de jovens que haviam tentado suicídio houve relatos de maior atividade sexual, mais namoros, mais parceiros sexuais e gravidezes. A gravidez na adolescência associa-se a um risco suicida elevado, tanto durante a gestação, quanto no pós-parto, paralelamente a uma maior incidência de depressão e a uma percepção negativa da rede de apoio social4. Além disso, são freqüentes os registros de abusos físico e sexual nessa população5, o que se associa com a presença de ideação suicida6, com tentativas de suicídio e com sintomatologia depressiva crônica no primeiro ano após o parto7. Há necessidade de se conhecer melhor como as variáveis acima associam-se nesse contingente populacional, por exemplo: adolescentes grávidas estariam especialmente mais propensas à depressão e à ideação suicida? Esta última, quando presente, estaria associada a quais eventos ou características da história pessoal e das condições de vida dessas jovens? Poucos estudos foram delineados para responder essas questões, e nenhum em nosso meio. O presente estudo teve os objetivos de determinar a prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida em adolescentes grávidas, nos três trimestres da gestação; e de verificar possíveis associações entre ideação suicida e depressão, ansiedade, história de abuso sexual, de agressão física, de tentativa de suicídio anterior, intenção de engravidar, período gestacional, situação conjugal e apoio social. MÉTODOS Trata-se de um inquérito, do tipo transversal, incluindo avaliação clínica, realizado em adolescentes que se encontravam em diferentes períodos gestacionais. Local e Sujeitos Este estudo foi realizado no Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM 2) de Piracicaba, SP. Este programa atende, pelo SUS, todas as grávidas adolescentes do município. Participaram deste estudo 120 adolescentes grávidas (40 no primeiro trimestre gestacional, 40 no segundo e 40 no terceiro trimestre) selecionadas por meio de uma lista de números aleatórios, entre as 329 atendidas no serviço entre outubro de 1999 e fevereiro de 2000. Os critérios de inclusão foram: 14-18 anos de idade, sem filhos, mínimo de cinco anos de escolaridade. Houve apenas uma recusa de participação. Instrumentos A avaliação das adolescentes foi feita de acordo com um protocolo científico específico, altamente estruturado, tendo sido algo paralelo à rotina do atendimento clínico que era oferecido pelo serviço de saúde. A fim de reduzir a subjetividade da avaliação e de aumentar a confiabilidade dos resultados, foram utilizados instrumentos de pesquisa epidemiológica já validados em nosso país: ? Questionário para orientar a anamnese, derivado do "European Parasuicide Standardized Interview Schedule"8, contendo as seguintes seções: dados sociodemográficos, história obstétrica, vida em família e rede de apoio social. A rede de apoio social inclui seis questões, com pontuação final variando de 0 a 6, sobre o apoio que o indivíduo sente que recebe da família, dos amigos, do(a) companheiro(a), sobre religiosidade, facilidade para fazer amigos e o sentimento de ser importante para alguém. ? Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD), instrumento de auto- preenchimento, com 14 questões de tipo múltipla escolha. Compõe-se de duas sub-escalas (pontuação de 0 a 21), uma para ansiedade, outra para depressão. A HAD foi desenvolvida para ser aplicada a pacientes de serviços não-psiquiátricos de hospital geral ou da atenção primária9, já tendo sido validada em nosso meio10. ? Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI), de auto-preenchimento, contendo 21 itens11. A gravidade da ideação suicida é calculada somando os pontos dos primeiros 19 itens. Em nosso meio foi validada por Cunha et al(1997)12. ? Entrevista Clínica Estruturada - edição revisada (CIS-R), que avalia transtornos psiquiátricos não-psicóticos (minor psychiatric disorders). Consta de 14 seções: sintomas somáticos, fadiga, concentração, alterações no sono, irritabilidade, preocupações com o funcionamento corporal, depressão, idéias depressivas, preocupações, ansiedade, fobias, pânico, compulsões e obsessões. A freqüência, a intensidade, a persistência e o grau de incômodo ocasionado pelo sintoma são avaliados13. Ao final, a CIS-R solicita que o investigador estime a gravidade do quadro clínico, o que foi feito separadamente para ansiedade e depressão (0 = ausência de sintomas; 1 = sintomas sub-clínicos; 2 = sintomas leves; 3 = moderados; 4 = graves). Esse instrumento apresentou boa aplicabilidade em um estudo realizado em nosso país14. Procedimento As adolescentes foram abordadas na sala de espera e conduzidas a uma sala separada onde eram explicados os objetivos, a questão do sigilo, e a não obrigatoriedade da participação. As que consentiam, assinavam o termo de consentimento. Quando os pais ou responsáveis não estavam presentes, as autorizações de participação eram entregues para a paciente levar ao responsável para assinar e eram devolvidas na próxima consulta obstétrica. No caso da constatação de transtorno mental significativo, ou de risco de suicídio, a adolescente era encaminhada ao serviço de saúde mental. Análise dos dados Pontuação maior ou igual a 12 nas 14 seções da CIS-R definiram um "caso" de morbidade psiquiátrica, cuja gravidade, na prática, exigiria alguma atenção específica de parte do profissional13,14. A determinação de "casos" de ansiedade/depressão deu-se sempre que os três critérios seguintes fossem preenchidos: (a) pontuação igual ou superior a dois na seção "ansiedade" da CIS-R (no caso de depressão, pontuação igual ou superior a quatro na soma das seções "depressão" e "idéias depressivas"); (b) pontuação igual ou superior a dois na escala de gravidade dos sintomas para ansiedade/depressão; e (c) pontuação igual ou superior a oito nas sub-escalas de ansiedade/depressão da HAD10. Esse procedimento, bem como os pontos de corte utilizados, correspondem aos que foram anteriormente adotados nos estudos de validação10,14. Consideramos como presença de ideação suicida uma resposta afirmativa à questão 4 ou 5 da BSI11. A estimativa de grandeza para a variável apoio social foi dividida em três faixas, a fim de propiciar melhor desempenho estatístico: pequeno apoio social (0 a 2 pontos); médio (3 a 4 pontos); grande (4 a 6 pontos). Os dados foram codificados e inseridos no banco de dados Epi-Info, versão 6.0. Esse banco de dados foi transportado para o programa SAS, versão 6.12, no qual foram feitos testes de associações (Qui-quadrado, Fisher e o teste U de Mann-Whitney). RESULTADOS As principais características sociodemográficas das participantes deste estudo encontram-se na Tabela 1. Trinta e sete por cento haviam deixado a escola há mais de um ano. (Tabela 1). A média de idade do pai do bebê das adolescentes grávidas foi de 21,5 anos (DP = 4,8; variação: 15 - 50 anos). O tempo, em média, do relacionamento das adolescentes com os pais de seus bebês era de 18,5 meses (DP=14,6; variação: 1- 84 meses). A separação dos pais aconteceu na família de 50% das adolescentes, sendo que em 64,4% (n=38) ocorreu antes que as adolescentes tivessem 11 anos. Em 10,2% (n=6) dos casos, os pais nunca moraram juntos. A idade da mãe das adolescentes pesquisadas, em sua primeira gestação, teve como média 18,8 anos e mediana de 19 anos (DP = 3,1; variação: 12  28). O abuso físico foi relatado por 50 (41,6%) adolescentes, tendo sido perpetrado, na maioria das vezes, pelos genitores (pai: 21, mãe: 14, irmãos: 8, avós: 7). Dezenove (15,8%) adolescentes foram vítimas de abuso sexual (agressores: pai (3), padrasto (3), tio (2), avô (1), conhecidos (5), desconhecidos (5). A idade na menarca teve como média=12,2 anos (dp=1,3) e a idade na primeira relação sexual teve média = 14,6 anos (dp=1,6). Das 120 adolescentes, 55 (45,8%) tinham intenção de engravidar. A tentativa de aborto na gravidez atual foi relatada por nove (7,5%) adolescentes, e 10 (8,3%) delas relataram história de aborto anterior. Morbidade psiquiátrica: ansiedade, depressão e ideação suicida Sessenta adolescentes (50%) atingiram na CIS-R nível para suspeição de "caso" de morbidade psiquiátrica não-psicótica. Não houve diferença estatística nas prevalências de ansiedade, depressão e ideação suicida nos três trimestres gestacionais (Tabela 2). Doze adolescentes (10%) tinham ansiedade e depressão concomitantemente. À época deste estudo, 20 (16,7%) adolescentes relataram ideação suicida, oito (40%) também apresentavam ansiedade e depressão, cinco (25%) apresentavam apenas depressão, duas (10%) apresentavam apenas ansiedade. Cinco (25%) já haviam tentado suicídio anteriormente. Apenas cinco (25%) dessas 20 adolescentes não foram consideradas "casos" de ansiedade ou de depressão. Os resultados dos testes de associação entre ideação suicida e demais variáveis encontram-se na Tabela 3. Do total de participantes, 16 (13,3%) haviam tentado o suicídio anteriormente (dois no primeiro trimestre da atual gestação). Foram encaminhadas para um serviço de saúde mental 32 adolescentes (27%). No entanto, verificamos que apenas oito delas (25%) compareceram à consulta marcada. DISCUSSÃO Tanto quanto pudemos apurar, este estudo é, em nosso meio, o primeiro de cunho epidemiológico que fornece dados sobre ansiedade, depressão e ideação suicida em adolescentes grávidas, nos três trimestres gestacionais. Algumas limitações metodológicas devem ser consideradas: não se trata de um corte, mas sim de três amostras transversais, o que restringe extrapolações em termos de um continuum. A ausência de um grupo-controle impossibilita a comparação com adolescentes que não se encontram grávidas. O fato de a população estudada pertencer a um único estrato social também restringe o poder de generalização dos resultados. A utilização, no presente estudo, de vários instrumentos de pesquisa tem sido prática corrente na pesquisa epidemiológica em saúde mental. Isso porque, ao contrário do que ocorre na clínica, onde a experiência e a intuição do profissional são extremamente valorizadas, em pesquisas populacionais procura-se reduzir, por meio de instrumentos estruturados, o grau de subjetividade na coleta e na interpretação dos dados13. A determinação de depressão ou de ideação suicida, por exemplo, aqui não se baseou em apenas um "sim ou não" , porém na exploração das respostas a vários itens de instrumentos de pesquisa conhecidos e amplamente utilizados em epidemiologia psiquiátrica8-14. O fato de a história de abuso sexual e de abuso físico ter sido apurada sem a utilização de um instrumento detalhado, a nosso ver, pode ter conduzido a uma subestimação desses problemas, ainda que a maioria das entrevistadas tivesse parecido à vontade para se abrir a esse respeito. Quase a metade das adolescentes do presente estudo (45,83%) queriam engravidar, como ocorreu em outro estudo nacional, com 384 adolescentes grávidas avaliadas na Santa Casa de São Paulo15. A exemplo do que apuramos aqui, outros estudos também demonstraram que, dentre as adolescentes que desejavam ter o filho e estão casadas ou em união consensual, a maioria demonstra estar feliz, cumprindo o seu papel social16 e, muito provavelmente, realizando um desejo, consciente ou inconsciente, de ser mãe17. Embora muitos autores considerem a ansiedade como um sintoma comum a toda gravidez, nós não encontramos ansiedade em todas as adolescentes grávidas. As prevalências de sintomas de depressão (20,8%), assim como de ansiedade (23,3%), não apresentaram diferenças estatísticas entre os grupos dos três trimestres gestacionais. Embora haja menos casos de ansiedade no segundo trimestre, isso não foi estatisticamente significativo. Estes dados são discordantes dos obtidos por Viçosa18, que em um estudo de observação clínica por 10 anos, encontrou ansiedade mais elevada no primeiro trimestre, devido a preocupações em torno das relações com os pais, e, no terceiro trimestre, o surgimento mais freqüente de quadros depressivos. Lederman et al.19, realizando um estudo prospectivo de 32 primigestas, encontraram maiores níveis de ansiedade também no primeiro trimestre gestacional, com declínio no segundo e novamente um aumento com a proximidade do parto. As distinções entre formas de coletar dados (no caso do presente estudo por meio de instrumentos padronizados), bem como a maneira de interpretá-los, podem, pelo menos em parte, explicar essas discrepâncias. Comparando as prevalências de depressão em adolescentes grávidas com estudos realizados em adolescentes em geral, nossos achados estão acima dos 4,7% encontrados por Kashani et al.20 (n=150, 14 a 16 anos) e acima dos 4,5% encontrado por Serfaty et al.21 em 553 jovens de 18 anos, em Buenos Aires, para depressão maior. Esse último estudo, no entanto, quando adotou um critério mais exigente, considerando apenas os casos de "depressão moderada", mostrou uma porcentagem mais próxima à nossa: 26,6%. Como costuma ocorrer ao se examinar estudos epidemiológicos, esses números devem ser comparados com cuidado, devido aos distintos instrumentos que os autores utilizam, faixas etárias diferentes e, principalmente, critérios de definição de caso. A mesma discrepância relatada acima acontece ao compararmos a prevalência da ideação suicida com outros trabalhos. No presente estudo, a prevalência da ideação suicida (16,7%) está acima dos 4% encontrados por Soares (1994)22 numa população de jovens brasileiros entre 15 e 19 anos. Nesse último estudo, no entanto, o estabelecimento de presença ou ausência de ideação suicida baseou-se tão somente na formulação de uma única pergunta, o que, possivelmente, pode ter subestimado a freqüência de ideação suicida entre as jovens consultadas. Nossos dados estão próximos aos de Gonzalez-Forteza et al.23 que utilizaram, em um estudo transversal, uma escala de ideação suicida com quatro itens em 1712 mulheres adolescentes da Cidade do México: 11,8%. Mas estão abaixo do encontrado por Rey Gex et al.41, que realizaram um estudo transversal numa população de jovens (n= 9268) na Suíça, onde a prevalência de ideação suicida foi de 26%. Koniak-Griffin & Lesser25 observaram, em um estudo do tipo caso-controle, que 18% das adolescentes grávidas e pais adolescentes haviam considerado o suicídio e que 10% já o haviam tentado, número parecido com os 13% de adolescentes, que avaliamos, com história de tentativa pregressa. As adolescentes com ideação suicida (16,7% da amostra) eram predominantemente solteiras e contavam com pouco apoio social. Essas associações corroboram o que outros autores já haviam assinalado24,26,27. Também encontramos associação significativa entre ideação suicida e depressão/ansiedade24,28,29. Com base em nossos achados, concordamos com a revisão de Vásquez & Piñeros4, ao afirmar que a gravidez na adolescência apresenta um risco suicida elevado, tanto durante a gestação, quanto no pós-parto, associando-o a uma maior incidência de depressão e a uma percepção negativa da rede de apoio social. Esse perfil, no entanto, não se aplica a todas as adolescentes grávidas mas, especialmente a um subgrupo, em torno de um quinto do total, que manifesta ansiedade, depressão, ideação suicida e que conta com pouco apoio social. Para tal subgrupo, suas vidas não eram importante para alguém, algumas diziam que sua vida era importante para o futuro bebê. Uma das adolescentes que havia tentado suicídio quatro vezes e sofrido abuso sexual do pai, descreveu essa exclusão ou "falta" de um significado para vida de uma forma bastante clara: "Antes da gravidez eu tinha um buraco em mim, não sabia para onde ir, andava sem rumo, na bagunça. Agora estou cheia, o buraco foi preenchido, e sei que preciso cuidar de meu filho. Fiquei forte, parei com a bagunça, tenho para onde ir, meu filho precisa de mim". Seria esta uma tentativa de formar uma rede de apoio interna, já que a sociedade não ajuda neste sentido? Para Ayres et al.30, a exclusão dos processos comunicacionais, dos espaços institucionais e da cidadania plena seria um potente determinante de vulnerabilidade dos adolescentes aos danos decorrentes do uso de drogas, exposição à Aids e à gravidez precoce. "Eles estariam se arriscando com o necessário (...) restrito a poucas alternativas possíveis. (...) Quando só se pode escolher entre ser feliz correndo risco ou não ser feliz, o que a grande maioria de nós escolheria?". CONCLUSÕES Tendo em vista os objetivos deste estudo, pudemos concluir que as prevalências de depressão, ansiedade e ideação suicida apresentaram-se aproximadamente iguais nos diferentes trimestres gestacionais (Depressão: 27,5; 17,5; 17,5, respectivamente; média = 20,8. Ansiedade: 22,5; 15; 32,5, respectivamente; média = 23,3. Ideação suicida: 20; 15; 15, respectivamente; média = 16,7). A ideação suicida associou-se estatisticamente com a presença de depressão, ansiedade, pouco apoio social e estado civil solteira. Podemos concluir que as adolescentes grávidas apresentaram-se como um grupo heterogêneo: havia as que estavam felizes com sua condição, dizendo que tinham feito de tudo para estarem grávidas. Em outro extremo, havia adolescentes cuja gravidez aparecia como a única esperança em uma vida de muita violência e desespero. Sentiam-se sós, desamparadas, chegando a pensar em suicídio. Esse perfil aplica-se especialmente a um subgrupo, em torno de um quinto do total, que manifesta ansiedade, depressão, ideação suicida e que conta com pouco apoio social. Dessa forma, o atendimento pré-natal de adolescentes grávidas confirma-se como uma excelente oportunidade de se conjugar esforços de diferentes profissionais, a fim de melhorar a detecção e a condição psicossocial dessas gestantes e, conseqüentemente, de seus futuros bebês. SUMMARY Prevalence of depression, anxiety and suicide ideation in pregnant adolescents BACKGROUND: The purpose of this study was to determine the prevalence of depression, anxiety and suicide ideation among pregnant adolescents and verify the relationship between suicide ideation and other variables. METHODS: 120 pregnant adolescents (40 in each gestational trimester) attended at a public health center in Brazil were assessed. The following research instruments were used: the Clinical Interview Schedule (CIS-R), the Hospital Anxiety and Depression scale (HADS) and the Beck's Suicide Ideation Scale (BSI). The Chi-square test, the Fisher´s and the Mann-Whitney U tests were performed. Results: There were 28 cases of anxiety (23.3%), 25 (20.8%) of depression and 20 cases of suicide ideation (16.7%). There was no difference in these prevalences in the gestational trimesters. There was a significant relationship between suicide ideation suicide and depression (p = 0.001), single individuals without boyfriends (p = 0.01) and little social support ( p = 0.001). Cases of suicidal ideation presented a high frequency of lack of concentration, anxiety, depression, preoccupations, obsessions, depressive ideas, tiredness, worries concerning body functions and compulsions. CONCLUSION: The group of pregnant adolescents showed heterogeneous results regarding mental health. The most common symptom of depression, anxiety, ideation suicide and previous suicide attempts were depressive ideas. The health professionals working with pregnant adolescents should observe them carefully, in order to detect the presence of depressive ideas. [Rev Assoc Med Bras 2002; 48(3): 245-9] KEY WORDS: Adolescence. Pregnancy. Suicide attempt. Depression. Anxiety. REFERÊNCIAS 1. Datasus. Banco de dados do Sistema Único de Saúde 1999. Disponível em: http://www.datasus.com.br. [ Links ] 2. 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